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Sem espaço para críticas, cobertura da TV reverencia Silvio Santos

"No duro? Eu não mereço tudo isso! Ah, não, há-haiiii!"

Assim diria Silvio Santos se pudesse ver o pacote de homenagens que lhe foram prestadas por sua maior concorrente ao longo da vida, a "Rede Globo de Televisão", como ele gostava de se referir à emissora fundada por Roberto Marinho.

Apesar de todo o respeito com que Silvio sempre tratou a adversária, não foram poucas as ocasiões em que as duas empresas trocaram farpas na esfera pública, da clonagem do Big Brother, — cujo formato Silvio sugou, adaptou e lançou antes da Globo, que pagou pelo original—, à criação do Alfonsímetro, aparelho que ele patrocinou para a criação de um instituto de pesquisas que pudesse contestar os dados do então Ibope.

Insustentável economicamente, o negócio logo naufragou, mas por várias ocasiões ao longo da vida, Silvio colocou em dúvida os índices de audiência atribuídos à emissora, que até uma década atrás foi vice-líder absoluta no ranking da televisão brasileira. A posição foi perdida para a Record nos últimos anos.

Fato é que Silvio Santos dominou o noticiário do Jornal Nacional em duas ocasiões ao longo de sua existência: neste sábado, dia de sua morte, e quando heroicamente se libertou de Fernando Dutra Pinto, o sequestrador de sua filha Patrícia Abravanel, que o fez refém dentro da casa da família, no bairro paulistano do Morumbi.

"Os mais inventivos roteiristas de cinema, os mais criativos autores de romances policias se surpreenderam com os fatos registrados em São Paulo", disse William Bonner na abertura da edição do JN daquele dia 30 de agosto de 2001, disponível no YouTube.

Neste sábado de luto, o JN não economizou em bordões e adjetivos positivos para anunciar o fato do dia. A edição privilegiou as irresistíveis cenas do animador diante das câmeras, suas micagens, tombos e conversas com as colegas de trabalho regadas à inconfundível gargalhada. Tudo endossado por quem conviveu ou não com o Homem do Baú. Tratamento especial tiveram Angélica e Luciano Huck, que até se sentaram na bancada do JN, ao lado de Cesar Tralli e Renata Vasconcellos.

O SBT demorou a noticiar a morte de seu criador, mas manteve a programação ao vivo para homenageá-lo ao longo de todo o fim de semana. Entre os canais de TV abertos, a Globo foi, após o SBT, a emissora que mais tempo e adjetivos dedicou à despedida.

Na TV Cultura, além da cobertura em tom solene, uma vinheta com imagem do icônico microfone, sob os acordes do Programa Silvio Santos, permeou a programação. Record, Band e RedeTV! mudaram as edições de seus telejornais a toque de caixa e convocaram parte dos profissionais que estavam de folga no fim de semana.

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De modo geral, a TV enalteceu a extensa obra de Senor Abravanel, como tem de ser feito, mas evitou críticas que caberiam ao personagem e à sua trajetória. Em geral, obituários na TV prezam mais pelo espetáculo mesmo. Não foi diferente na morte de Gugu Liberato ou Hebe Camargo, por exemplo, mas convém notar como, neste caso, o viés se enquadra perfeitamente no conceito de uma televisão que ele ajudou a construir.

No SBT, outro César -o Filho-, enalteceu a figura do patrão e se manteve firme no plantão ao vivo da noite de sábado, até que fosse reprisado o documentário dirigido por Leonor Corrêa por ocasião de seus 85 anos.

Feito sob a bênção da família Abravanel para os 85 anos do patrão, o programa não escapa da condição de chapa-branca ao dispensar críticas a Senor Abravanel, mas é a melhor síntese de sua obra, com relatos de figuras que testemunharam sua história por ângulos diversos, como Boris Casoy, Fausto Silva, Marília Gabriela e Décio Piccinini - só para citar alguns dos nomes ausentes ou pouco ouvidos na cobertura deste sábado.

O próprio Silvio considerava muito cabotino colocar no ar em sua TV um documentário em sua homenagem, e a princípio restringiu à família a exibição do programa. Apenas por ocasião dos 90 anos, por insistência das filhas, autorizou a veiculação no SBT.

Enquanto o SBT reprisava a edição, a Globo escalou, para o horário, um Globo Repórter inédito sobre Silvio Santos, seguido pelo Altas Horas, de Serginho Groisman.

Rico em detalhes de produção e com direito a viagem a Londres, onde Sandra Annenberg conversou com o Pablo original do Qual é a Música, o programa estava pronto para ir ao ar, o que a apresentadora justificou como iniciativa de uma edição que vinha sendo preparada para o próximo aniversário de Silvio, em dezembro.

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Para noite deste domingo, o SBT anuncia um documentário inédito de seu fundador, "Silvio Santos: Vale Mais do que Dinheiro", a partir das 19h30, horário em que há anos é exibido o Programa Silvio Santos. O material é parte da sério produzida para o novo serviço de streaming do grupo, + SBT, composto por sete episódios.

Na Globo, Luciano Huck, que já tinha gravado seu Domingão, volta aos estúdios para uma edição especialmente dedicada a Silvio, o rei dos domingos e, afinal, referência máxima em programas de auditório. A seguir, o Fantástico volta a dedicar espaço à despedida do Homem do Baú.

Sem helicópteros no enterro

Apesar da frustração de tantos fãs e amigos que gostariam de se despedir de Silvio Santos em um possível funeral, público e jornalistas presentes na porta do Cemitério Israelita do Butantã mantiveram tom respeitoso com surpreendente silêncio no local.

No SBT, a ordem para a cobertura do sepultamento era pela discrição, sem ultrapassar a porta do cemitério e o espaço reservado aos demais veículos. Embora o uso de helicóptero pela emissora tenha sido descartado desde o início do planejamento para registrar a ocasião, havia uma insegurança sobre o que fariam se outros canais de TV sobrevoassem o cemitério para captar imagens da cerimônia, o que, felizmente, acabou não ocorrendo.

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