Psicodélico e afrofuturista: Jonathan Ferr leva urban jazz ao Rock in Rio

A mistura psicodélica de jazz, neo soul, hip hop, R&B e música eletrônica é a receita do urban jazz de Jonathan Ferr. O pianista, cria de Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro, aposta nas suas vivências e no discurso afrofuturista para o seu som. O músico está pronto para o seu segundo Rock in Rio, onde se apresenta no dia 21 de setembro, no palco Global Village, e também para ser o único a representar o Brasil no festival Womex, importante feira de negócios de música em Manchester, na Inglaterra, em outubro.

"Eu trago referências urbanas para o meu som. Sempre fui um jazzista que andou com MCs e com beatmakers. Não sou o cara que foi estudar piano em Nova York aos 15 anos, mas assumo o espaço que eu tenho e que outros não têm. Eles não frequentaram o baile charme ou jongo, como eu sempre frequentei. Para onde eu vou, Madureira vai comigo", contou Ferr em conversa com Splash.

Aos 18 anos eu conheci o jazz com John Coltrane e o hip hop através de Racionais MC's e MV Bill. O jazz me emancipou artisticamente, e o hip hop, politicamente. Além de me colocarem no lugar de homem preto que narra sua própria história e é agente da sua arte. Jonathan Ferr, pianista

Quebrando estereótipos que o jazz carrega, Ferr acaba integrando um movimento de popularização da música instrumental. No álbum "A Cura", trouxe a sua versão para o "Sino da Igrejinha", ponto conhecido nos terreiros de umbanda e nas rodas de samba.

Assista ao vídeo de 'Sino da Igrejinha', tocada no piano por Ferr

Recentemente, apresentou show em homenagem a Djavan e prepara um EP com versões da banda Charlie Brown JR. Com a proposta de 'samplear' a si mesmo, o músico lançou no ano passado o álbum "Liberdade", com participações de Luedji Luna, Rashid e Kaê Guajajara. Toda essa mistura estará presente no palco do Rock in Rio e da Womex.

Como tudo começou

Ferr começou a estudar música aos 9 anos de idade. Influenciado pelo programa de TV com o pianista Pedrinho Mattar que assistia com os pais. Ao ganhar seu primeiro teclado, ele se encantou de vez pela música. Como seus pais não podiam arcar com os custos das aulas, ainda menino começou a trabalhar vendendo jornal e cloro para pagar as aulas de piano até conseguir uma bolsa.

Continua após a publicidade

"Desde o momento que eu comecei a estudar piano sabia que aquilo ali seria a minha vida. Aos 15, comecei a tocar profissionalmente em bares, com grupos de pagode, e em shows gospel. Aos 18, 19 anos foi quando comecei a viver de música mesmo."

Hoje, com os rumos da carreira, Ferr acredita honrar a criança que sonhou ser pianista: "Se essa criança acreditou. Eu também tenho que acreditar. Em meio às dificuldades, essa criança deu espaço para a beleza acontecer na minha vida. Só estou aqui hoje porque um dia aceitei o piano. O piano me salvou".

Rock in Rio

Headliner na estreia do Palco Favela em 2019, Jonathan Ferr também inaugura um novo espaço nos 40 anos de Rock in Rio em 2024. O músico se apresenta no Global Village. Criado neste ano com a proposta de celebrar a diversidade musical, o público encontrará representações da gastronomia, arquitetura e música de diferentes países.

Jonathan Ferr e o olhar de quem vai fazer um grande show no Rock in Rio 2024
Jonathan Ferr e o olhar de quem vai fazer um grande show no Rock in Rio 2024 Imagem: Renan Oliveira/Divulgação

Existe toda uma força que o Rock in Rio traz. Estar na celebração de 40 anos do festival é como celebrar a vida. É me celebrar e celebrar todos os outros artistas que fazem parte dele. Eu estive na Cidade do Rock dando uma olhada. Acho que esse palco será um dos pontos altos do festival. Eu vou tocar na mesma noite que o Leo Gandelman. Ele é um cara que popularizou a música instrumental no Brasil. Jonathan Ferr

Continua após a publicidade

A apresentação acontece no dia 21 de setembro, o "Dia Brasil", com atrações exclusivamente nacionais em um dia de homenagens à música brasileira. No line-up da celebração do jazz no Global Village, além de Ferr e Gandelman, também estão Antônio Adolfo e Joabe Reis.

"Vou fazer as coisas que eu gosto de fazer usando piano, misturando jazz, hip hop, new soul. As pessoas vão ver coisas do meu repertório, mas ainda está no âmbito da surpresa. Eu estou preparando um repertório muito potente", adiantou a Splash.

Ouça o álbum 'Liberdade', de Jonathan Ferr

Carreira internacional

Participar da Womex é um passo importante para a carreira internacional de Jonathan Feer, já que se trata de uma grande vitrine com artistas, empresários e produtores do mundo todo. Após sua turnê pela Europa, no último ano, o músico se increveu no edital para se apresentar no festival que acontece concomitante à Feira de Negócios. Entre os 26 selecionados, o pianista é o único artista brasileiro na edição 2024.

Continua após a publicidade

"Durante os shows na Europa, fiquei impressionado com a rapidez com que as pessoas absorveram a minha música e todos os signos e referências que uso. Foi instantâneo. Estou preparando um show diferente, com coisas novas, além do que já apresentei no show com que venho circulando pelo Brasil. Estamos muito animados. Tem gente que divide a carreira em antes e depois da apresentação na Womex", contou.

O visual afrofuturista do pianista de jazz Jonathan Ferr, que se apresenta no Rock in Rio 2024
O visual afrofuturista do pianista de jazz Jonathan Ferr, que se apresenta no Rock in Rio 2024 Imagem: Renan Oliveira/Divulgação

Estar em espaços como a Womex e o Rock in Rio é como a realização de sonhos para o artista.

Quando me imaginei artista de jazz, ouvi que iria passar fome. Mas minha teimosia taurina me fez seguir. Minha música foi muito criticada por ser a mistura de muitas coisas. Hoje, ver que ela ocupa esses espaços, enche de orgulho aquele Jonathan que não olhou para trás. Jonathan Ferr

Antes dos festivais, é possível assistir ao pianista na Cidade das Artes - RJ com a Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem. O show, que acontece em 6 de setembro, trará releituras do álbum "A Cura" e homenagens a artistas como Os Tincoãs.

Rock in Rio - Dia Brasil

Quando: sábado, 21/9, a partir das 14h
Onde: Cidade do Rock (av. Salvador Allende, 6.500, Barra da Tijuca)
Quanto: R$ 397,50 (meia-entrada); R$ 675,75 (benefício Itaú 15%) e R$ 795,00 (inteira)
Classificação: 16 anos
Ingressos à venda pelo site da Ticketmaster.

Deixe seu comentário

Só para assinantes