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Ela testemunhou sequestro: 'Vi rapaz pular muro, e Silvio quis me conhecer'

Carla e Silvio Santos; ela testemunhou início se sequestro do apresentador e foi chamada à casa dele depois Imagem: Arquivo pessoal e Caio Guatelli/Folha Imagem

De Splash, em São Paulo

24/08/2024 05h30

Em 2001, a jornalista Carla Augusta Sant'Anna, então com 23 anos, recebeu uma missão do seu chefe no extinto Canal 21, da TV Bandeirantes: abordar o apresentador Silvio Santos nas primeiras horas da manhã em sua casa, no bairro do Morumbi, em São Paulo, para perguntar sobre a volta da família à rotina após o sequestro de Patrícia Abravanel, dias antes.

Ela só não esperava virar testemunha de uma nova ocorrência: desta vez, o sequestro de Silvio, em 30 de agosto, após a invasão da casa dos Abravanel.

Meu chefe falou: 'Quero que você esteja 6 da manhã em frente à casa dele para conversar'. Como o sequestrador tinha devolvido a Patrícia, ele queria que eu perguntasse para o próprio Silvio como estava a vida da família.
Carla Augusta Sant'Anna, jornalista

Pessoa certa, no lugar certo

Ela e o cinegrafista Carlos Alberto Corrêa estavam no carro quando viram um homem invadir a casa. Era Fernando Dutra Pinto, um dos responsáveis pelo sequestro de Patrícia Abravanel

Ainda estava tudo escuro e nós éramos a única equipe parada ali. Eu vi um rapaz passando na frente do nosso carro, usando moletom, gorro de lã e, com uma tranquilidade incrível, ele subiu nas pedras, em uma árvore e pulou o muro. Pensei: gente, isso não é normal.

Ela avisou o segurança da rua, que não lhe deu atenção. Para ver o suspeito, ela subiu em uma árvore e viu que o homem estava na metade do gramado da casa. Depois, ligou para o chefe e avisou sobre a movimentação estranha. "Ele falou para eu ficar atenta, porque podia 'pipocar' alguma coisa."

Imprensa e curiosos se aglomeravam em frente à casa de Silvio Santos Imagem: Caio Guatelli/Folha Imagem

Não se passaram cinco minutos e a família saiu da casa de pijama e enfileirada. A Íris [esposa de Silvio Santos] e as filhas. O segurança falou que entrou uma pessoa, e o Silvio estava sequestrado e começou aquele 'auê'. Eu fiquei em choque, porque era tão nova, não era possível que isso estava acontecendo.

O segurança da família chamou a polícia. Jornalistas começaram a chegar, e Carla deu entrevistas para veículos de todo o país. "Eu estava no lugar certo, na hora certa", diz ela, que guarda recortes de jornais até hoje. A jornalista ficou na cobertura até a chegada da equipe titular da Band.

O sequestrador liberou o dono do SBT oito horas depois, após uma série de exigências, incluindo a presença do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Fernando morreu quatro meses depois em uma penitenciária, após ter uma parada cardiorrespiratória devido a pneumonia bacteriana.

Alckmin ajudou nas negociações Imagem: Caio Guatelli/Folha Imagem

Silvio Santos agradeceu

Dois dias depois, a jornalista recebeu um recado ao chegar para trabalhar: "Me disseram que o Silvio Santos queria conhecer a jornalista". Carla fez pouco caso, pois acreditou ser brincadeira. Mas o pedido era verdade. Então, foi à casa do apresentador apreensiva.

Da hora que cheguei até a hora que saí, eu tinha dúvidas se aquilo era realidade, se não estava dormindo. Aquele homem grande na minha frente, aquele sorriso, qualquer pessoa fica atônita.
Carla Sant'Anna

Silvio quis saber o que Carla viu, além de agradecê-la. "Isso que eu chamo de pessoa certa na hora certa, você foi providencial. Fico agradecido, graças a Deus já está tudo sob controle", disse o dono do Baú à produtora.

Carla Augusta deu entrevistas e depoimento à polícia na época Imagem: José Varella/CBPress

Me despedi com um abraço e fui embora pensativa. Como isso foi acontecer comigo?

Ela também teve de dar depoimento à polícia e era reconhecida nas ruas. "Na época, tive os meus cinco minutos de fama", diz. Algumas pessoas a reconheciam nos lugares e perguntavam se ela não era "a menina do sequestro do Silvio Santos", já que a jornalista participou de vários programas da emissora. "Não tinha como não falar sobre isso. O caso parou o Brasil."

Recorte do jornal Agora publicado em 2001 e que traz o relato de Carla Imagem: Reprodução/Jornal Agora

Quando vi que ele tinha morrido, a primeira coisa que me veio à cabeça foi esse encontro. Ele foi de uma humildade, carinho e atenção, um homem como ele não precisaria dispor desse tempo para mim.

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