Bi Ribeiro relembra Paralamas no primeiro Rock in Rio: 'Zebra do festival'
Os Paralamas do Sucesso já se tornaram prata da casa do Rock in Rio. A célebre banda de rock nacional estava no line-up da primeira edição do festival, em janeiro de 1985, "como uma zebra" da programação, lembra o baixista Bi Ribeiro, em entrevista por videoconferência ao Splash - assista à entrevista completa no player acima.
Com Bi, o guitarrista e vocalista Herbert Vianna e o baterista João Barone, os Paralamas voltaram a se apresentar em outras edições do festival e, no próximo dia 15 de setembro, celebra seus 40 anos de carreira como uma das atrações do dia do rock do Rock in Rio 2024, ao lado de nomes como Avenged Sevenfold, Evanescence, Deep Purple, Planet Hemp, Barão Vermelho, entre outros - ainda há ingressos disponíveis para esse dia.
A banda vai levar para o palco Mundo uma versão mais compacta da turnê 'Paralamas Clássicos', com a qual o trio está na estrada celebrando seus 40 anos de história, com um repertório repleto de hits.
Considerado um dos maiores baixistas brasileiros, Bi Ribeiro é amigo de infância de Herbert - que o aconselhou a comprar um baixo e a se dedicar ao instrumento. Na época da faculdade, ele e Herbert conheceram Barone, que substituiu Vital Dias na bateria e acabou ocupando em definitivo as baquetas da banda. Era na casa da avó de Bi, a Vovó Ondina, que aconteciam memoráveis ensaios do trio.
A menos de um mês para a apresentação da banda no festival, Bi fala sobre o impacto do Rock in Rio de 1985 na carreira da banda, sobre sucesso e a longevidade dos Paralamas.
Os Paralamas são atração do dia do rock do Rock in Rio deste ano. Como a banda tem bastante experiência nesse festival, o que você acha que muda a cada nova edição para vocês?
Bi Ribeiro - Normalmente, lá é um público bem jovem. Não só, mas basicamente. O que não muda é que a gente está sempre tentando provar por que a gente está ali. A gente entra sabendo que não está com o jogo ganho. O que mudou? A gente viu o festival crescendo muito, cada vez com mais diversidade, encontros inusitados que são um barato no palco Sunset. O tamanho, a relevância do festival mudaram muito.
Existe uma renovação do público de vocês. Claro, tem o público que acompanha a banda ao longo dessas quatro décadas, mas tem essa renovação de público sempre. Você acha que há ainda o movimento de os pais passarem para os filhos (o que ouvem) ou o que acontece muito é essa galera mais jovem descobrir a banda por si só, por causa de streaming?
Bi Ribeiro - Acho que os dois. Muita gente chega para gente e fala: 'comecei a ouvir, porque meu pai ouvia disco tal'. Mas muita gente descobre os Paralamas nos festivais, gente que nunca viu e descobre. Vejo meu filho de 20 anos, as coisas que ele tem ouvido, são coisas que, às vezes, nem eu conhecia, são coisas antigas brasileiras. Ele estava ouvindo Elizeth Cardoso outro dia e gostando. Eles vão procurando, vão caçando. A internet é um negócio vasto de pesquisa.
O repertório de vocês muda de acordo com a edição do Rock in Rio, com a proximidade de um disco que fizeram ou de uma turnê. Para esta nova edição, como que vocês estão pensando no repertório?
Bi Ribeiro - Atualmente, estamos fazendo uma excursão. Era para ter começado antes da pandemia, mas a gente cortou antes de começar. Essa turnê se chama 'Paralamas Clássicos'. Então, vai ser basicamente um resumo desse show. A gente vai condensar, porque é menos tempo. Nosso show tem quase duas horas, mas lá vai ter 50 minutos, 1h. São os clássicos dos clássicos dos Paralamas.
Não tem como a gente falar de Rock in Rio e não relembrar a primeira edição, de 1985, e que vocês tiveram lá. Eu queria que você relembrasse o impacto que o festival teve para a banda como um todo, mas também para você como músico.
Bi Ribeiro - A gente era uma banda nova, tinha dois anos de estrada e não muitos shows. Deu medo, porque a gente nunca tinha tocado para um público desse tamanho, nem um décimo daquilo ali. E a gente sempre fala que aquela estrutura do Rock in Rio parece que posou uma nave espacial ali na Barra da Tijuca, porque ninguém tinha visto nada parecido, de som, de tamanho de palco, de estrutura. A gente ficou bem ansioso e nervoso, mas foi muito bom, porque a gente já tinha plantado nossas sementes entre Rio e São Paulo, feito muitos shows em lugares pequenos. Então, muita gente conhecia Os Paralamas, conhecia nosso repertório. Foi um acontecimento. Mas muita gente não tinha noção de quem éramos, de outros Estados e até outros países.
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Quero receberEntão, a gente foi tratado como uma zebra do festival, porque ninguém esperava nada e foi muito bom. A repercussão foi gigantesca. A partir do Rock in Rio, a gente rodou o Brasil duas vezes naquele ano de 85 e foi para fora do Brasil. Naquela ocasião, a gente pensou em fazer o seguinte: não alterar nada do show que a gente tinha feito uma semana antes em Niterói. Fizemos exatamente o feijão com arroz, onde a gente se garantia. Este ano vai ser a mesma coisa. Vamos lá apostar no certo. Bi Ribeiro
Eu estava lendo o livro de memórias que o João Barone lançou. Achei muito interessante, porque ele traz a perspectiva dele em relação a essa apresentação da banda no Rock in Rio, contando que quase desmaiou. Eu queria saber qual a sua memória dessa edição? Você também teve vertigem?
Bi Ribeiro - Nem tanto. Naquele momento, Marcelo Sussekind, que era o produtor dos nossos primeiros discos, viu que a gente estava muito nervoso e falou: 'dá um pique, corre até aquele poste ali'. Era 4h da tarde, janeiro, quente à beça. 'Corre até ali e volta'. Quando a gente entrou no palco, já estava suado. Por isso, acho que o João teve essa vertigem. Foi uma coisa física, o calor e foi emocional também. Foi uma coisa muito forte a gente entrar e ver que as pessoas estavam cantando com a gente, aquele mar de gente. Sou bastante tímido e para encarar a multidão assim... Eu nunca tinha visto tanta gente na minha vida, mas não cheguei a ter nenhum mal físico. Quando acabou, a gente ficou com uma sensação de vitória, de alma lavada. Foi maravilhoso. O Barone teve isso, mas ele não perdeu o ritmo, não parou, seguiu bravamente.
Ele falou que ficou com medo de ter desmaiado e encerrado a carreira dos Paralamas (risos)...
Bi Ribeiro - Ia ser manchete pelo menos: baterista desmaia no palco (risos).
Guardadas as devidas proporções, mas para entender se vocês conseguiam fazer uma projeção. Um antigo vídeo do Chris Martin, do Coldplay, voltou a circular recentemente nas redes, no qual ele, ainda novinho, fala que a banda dele ia fazer sucesso um dia e seria conhecida no mundo todo. Vocês tinham essa certeza de que iriam longe, principalmente depois do sucesso no Rock in Rio?
Bi Ribeiro - Tão longe, não. Tinha (certeza) de crescer, de um dia poder viver de música e, nesse momento, a gente já estava conseguindo, mas, quando a gente começou a tocar, era impensável uma banda se lançar e viver de música. Quando a gente teve um recomeço na Argentina, foi devagarzinho, não chegou lá como Os Paralamas do Sucesso. E a gente tocou de novo em cada boate que podia, foi conquistando. Só que a gente nunca imaginou que ia tão longe. A gente tocou cinco vezes no Festival de Montreux, tocou pela Europa toda, Estados Unidos, Japão. A gente sempre pensa muito no próximo passo: e no ano que vem, o que a gente vai fazer? Um disco? E depois? A gente vai indo muito sem muita perspectiva. Daqui a 10 anos, o que a gente vai fazer? A gente nunca pensou nisso.
Você tocou nesse ponto sobre a Argentina. Tem essa questão de que estamos tão próximos dos países vizinhos, e o nosso intercâmbio com eles musicalmente é tão difícil. Os Paralamas furaram essa bolha de uma forma surpreendente. Acho incrível como vocês conseguiram conquistar esse público que é tão difícil. Como que você acha que se deu essa conexão?
Bi Ribeiro - Foi muita vontade, a gente foi lá tocar uma ou duas vezes, e viu a cena que estava acontecendo lá, viu a qualidade das bandas, dos músicos, das composições e ficou com vontade de fazer parte daquilo ali. A gente não chegou tocando em festival grande nem nada. A gente foi fazendo relações com os outros músicos, tocando onde dava e aí depois em um lugar maior, com uma outra banda que a gente gostava. Foi indo, foi crescendo junto, conquistando passo a passo o público. A gente não chegou com o nome grande.
É difícil a gente ver bandas tão longevas como os Paralamas.
Bi Ribeiro - A gente aprendeu a ser respeitar e a saber a importância de cada um aqui dentro. Respeito, admiração um pelo outro.
Eu sabia dessa conexão entre vocês, mas, quando o João Barone fala em seu livro sobre o período do acidente do Herbert, a gente vê o quanto vocês estavam unidos, de ficarem com ele no hospital e depois irem para casa dele para fazer esse acompanhamento, que foi tão importante. Acho que isso também explica essa longevidade, porque é um casamento até. Na alegria e na tristeza, não é?
Bi Ribeiro - Todo mundo pensou nisso: por que a gente foi para casa dele, já que tinham os pais, irmãos, filhos? Porque a gente, às vezes, é mais família entre nós do que nossas famílias e a gente viu que fazia diferença naquela volta da memória dele. Ele estar com a gente ali do lado, contar com a gente, dividir alguma coisa, lembrar. A gente percebeu isso. Por isso também que a gente começou a tocar logo junto, primeiro violão e depois fez isso com banda. Porque a gente é mais da música, pertence mais a isso do que a qualquer outra coisa.
Paralamas no Rock in Rio 2024
Quando: domingo (15/9), a partir das 14h
Onde: Cidade do Rock
Quanto: R$ 397,50 (meia), R$ 675,75 (benefício Itaú 15%) e R$ 795 (inteira)
Classificação: 16 anos
Ingressos à venda pelo site da Ticketmaster.
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