OPINIÃO
Daniel arrepia Barretos ao homenagear João Paulo, família e Nossa Senhora
Pérola Mathias
Colaboração para Splash, em Barretos*
23/08/2024 15h45
Daniel não queria largar o microfone na Festa do Peão, na quinta-feira (23). Nos telões, vimos o "Príncipe do sertanejo" ser levado para o palco de braços dados com a apresentadora da festa. Simpático, como sempre, Daniel mostra que é o cara gente boa que está ali para fazer o que ama. Agora, com o show que homenageia seu falecido parceiro, João Paulo.
Antes de Daniel aparecer em carne e osso para o público, o telão exibiu uma imagem de João Paulo, que logo apagou. Depois, voltou a acender. Seria parte do show? Não!
Só entendemos quando o problema técnico foi resolvido e o vídeo seguiu, trazendo depoimentos de João Paulo sobre o sucesso que a dupla estava alcançando e o disco de diamante que ganharam — que pode se referir tanto a João Paulo & Daniel Vol. 7 (1996), quanto a João Paulo & Daniel Vol. 8 (1997), pois ambos venderam 1 milhão de cópias.
Já nos depoimentos resgatados de Daniel, ele fala sobre o espaço que a música sertaneja conquistava na mídia, algo inédito no país. O gênero é, hoje, indiscutível, basta ver os números estratosféricos de plays que os artistas alcançam nas plataformas.
Enfim, Daniel dá as caras, cantando "Estou Apaixonado", música tema do Cigano Igor na novela "Explode Coração", de 1996. Assim ele deu início ao show com os sucessos de pouco mais de uma década de carreira junto de João Paulo.
Daniel é um dos músicos sertanejos mais centrados, dedicado à família e à religião católica. Depois de duas músicas, ele chamou a filha primogênita ao palco. Com 15 anos, Lara soltou a voz ao lado do pai, mostrando que tem talento: além de cantar bem, ela e o pai soaram ensaiadíssimos tanto no entrosamento de voz quanto na desenvoltura no palco. Momento fofura da noite, que ainda guardava muitas surpresas.
A banda de Daniel é afiada e entregou os solos de guitarra da moda "Hoje Eu Sei", do "Vol. 6", que dominou as rádios na época. Em seguida, ele pegou o violão para o clássico "Eu Me Amarrei", do mesmo disco de 1995. Quase 30 anos depois, ele ainda surpreende fazendo passos de dança country e jogando as pernas lá no alto. Eu, que vi o músico despontar quando ainda era criança, hoje invejei o pilates em dia dele.
Mas, da empolgação, passamos ao momento mais triste do show. Daniel relembrou os últimos minutos com João Paulo após o show em São Caetano do Sul em 12 de setembro de 1997, quando se despediram no elevador e cada um seguiu seu rumo. Para ele, a música "Te Amo Cada Vez Mais", presente no "Vol. 8", o último da dupla, passou a ser sobre o amigo. Um dos versos da música diz: "Não me deixe assim/Eu não posso aceitar o fim".
Daniel parou diante da plateia para refletir sobre o tempo, em como melhor aproveitá-lo e como se atentar ao que é necessário e essencial na nossa vida. Ele cita a pandemia como um dos motes para que ele tivesse parado para pensar sobre isso e completa que falava de momentos como aquele, do presente, em que milhares de pessoas se reuniram para ouvir música. A inocência da declaração reforça o porquê de ele ter recebido o título de "príncipe".
"Fricote" foi uma das músicas que sacudiu as rádios e programas de TV na década de 1990. Ela surgiu de um convite do grupo de pagode Art Popular à dupla e, como diz Daniel, "no estúdio a gente juntou a viola com o cavaco". Mas, no palco, o destaque foi a flauta, enquanto o sanfoneiro se jogava na galera. Na arena, uma concentração de policiais militares se formava - sim, Daniel ia descer, e aí começaram as surpresas.
Uma delas foi quando Daniel disse que havia encontrado no camarim o amigo Guilherme, da dupla Guilherme & Santiago, que não via havia muito tempo, e o chama para participar do show. O músico estava no camarote, acompanhado da esposa e da mãe, e correu para o palco. "Você topa fazer essa comigo?", perguntou Daniel. "Meu nome é pronto", respondeu o amigo.
A escolta gigante da PM os levou até um palco redondo no centro da arena, onde cantaram "A Loira do Carro Branco" e "Do Outro Lado da Cidade". Depois que Guilherme deixou o palco, Daniel ficou mais um tempo no meio da arena, passando da moda de viola ao clima romântico, com o auge em "Romaria", de Renato Teixeira, quando sua filha Lara voltou a se juntar a ele. Ele segurou uma imagem de Nossa Senhora e o público tirou o chapéu em sinal de respeito.
Daniel anunciou que Victor & Leo seriam a próxima atração, mas não largou o microfone. Lançou mais algumas das brabas, como "A Jiripoca Vai Piar", e fechou com chave de ouro convidando Jéssica, filha de João Paulo, para cantar "Minha Estrela Perdida".
A chance de um músico como Daniel apresentar um show que não esteja todo bem amarrado em conceito, performance e coordenação é mínima. E foi isso que ele entregou, vestido com seu curioso terno vermelho, a Barretos. O que, imagino, não seja novidade para ninguém ali. Seu nome está entre os clássicos com mérito.
*A jornalista viajou a convite da organização da Festa.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL