Felipe Hintze, de 'Família É Tudo', quer ver gordo protagonizando novela

Em papo com Splash, o ator Felipe Hintze, 31, comemora o atual momento da carreira com produções de sucesso: a novela "Família É Tudo" e a peça "Um Só".

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Renzo em 'Família É Tudo'

O ator entrou no elenco da atual novela das 7 para participação especial na reta final da trama. No folhetim escrito por Daniel Ortiz ele vive Renzo, diretor de publicidade, grande amigo de Elisa (Thaila Ayala), que aceita o pedido dela para fazer bullying com Lupita (Daphne Bozaski) em um comercial.

É muito difícil você entrar no caminho, no trem já em movimento, né? E daí você ainda entra no trem, senta na janelinha, é muito bom. Mas isso só foi possível mesmo porque a equipe me recebeu muito bem, não só a Daphne [Bozaski], que eu já conhecia, mas a equipe inteira. É muito bom quando tem essa empatia pra quem tá chegando, pra quem tá ali no movimento, né? Eles olharem pra essa pessoa nova que está chegando com esse carinho, com esse acolhimento, faz toda a diferença.
Felipe Hintze

Hintze e Bozaski já se conheciam do elenco de "Malhação - Viva a Diferença", de 2017, onde viviam Moqueca e Benê. "A Daphne é uma atriz excepcional, e ela tem um carisma que é muito difícil de você criar. Carisma você tem ou não tem, e a Daphne tem muito, e ela coloca todo esse carisma na Lupita, e ela ganha a novela. É impressionante o trabalho dela, e eu estou muito feliz de estar juntinho com ela nesse momento".

De acordo com dados da Kantar Ibope, "Família É Tudo" teve sua melhor audiência na Grande São Paulo no capítulo em que o comercial dirigido por Renzo, onde Lupita é humilhada, foi lançado. "Fiquei muito feliz de estar fazendo parte disso, desse momento. Eu vi que a novela bateu recorde no capítulo que teve todo o desfecho da história do comercial da Lupita. Então isso só prova que a novela realmente é um sucesso e que estou fazendo escolhas certas, trabalhando com pessoas incríveis e fazendo projetos legais".

Sendo um nome importante na luta contra a gordofobia, Felipe conta que precisou se desconectar da vida real para viver um personagem que faz bullying com o corpo de outra pessoa. "Eu desconecto muito o personagem da minha vida real. Eu acho que é importante a gente falar sobre essas coisas e fazer personagens assim, porque é uma forma de combater tudo isso. Quando as pessoas estão assistindo e se compadecem com a Lupita, olham aquilo e falam 'nossa, que absurdo', a gente está colaborando para que isso não seja feito na vida real".

Peça do autor de 'Elas por Elas'

Além do trabalho na televisão, Hintze está em cartaz no Rio de Janeiro com o espetáculo teatral "Um Só". "A peça são três atores que estão participando desse teste de elenco pra passar para um filme, estão concorrendo a um personagem em um longa metragem, e daí vai acontecendo muitas coisas, eles vão mostrando a realidade de cada um desses atores. É uma peça muito divertida!".

A peça é escrita por Alessandro Marson, autor do remake de "Elas por Elas", que fez o convite para Felipe após vê-lo no palco em outro espetáculo. "Ele [Alessandro Marson] me viu fazendo 'A Herança', que foi uma peça que fiz ano passado, e me chamou pra fazer esse projeto [...] e o mais legal dessa peça é que ela não acontece em um teatro convencional, ela acontece em um estúdio. Então a gente convida o público a entrar num estúdio de televisão e participar de um teste de elenco".

Felipe se mostra feliz com a repercussão do publico às primeiras sessões de "Um Só". "A gente tem um número limitado por conta do estúdio e, para a segurança de todo mundo, a gente não pode colocar muita gente, então tivemos as primeiras sessões lotadas [...] e o público adorou essa experiência. É uma peça rápida, tem uma horinha só, então junto com essa experiência toda, as pessoas estão saindo muito felizes desse processo porque a pessoa se sente parte mesmo da peça, isso é muito legal".

Representatividade de corpos gordos

Com uma longa carreira na televisão, que começou em 2014 com "Dupla Identidade", o ator vê a importância de ser instrumento de representatividade na luta contra a gordofobia. "O mais importante é a gente ocupar os espaços e mostrar que sim, nós somos capazes de estar nesses espaços e de ocupá-los e trazer inspiração para outras pessoas. Eu sou a pessoa que quando olhava um ator gordo ali na televisão, falava: 'eu posso também fazer isso'. Então eu acho que eu também faço parte desse instrumento de identificação".

Hintze conta que, ao longo da carreira, deixou de ser chamado para testes por 'não estar no perfil do personagem'. "Chega uma produção nova, por exemplo, e eu falo assim, 'tem algum personagem aí para fazer um teste?' Ele [produtor de elenco] fala, 'desculpa, mas não tem o seu perfil'. Qual é o meu perfil? [...] Eu posso fazer um advogado, um vilão, um mocinho, um amigo, um protagonista, não posso? Por que não poderia? Por que o corpo gordo não poderia? Por que ele tem que estar estigmatizado? Por que ele não pode fazer qualquer outra coisa? Esse questionamento eu sempre jogo".

Felipe tem o desejo de ver um ator gordo como protagonista de novela. "Eu acho que a gente vai caminhar para esse lugar, ainda falta um pouco, mas sou otimista e esperançoso, acho que a gente vai um dia vai conquistar isso".

Ainda acho que estamos caminhando a passos lentos. Eu quero ver um dia um ator gordo, ou uma atriz gorda, protagonizando uma novela, por exemplo. Estando em um papel de destaque e de protagonismo. Porque daí a gente vai olhar e falar assim: 'nossa olha, é realmente a diversidade mostrando a sua vivência, não só no lugar de coadjuvante, não só no lugar ali do lado, contando uma história de outra pessoa, mas protagonizando a sua própria história'
Felipe Hintze