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Qual é o futuro do SBT sem Silvio Santos?

Por mais que as seis filhas de Silvio Santos, que morreu neste sábado, aos 93 anos, tenham tido tempo e oportunidade de se prepararem para comandar o grande império erguido pelo empresário, sobra a elas a onipotência com que o pai sempre conduziu o SBT e falta-lhes justamente o maior ativo dele: carisma. O poder de persuasão de Senor Abravanel, exímio vendedor desde a adolescência, o livrou de arcar com o ônus dos erros cometidos ao longo da vida.

Não houve problema que o homem-sorriso não tenha contornado por meio de sua oratória e talento em se comunicar, predicados que não se transferiram para a prole. Esse é um ponto que já vinha pesando nos negócios do grupo mesmo antes da morte do homem do baú, afastado das decisões do SBT e do foco das câmeras desde o segundo semestre de 2022.

Ao contrário de Roberto Marinho, responsável pela fundação da TV Globo, Silvio nunca foi de delegar poder a ponto de dar autonomia suficiente a seus auxiliares mais próximos e mesmo aos diretores de núcleo no SBT. Atual vice-presidente do SBT, Daniela Beyruti tem adotado tática similar, dispensando antigos fiéis escudeiros do pai que apontam contrariedades às decisões da chefa.

Não tem sido diferente do que o próprio Silvio fez com Luciano Callegari, seu braço direito desde os idos da Caravana do Peru Que Fala e dos primórdios do Programa Silvio Santos, ainda na TV Paulista, canal 5 de São Paulo. No final dos anos 1990, Callegari deixou o SBT, após enfrentar uma série de desgastes com o patrão, que tampouco gostava de ser contrariado.

Silvio sempre foi conhecido por alterar a programação do canal como quem muda de roupa, por meio de telefonemas a qualquer hora do dia ou da noite e sem se importar com a insegurança que tal instabilidade poderia gerar em quem paga a conta - no caso, os anunciantes.

Além da capacidade que Senor Abravanel tinha de contornar os danos causados por sua impulsividade, nem o seu poder de persuasão funcionaria no cenário atual. Já não funciona mais aquele modelo que permitiu o crescimento do SBT e a conquista da vice-liderança de audiência - perdida para a Record ainda com Silvio à frente da emissora.

Na era do streaming e da fragmentação da atenção do público entre tantas telas, os erros são infinitamente mais onerosos ao caixa da firma e podem ser fatais para a saúde financeira do grupo, que sabidamente não vai bem.

Faz pelo menos duas décadas que se discute o que será do SBT sem Silvio Santos, uma figura da qual a programação da casa sempre foi altamente dependente. Na era em que Gugu Liberato reinava aos domingos, muito se falou dele como sucessor do patrão, algo que gerava certo ciúme no próprio Silvio. Mas esse plano foi abortado com saída de Gugu para a Record e, mais tarde, pela própria partida precoce do loiro.

Celso Portiolli também fica com uma fatia do bolo, mas Patrícia Abravanel, a filha número 3, se colocou fisicamente no trono artístico do pai ao assumir o Programa Silvio Santos. Em 2023, ela conduziu os 60 anos da atração, tendo a mãe, Iris Abravanel, e todas as irmãs na fila do gargarejo, como se tivesse a bênção do clã. Já o pai não gravou nem sequer um depoimento em vídeo para a ocasião, o que gerou a suspeita de que não estivesse mais em condição de falar.

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Nem Patrícia nem Rebeca nem Silvia herdaram o talento do pai, o maior comunicador que o Brasil conheceu. O herdeiro mais bem-sucedido na seara artística é o neto, Tiago, filho da primogênita Cyntia, que administrou com êxito o Teatro Imprensa, que foi de propriedade do grupo.

O caso é que nem os apresentadores de TV concentram hoje todo o capital artístico que permitiu a Silvio Santos ser quem foi e, por consequência, construir uma rede como o SBT. A multiplicidade de telas conspira a favor de uma segmentação que ele, comunicador de massa, não teve de enfrentar.

Por mais que se admita a necessidade de a televisão aberta lidar com uma competição maior, de modo geral, o SBT viverá nesse contexto sem o seu maior ativo.

Silvio era tão hábil no poder de persuasão que driblou com maestria os questionamentos sobre o rombo de R$ 4,3 bilhões revelado em 2010 na contabilidade de seu banco, o Panamericano. Quatro anos depois, em depoimento à Justiça Federal, disse que não entendia nada de banco e que seu negócio era animar auditório. Provocou risos na corte. Na saída da audiência, disse a repórteres que não era da polícia para saber o que gerou a fraude contábil. Acharam graça na resposta.

Como diz o jornalista Jotabê Medeiros, Silvio Santos venderia geladeiras até no Polo Norte, tamanho era seu talento como vendedor. Foi essencialmente essa alma de camelô bem sucedido que lhe abriu todas as portas, da habilidade em negociar à maestria de se comunicar.

Com todas as graduações acadêmicas que Daniela Beyruti e a caçula Renata Abravanel, vice-presidente do Grupo Silvio Santos, tenham concluído na área de administração, pesa sobre elas o modo passional com que Senor Abravanel sempre conduziu sua indústria de entretenimento, sem as habilidades dele.

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Por mais que Silvio estivesse ausente nos últimos dois anos, a partida do patriarca também deve corroborar o fim da era laica no conteúdo do SBT. Judeu, Silvio convivia bem com todas as manifestações religiosas, sem jamais ceder às insistentes propostas de igrejas pentecostais para sublocar horários na programação da emissora.

Senor Abravanel não misturava religião e negócios. Recentemente, já na gestão de Daniela, alguns veteranos da emissora se sentiram constrangidos com palestras contratadas por Daniela Beyrutti para funcionários do SBT, com discurso evangélico.

O destino do SBT a Deus pertence.

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