Em novo álbum, Liniker rejeita frieza e quer ser amada: 'Sou humana'

Acompanhada de um time estrelado de parceiros, Liniker lança nesta segunda-feira (19) seu segundo álbum solo, "Caju". A cantora entra em uma fase mais pop com um álbum de exploração de gêneros, do pagode, passando pelo disco, jazz e até a eletrônica.

Em entrevista exclusiva para Splash, a cantora fala ainda de um dos temas que atravessa o álbum: ser vista como humana, mesmo sendo famosa, e ter reconhecida a necessidade de receber afeto.

Tem uma frieza, mesmo, que tenho enfrentado na minha vida pessoal com alguns afetos. Quis falar disso de uma forma muito aberta, jogando no ventilador. Estou cansada de ficar nessa coisa reducionista. Quero ser amada. Eu quero trocar, ter uma vida legal. Curtir como todo mundo curte, ter date. O fato de eu ser a Liniker não me possibilita isso.

A dificuldade de Liniker de se relacionar após a fama está presente na faixa-título e "Popstar", por exemplo. "É muito difícil [se relacionar], porque a partir do momento que você está no holofote, parece que você perde a legitimidade de ser amado humanamente. É como se você tivesse tudo. Por que o amor? Por que precisa de amor?".

Ela diz que quer ser vista como humana não só pelos pretendentes, mas também pelos fãs. "[O assédio] aumentou, sem dúvida. Toda vez que eu tenho a oportunidade de lidar com o público, busco trazer que eu sou humana."

Existe, obviamente, uma figura pública que tem um distanciamento ali dentro do que é a realidade de muitas pessoas. Mas eu sou humana, eu sou um CPF que sente, que tem bons dias, que tem maus dias. Que está vivendo a vida. Tratar o meu público de forma humana também me coloca num lugar de que eu não quero me prender. Eu não cheguei até agora para ficar numa caixinha.

Mais solar e leve que o pós-pandêmico "Indigo Borboleta Anil", "Caju" é um reflexo do estado de espírito da artista. Liniker diz que o primeiro álbum "a colocou de pé", enquanto o segundo permite que ela corra e tenha movimento. "'Caju' reflete muito o meu momento de agora, as coisas que eu tenho vivido, os sentimentos que tenho sentido. Estou muito mais aberta e muito mais porosa."

A vitória de "Indigo" no Grammy Latino trouxe pressão, mas a ansiedade por um novo prêmio não foi o motor de produção do novo disco. O disco de estreia solo da cantora levou o prêmio de melhor álbum de música popular brasileira em 2022. "A pressão obviamente existe. Mas o ponto primordial desse álbum é que eu me divirto. Não queria criar quase uma rivalidade entre um disco e outro. [...] Se vier [um novo Grammy], vai ser lindo. Sou aberta e receptiva a isso, jogo essa energia para o universo. Mas não fiz nessa expectativa. A maior vitória desse disco, para mim, é a existência dele."

"Caju" chega com um time de peso e entrega parcerias com Pabllo Vittar, Lulu Santos, Anavitória e Tropkillaz. Há ainda a participação de Melly, Priscila Senna, BaianaSystem e do pianista Amaro Freitas. "Queria muito trocar com a minha cena e reverenciar outras, como o Lulu. Queria um álbum gostoso e divertido. Além da minha admiração pelo trabalho dessas pessoas, há uma admiração delas pelo meu trabalho também. Foi um processo muito orgânico e muito fluido."

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Experimentando novos gêneros em seu catálogo, Liniker quis "brincar conscientemente" enquanto fazia uma pesquisa de ritmos brasileiros. "Tudo que é pop, mas que não recebe o [nome] de pop, só por ir pela contracorrente do que se espera dentro da indústria."

São ritmos que eu ouço, que eu consumo, que fazem parte da minha vida. Mesmo não sendo oriundos da região onde nasci, são músicas que sempre consumi por crescer num bairro de periferia, onde tem pessoas do Brasil inteiro. [...] Tudo que ouço e que fiz nesse disco faz parte da minha história.

Trazendo um som mais pop no novo álbum, Liniker diz que é uma popstar desde o início da carreira, apesar de ter sido colocada muitas vezes na "caixinha" da MPB. "Tenho sido uma popstar dentro da música popular brasileira e dentro de uma categoria que ainda não era categorizada como pop. Mas meu trabalho tem um apelo popular muito grande desde o começo. Só estou me validando mesmo e não esperando ninguém me validar para isso. Estou dando o mesmo aval para minha popstar que sempre existiu, mas sem esperar que ninguém valide isso."

O pagode é pop, o brega é pop, o pagodão baiano é pop, o rap é pop. E é tudo brasileiro também. Por que isso não tem esse selo pop? Também é uma honra fazer parte da MPB, mas a música popular brasileira não é só isso. Liniker, em entrevista a Splash

O áudio que abre o álbum, de uma aeromoça falando em japonês, foi produzido com inteligência artificial --um "quase deboche", segundo a artista. "É um uso mínimo e quase um deboche por ser um álbum analógico, gravado na fita. A inteligência artificial não entra como processo, mas como textura."
Liniker diz estar empolgada para ver como os fãs vão receber a obra. Apesar de ter muita certeza do álbum que produziu, e inclusive ter acertado quais seriam as reações do público na audição prévia do disco. "Esse disco é muito intencional. Nada foi feito à toa. Eu seria muito leviana de dizer: 'Não, eu não tava com expectativa disso ou disso.' Eu tinha certeza já. Ao mesmo tempo, vai ser muito gostoso essa minha certeza ser quebrada pela forma como o público vai se relacionar com esse trabalho."

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