Amor, desafios e luto: Confira 5 dicas de livros sobre paternidade
Diferentemente das propagandas que vemos na televisão, o Dia dos Pais, assim como outras datas comemorativas, é uma data que pode trazer muitos sentimentos e emoções mais densas que vão além da alegria de receber um presente.
É um dia especial, claro, para quem pode encontrar o pai e compartilhar um momento feliz. No entanto, há também quem não possa mais dar um abraço no pai ou quem não pode receber o carinho de um filho por motivos variados. Há relações complexas, há pais ou filhos que já partiram... Sabendo disso, o colunista Rodrigo Casarin e as repórteres Fernanda Talarico e Luiza Stevanatto, de Splash, reuniram cinco dicas de livros para o Dia dos Pais que falam de várias nuances da paternidade.
"Pai, Pai", de João Silvério Trevisan (Alfaguara)
Rodrigo Casarin - Um expurgo, um acerto de contas de João Silvério Trevisan com seu pai, homem que parecia desconhecer gestos carinhosos ou afetivos. Um alcoólatra que batia nos filhos e na mulher, levou a família à miséria, mas não aguentava ver aves presas em gaiolas e chorava durante orações. Também uma forma do autor compreender a sua própria formação emocional por meio da escrita.
É duro, cheio de brutalidade, esse relato autobiográfico de Trevisan, autor também de livros como "Devassos no Paraíso" e "Vagas Notícias de Melinha Marchiotti". A recusa em se tornar um homem tão estúpido quanto aqueles machões que o rodeavam na infância marcada pela crueldade é uma das camadas da narrativa. É, ainda, um livro de perdões - e uma das grandes obras de nossa literatura dos últimos anos.
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"Por um fio", de Drauzio Varella (Companhia das Letras)
Fernanda Talarico - Meu pai morreu em 2015, e até hoje é difícil lidar com a perda e, principalmente, o Dia dos Pais. Mas, ao ler "Por um Fio", do Drauzio, posso dizer que me senti acolhida. O livro aborda o luto em quase todas as suas formas. Por meio das diversas histórias, a obra te abraça e mostra que ninguém está sozinho. Em algum momento, todos passaremos por este sentimento, afinal a morte é a única certeza que temos, e "Por Um Fio" é sobre isso. São relatos pessoais e profissionais de Varella que emocionam e, principalmente, dão esperança da dor apaziguar.
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"O que Pesa no Norte", de Tiago Germano (Moinhos)
Rodrigo Casarin - É uma história que se repete muito por aí. Numa família moldada por valores ditos tradicionais, um pai autoritário acaba por não aceitar que seus filhos não sejam uma perfeita reprodução de si mesmo. Quando a corda arrebenta e a cria resolve procurar por seu espaço no mundo, a estrutura familiar mantida com base na truculência desaba.
Há a busca por algum tipo de reconciliação nesse romance de Tiago Germano que chamou a minha atenção no júri do Prêmio Jabuti do ano passado. É Guilherme quem larga a casa na Paraíba e ruma para São Paulo em busca do sonho de brilhar sobre os palcos de teatros. Uma escolha inaceitável para Ricardo, que, no entanto, precisará se confrontar com si mesmo para tentar reencontrar o filho perdido.
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"Não era você que eu esperava", de Fabien Toulmé (Nemo)
Luiza Stevanatto - Essa história em quadrinhos autobiográfica conta a história do encontro do autor com sua filha Julia, que nasceu com Síndrome de Down. Como o título entrega, Toulmé precisa confrontar seus sentimentos quando recebe o diagnóstico. De forma muito sincera, ele não esconde as reações iniciais de tristeza e apatia, nem mesmo os preconceitos que tinha em relação à condição. É um retrato honesto do desafio que o francês atravessou ao lado da mulher, a brasileira Patricia.
No começo do livro, pode ser desconfortável entrar na mente desse pai em um momento tão conturbado. Mas bonito mesmo é ver como ele, aos poucos, digere aquilo, vai atrás de dar a melhor vida possível para Julia e aprende a cuidar dela e amá-la mesmo ela não sendo exatamente quem ele esperava. Pode ser uma leitura valiosa para pais que também lidam com a Síndrome de Down, mas também é uma lição de como amar e apreciar seus filhos, mesmo que eles não sejam do jeito que você esperava.
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"Quando as Árvores Morrem", de Tatiana Lazzarotto (Claraboia)
Rodrigo Casarin - O personagem central nesse romance é um achado: um homem que durante o ano passava por um longo processo de metamorfose para, em dezembro, ter os seus dias de brilho. Não é qualquer pessoa que, como a protagonista deste livro de estreia de Tatiana Lazzarotto, convive com um legítimo papai noel em casa.
É uma obra bonita, sensível e triste essa "Quando as Árvores Morrem". A imagem alegre do bom velhinho contrasta com a perda, com a morte desse sujeito que tinha a capacidade de encantar. O luto, as lembranças da filha e o que ficou da vida do pai se misturam ao longo das páginas enquanto a metáfora com as diferentes partes e momentos de uma árvore permeia todo o livro.
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