Um apê para cada funcionário: a divisão de lucros da podcaster Déia Freitas

Déia Freitas, apresentadora e dona do podcast Não Inviabilize, comprou um apartamento para cada um de seus cinco funcionários.

O Não Inviabilize é um dos principais podcasts do Brasil, com mais de 3 milhões de ouvintes e 310 milhões de reproduções em 4 anos. Déia anunciou a conquista no X (antigo Twitter):

Meta pessoal

A vontade de Déia de tornar os funcionários proprietários surgiu após ela conseguir comprar o primeiro terreno. "Eu venho da classe C, morando numa casa compartilhada sempre com muitas pessoas, que era a casa da minha avó", conta em entrevista a Splash.

Eu acho que quem é da classe C sempre tem o sonho de ter a casa própria, mesmo que seja financiada em 40 anos. Eu sempre tive essa meta minha, e ano passado eu consegui comprar um terreno. Déia Freitas

A sensação de satisfação ao ter um espaço para chamar de seu fez com que ela decidisse fazer o mesmo pelos seus funcionários. A apresentadora já estava juntando dinheiro desde 2021. "Eu queria poder fazer o mesmo pelas pessoas da minha família e também pelos meus funcionários".

O plano era comprar casas para seus familiares e depois para quem trabalha com ela. Mas ela decidiu inverter a ordem. "Porque quem está comigo agora, quem está trabalhando e quem proporciona que eu consiga comprar as coisas são as pessoas que estão trabalhando comigo. Então, nada mais justo do que a gente conseguir isso junto".

Deia havia economizado cerca de R$ 1,1 milhão, o que possibilitaria a compra de um imóvel de R$ 230 mil para cada. Cada um escolheu um apartamento — quem quis um imóvel em um valor maior cobriu a diferença, e quem escolheu um mais barato, ficou com a diferença.

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Ela conta que a reação dos funcionários foi de choque. "Ninguém acreditou. Uma delas perguntou se ela ia ser demitida. Eu falei 'mas o que tem a ver? Por que eu te demitiria?' Foi muito engraçado".

Presentear a família com imóveis segue sendo a próxima meta.

Críticas

Em meio à onda de elogios, teve quem criticasse, questionando "de onde" vinha o dinheiro para a compra dos imóveis. "Eu não vejo esse tipo de questionamento para outras pessoas. É só acompanhar. Eu tenho assinantes, tenho publicidade em quase todos os meus episódios".

A renda do podcast vem dos assinantes e da publicidade. Dos streamings, nada. "Todo mundo que não tem contrato não recebe nada. É uma coisa bem injusta, né? Eu vivo falando que a gente devia ter um sindicato dos podcasts, porque a gente não tem nada".

Se fizer a conta, em três anos, eu juntar um milhão e pouco, trabalhando com internet, não é uma coisa impossível. Mas ainda assim, muita gente falou que deve ser esquema de pirâmide, tráfico de drogas, golpe. Déia Freitas

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Não é a primeira vez que Déia lida com esse tipo de crítica. Em 2022, ela sofreu uma onda de comentários de ódio por abrir uma vaga temporária na empresa, restrita a mulheres negras e indígenas.

"Teve até um processo no Ministério Público. Alguma pessoa branca abriu um processo de racismo reverso. E não foi para frente, mas ainda assim, a pessoa perdeu o tempo para fazer isso, para abrir um processo e tal. E eu fui muito xingada. Postaram fotos da minha casa nos grupos de internet. Enfim, foi péssimo. Me chamaram de nazista".

Dessa vez, ela ficou mais tranquila. "Eu já briguei tanto por causa disso e não adianta, porque as pessoas sempre vão falar".

Além da "divisão de lucros"

O trabalho no Não Inviabilize tem outras particularidades. Os funcionários trabalham em home office, de segunda a quinta, das 9h às 18h, além de todos os benefícios. "Na minha empresa, [a jornada de 4 dias] não impactou negativamente em nada", conta Déia.

As entregas continuaram as mesmas e nós temos a sexta-feira para fazer outras coisas. E isso também é bom porque, por exemplo, se um deles iria faltar para fazer alguma coisa de banco, já não vai faltar mais porque ele tem a sexta-feira. Então, eles se organizam melhor também nesse sentido. Para mim foi só vantagem. Déia Freitas

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Apesar de ter chamado atenção com o modelo de trabalho, ela não quer que os funcionários sejam "gratos". "Porque senão vira uma relação estranha. A nossa relação, além de ser de um ambiente muito bom, é de trabalho".

Eu quero que eles entendam que eles receberam um apartamento porque eles fazem parte do sucesso do negócio. Não é porque eu sou boazinha. É porque eu peguei um dinheiro que foi gerado e que foi dividido. E ainda bem que eles entendem isso. Déia Freitas

Déia entende que nem todo empresário pode fazer o mesmo que ela, que trabalha com internet. "O que a gente gera de renda é meio fora dos mercados de trabalho".

Mas ela acha que debater a desigualdade da divisão de lucros é importante. "Eu acho que dá para a gente acender essa luz: por que os bilionários não podem dividir um pouco, que seja um pouco mais? Vamos pegar o Elon Musk. Como será que é trabalhar para ele no X? O que será que as pessoas ganham? Será que é justo? Ele gera uma puta renda lá. Mas até onde isso vai, também não sei. Porque dependendo da empresa que você está, se você questionar isso, você vai ser demitido".

Não há vagas no Não Inviabilize. "E eu peguei um trauma, que eu acho que jamais abriria um novo processo. Foi tenso".

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