Natiruts em SP terá baixo de fibra de Cannabis que será presente para Lula
Bruna Gavioli
Colaboração para Splash, em São Paulo
23/08/2024 19h00
Baixista e cofundador do Natiruts, Luís Maurício, 51, estreia no show que a banda faz neste sábado (24), no Allianz Parque, em São Paulo, um baixo feito com fibras de cânhamo, variedade de Cannabis usada para fins industriais, sem efeito psicoativo.
Ao final da turnê, o músico pretende dar o baixo de presente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para chamar a atenção sobre a necessidade de regular o cultivo da planta, que, além de ser matéria prima de medicamentos à base de CBD, é usada para fabricação de roupas, instrumentos e até materiais de construção com apelo sustentável.
Relacionadas
"Quando eu tive a intenção de fazer esse baixo, eu procurei e soube que ninguém tinha feito um baixo usando a madeira de cânhamo. A ideia é mostrar a versatilidade do uso da fibra. Usamos copos reutilizáveis e biodegradáveis de cânhamo e o figurino da banda também é feito com a fibra. Quero mostrar todas essas possibilidades que a planta tem para oferecer", explicou o baixista em entrevista a Splash.
Precisamos mostrar ao governo, ao presidente, à Anvisa que o país está desperdiçando uma grande oportunidade de desenvolvimento econômico enquanto não regularmos a produção dessa matéria prima no Brasil. Luís Maurício, baixista do Natiruts
'Leve com Você'
Em fevereiro, o Natiruts surpreendeu os fãs ao anunciar seus últimos shows da carreira. Intitulada "Leve com Você", a turnê de despedida celebra as diferentes fases dos quase 30 anos de carreira da banda com apresentações sempre lotadas e esgotadas por onde passa.
Quando anunciamos a turnê de despedida, a gente não imaginava a proporção que teria. Quando anunciaram estádios de futebol, a gente ficou até receoso. Para nossa grata surpresa, o primeiro show, que foi em Brasília, onde começou a nossa história, foi em um estádio lotado com 50 mil pessoas, e ali foi a comprovação primeira de que realmente a banda é muito querida. Luís Maurício, baixista do Natiruts
A turnê chega a São Paulo neste sábado (24). São quatro shows na capital paulista, com os dois primeiros marcados para sábado e domingo, dias 24 e 25, no Allianz Parque; os outros dois na próxima semana. Os ingressos estão esgotados.
"A gente tem uma história muito bonita com São Paulo, cidade que foi muito importante na nossa carreira. Para esses shows, a gente pretende tocar algumas canções que não estavam no repertório das outras cidades", disse o baixista. "A música 'Não Chore Meu Amor' é um spoiler, a gente não tocou em nenhuma praça ainda e estamos querendo tocar em São Paulo", completou o músico sobre o repertório.
Saber a hora de parar
"A gente gosta muito de futebol e sempre falamos sobre o Pelé como um exemplo de um atleta que soube a hora de parar no auge da carreira. E a gente sempre levou isso pra nossa carreira. Chegou um momento que sentimos que estávamos nos repetindo artisticamente. A nossa carreira foi construída tijolo por tijolo e a gente considera que estamos no nosso auge. A ideia foi muito assertiva e já são quase 30 anos de estrada."
Próximos passos
Recentemente, Luís assumiu a presidência da Associação Brasileira da Cannabis e Cânhamo Industrial (ABCCI). O músico está focado em liderar esforços para promover o uso responsável e legal da planta no Brasil. "Hoje, tenho uma visão muito ampla da força que essa planta tem na saúde, indústria e questão social."
Fala Cannabis mas é um nome mais bonito da maconha, é tudo a mesma planta. A maconha ainda sofre muito preconceito. Às vezes, as pessoas falam assim: 'Ah! Você está lutando por uma coisa de maconheiro, doidão. Não, o assunto é sério! Eu estou falando de saúde, de economia, de reparação social e educação. Luís Maurício, baixista do Natiruts
Luís aproveitou para convidar toda a classe artística para dar voz a causa, e mobilizar a sociedade: "Esse é o papel do artista: ajudar a quebrar preconceitos e desmistificar o uso dessa planta, que traz inúmeros benefícios para a sociedade".
"A mesma planta que salva vidas ainda serve de ferramenta de encarceramento em massa da população preta e pobre, e isso tem que mudar. É essa a minha luta. Existe uma hipocrisia gigantesca no Congresso. Aqueles mesmos legisladores que se dizem conservadores e em nome da família, todos enchem a cara de uísque, e usam drogas pesadas nas festinhas da elite. A hipocrisia reina", declara.
Luis não vê relação com o aumento do tráfico que possa vir como consequência. "O tráfico está aí. O Brasil continua com essa 'guerra às drogas', nessa política totalmente de enxugar gelo. Não funciona nada. Qualquer esquina que você vai, tem gente vendendo. E esse dinheiro vai para quem? Para facções criminosas."
Para o baixista, os legisladores têm medo de se posicionar em relação ao que o eleitor possa pensar. "O Brasil está perdendo uma grande oportunidade. O legislador, quando vai falar dessa pauta, ele pensa nos votos. São pautas que estão travadas no Congresso e toda essa parte medicinal que conseguiu evoluir só foi possível por causa do Judiciário."
O Superior Tribunal de Justiça deve julgar ainda neste ano se libera a plantação de maconha para fins exclusivamente medicinais e industriais.