Vítima de pedófilo, ela achava que havia sido sequestrada por aliens

A minissérie "A Friend of The Family" chega hoje ao Universal+ e conta a história real da família Borberg, que teve a filha Jan sequestrada por um amigo.

O que aconteceu

Jan Broberg foi sequestrada na própria casa em Idaho, nos EUA, em 1974, por Robert Berchtold, que abusou dela por anos e chantageou a família.

Berchtold era um amigo da família Broberg. Frequentava regularmente a igreja e era respeitado na comunidade.

Os pais chamaram a polícia no dia em que ela foi andar a cavalo, mas não voltou para casa. "Mas não passou pela cabeça deles que se tratava de um sequestro ou um desaparecimento. Acreditavam que poderia ter havido um acidente", diz.

O pesadelo de Jan começou quando ela tinha 12 anos. Ela acordou no motorhome de Berchtold, com os pés e mãos amarradas a uma cama, enquanto escutava uma gravação que lhe dava ordens diretas.

Ela acreditou se tratar de alienígenas. "Pensei que tinha sido sequestrada por extraterrestres. Foi a coisa mais assustadora que já me aconteceu. Estava aterrorizada por essa voz e o que dizia essa voz", disse em uma entrevista à BBC Radio 5 Live. As gravações que escutou ao abrir os olhos diziam que os extraterrestres haviam tomado conta de tudo.

A mensagem dizia: 'vá até a frente do motorhome e conhecerá seu companheiro'. Nas fitas, me chamavam o tempo todo de 'a companheira'. Me levanto e quem está deitado no pequeno sofá? Robert Berchtold.
Jan à BBC

Berchtold usou essa história para controlar Jan durante quatro anos. "Literalmente fiz tudo o que [os extraterrestres] me disseram para fazer, porque ameaçaram levar minha irmã caçula se não cumprisse a missão." Além de sequestrada, ela foi estuprada pelo homem.

Jan e Berchtold foram localizados pelo FBI cinco semanas após terem sumido. Jan estava assustada demais para contar o que os extraterrestres estavam falando para ela e também para revelar os abusos aos quais era submetida. Berchtold ficou apenas alguns dias preso pelo sequestro de Jan.

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Jan Broberg em cena do documentário 'Sequestrada à Luz do Dia'
Jan Broberg em cena do documentário 'Sequestrada à Luz do Dia' Imagem: Divulgação

Meses antes do sequestro, o amigo da família havia convencido tanto a mãe quanto o pai de Jan a ter relações sexuais com ele, sem que o casal soubesse um do outro. Isso foi usado para chantageá-los e conseguir declarações de que deram autorização para levar a garota ao México.

Berchtold voltou à vizinhança e continuou se encontrando e controlando Jan. Os abusos e a história alienígena se transformaram em parte da vida da garota até o dia em que foi a um acampamento de verão, quando estava prestes a completar 16 anos.

Ela evitava se relacionar com outros meninos. "Basicamente era uma das muitas regras que tinha de seguir. Regras que os ETs me impuseram. Não podia me relacionar com outros meninos, senão minha família morreria." Quando um menino a convidou para tomar um sorvete, ela entrou em pânico e ligou para casa. Todo mundo estava bem. "Foi o suficiente para começar a perceber o que estava acontecendo", afirma.

Nos meses seguintes, ela testou outras pequenas coisas como, por exemplo, falar com outro menino na escola e aceitar um convite para uma festa. "Se voltasse para casa e meu pai não estivesse morto, se minha irmã não tivesse sido sequestrada nem estivesse desaparecida, se minha outra irmã não estivesse cega e minha mãe e eu não tivéssemos evaporado, então [a ameaça] não era real", conta. "E foi isso que aconteceu."

Jan finalmente se sentiu capaz de contar à família o que estava acontecendo. Revelou como um homem que a família pensou ser um grande amigo havia feito uma lavagem cerebral para estuprá-la por vários anos. "Não pude falar de forma definitiva e explícita sobre o abuso sexual. Foi muito difícil para mim fazê-lo", conta.

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Berchtold desapareceu por quase trinta anos, mas voltou em 2004 a assediar Jan, aparecendo em eventos em que ela estava. Ela registrou queixa contra ele e enfrentou o homem que abusou dela no tribunal.

Robert Berchtold cometeu suicídio em 2005.

Jan é produtora de "A Friend of The Family" e também atua na série como terapeuta de sua personagem. Um documentário sobre o caso foi lançado pela Netflix: "Sequestrada à Luz do Dia".

*Com informações da BBC

Denuncie

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Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 180 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — a Central de Atendimento à Mulher, que funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O serviço recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. O contato também pode ser feito pelo WhatsApp no número (61) 99656-5008.

A denúncia também pode ser feita pelo Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e a página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.

Caso esteja se sentindo em risco, a vítima pode solicitar uma medida protetiva de urgência.

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