Dicas musicais do influencer Barack Obama têm Beyoncé, Charli XCX e Eilish

A fama de intelectual de Obama pode estar mais representada na lista de livros, mas nas canções ele é capaz de escolher coisas bem rasas como o revisitado gangsta rap de Tommy Richman em "Million Dollar Baby" ou a medíocre "Bad Boy", com o combo porto-riquenho formado por Chris Jedi, Gaby Music e Dei V.

Mas um lado sofisticado aparece em escolhas como "Don't Cry Baby", versão registrada por Etta James em 1961 para esta canção originalmente gravada por Bessie Smith em 1929. Ou "Where Did Our Love Go", que em 1964 foi a estreia no topo da parada americana do trio vocal The Supremes, que tinha uma jovenzinha Diana Ross. Um resgate singular é "Silvio", a única canção que os críticos salvaram no péssimo álbum que Bob Dylan gravou em 1988, "Down in the Groove".

Surpresas? O cantor e compositor argentino Calimossa e a portuguesa Carminho, bem conhecida dos brasileiros. A escolha da fadista tem explicação fácil: "O Quarto" é a música que ela canta com Emma Stone no filme "Pobres Criaturas", e certamente o ex-presidente cinéfilo assistiu. Mas Calimossa, radicado nos EUA, é injustificável. Obama precisa urgentemente de um bom assessor em som latino.

A lista não foge de grandes nomes. Traz faixas recentes de Beyoncé, Billie Eilish, Bad Bunny e Charli XCX. E é grande o número de cantoras jovens, como as inglesas ENNY, Cleo Sol e Hope Tala, a americana GloRilla e a nigeriana Tems. Há espaço também para monstros incontestáveis do jazz, o saxofonista Pharoah Sanders e o contrabaixista Charlie Mingus. Entre esses dois pode caber Sting, já que a escolha da uma canção dele foi para "If You Love Somebody Set Them Free", de sua fase jazzística nos anos 1980, logo após o término do Police.

Veja as listas postadas no X por Barack Obama

Por fim, duas pérolas para roqueiros: uma gravação de Keith Richards ao lado de um de seus ídolos, o bluesman Hubert Sumlin, em 2004, e a presença mais do que inusitada do britânico Nick Drake, cultuado cantor folk que morreu em 1974, aos 26 anos. Autor de letras melancólicas que influenciam gerações até hoje, ele deixou apenas três discos, e Obama escolheu "One of These Things First", do segundo álbum, "Bryter Layter". É o momento "lado B" da lista.

Para ler

Nas indicações de livros, com 14 títulos, todos ainda inéditos no Brasil, é mais fácil mapear os hábitos de leitura de Obama. As editoras esperam com ansiedade a divulgação dos favoritos do ex-presidente. Segundo levantamento da revista "Publishers Weekly", estar na relação pode aumentar em até 250% a venda de um título nas livrarias americanas.

Neste ano, há menos afro-americanos do que em listas anteriores, mas dois deles são, sem a menor dúvida, as estrelas da turma. Percival Everett é o best-seller da lista. Escritor negro de 67 anos, com 24 romances publicados, Everett lançou "James" em 2024. Ele reconta a ação do clássico de Mark Twain, "As Aventuras de Huckleberry Finn" (1884), mas desloca o foco para o companheiro de viagem do protagonista: Jim, que é um escravo em fuga.

Já Hanif Abdurraqib, 40, é o pensador afro-americano que mais ganhou relevância nos EUA nos últimos anos. Poeta de sucesso e crítico de música, é como ensaísta que faz mais barulho. Foca na cultura negra e no pertencimento em discussões com apelo pop, falando de hip-hop, de cinema e, no livro indicado por Obama, de basquete. Ele dedica boa parte de "There's Always This Year: On Basketball and Ascension" ao fenômeno LeBron James, um dos melhores da história da NBA.

Um esperado lado de análises políticas nas indicações é contemplado com Jonathan Blitzer, jornalista da revista "The New Yorker" que escreveu um livro sobre os métodos de imigração legal na fronteira americana com o México, e com John Ganz, autor que fala da ação da política externa americana na última década do século 20. Ainda em não ficção, o inglês Richard Reeves analisa como o avanço das conquistas das mulheres afeta o mercado de trabalho para os homens e a educação acadêmica para os meninos.

Hampton Sides narra, em ritmo de romance de aventura, a última viagem do britânico James Cook, considerado o maior navegador do século 18. Já Adelle Waldman, autora do best-seller "Os Casos de Amor de Nathaniel P.", lançou em 2024 "Help Wanted", livro cômico sobre o trabalho no mundo moderno. Ela trabalhou por meses em lojas para preparar o livro.

A lista de Obama se completa com ficção. Marylinne Robinson, vencedora do Prêmio Pulitzer com "Gilead", publicado no Brasil, faz agora uma releitura do livro do "Gênesis" com elementos ficcionais. "Headshot", de Rita Bullwinkel, outra dica de Obama, foi indicado ao Pulitzer deste ano. Fala sobre um grupo de meninas adolescentes que iniciam carreira no boxe. Liz Moore escreveu "The God of the Woods", thriller ambientado em 1975 sobre o desaparecimento de uma garota de 13 anos num acampamento de verão. "Memory Piece" é o segundo livro de Lisa Ko, autora que já tem uma indicação ao National Book Award.

Fecham a relação dois novatos nas prateleiras: o livro de contos "Beautiful Days" é o primeiro trabalho de ficção de Zach Williams, editor da "New Yorker", e "The Ministry of Time" é o romance de estreia de Kaliane Bradley, ex-redatora da revista literária "Granta". A obra é uma aventura sobre viagens no tempo.

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