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'Lá lá lá ê': música famosa com Silvio Santos veio de 'proibidona' da URSS

Silvio Santos, Pedro de Lara, Décio Piccinini, Sônia Lima e Leão Lobo no "Show de Calouros", nos anos 80 Imagem: Divulgação/SBT

De Splash, em São Paulo

25/08/2024 05h30

Silvio Santos, que morreu no sábado (17), deixou um grande legado para o entretenimento, incluindo no mundo fonográfico, com cerca de 135 músicas gravadas. No entanto, a abertura do clássico "Show de Calouros" não foi uma das invenções do apresentador, mas uma adaptação importada da URSS.

O que aconteceu

A música original foi lançada em 1925, anos após a Revolução Russa (1917). Com o refrão "lá lá lá lá", a canção que embalava o "Show dos Calouros" se chama "Dorogoi Dlinnoyu" e foi composta pelo russo Boris Formin e pelo poeta conterrâneo Konstantin Podrevskii. Em português, a tradução da música seria algo como "Pela Longa Estrada". Com inspirações folclóricas, a letra fala sobre um idealismo romântico da juventude.

Ela foi banida da URSS em 1929 por ser considerada antirrevolucionária. Apesar do sucesso nos primeiros anos da URSS, essa canção e outros trabalhos de Fomin foram vistos com maus olhos pelo governo soviético. Músicas folclóricas e/ou de influência cigana não eram muito bem vistas pelas autoridades, que queriam romper com todos os valores do czarismo.

A canção ficou conhecida na voz da cantora georgiana Tamara Tsereteli e do ator Alexander Vertinsky. Ele, inclusive, serviu ao Exército durante a Primeira Guerra Mundial e, em 1920, deixou a Rússia fugindo do novo governo. Apresentou-se em vários países da Europa até fixar-se em Paris, onde cantou por anos em cabarés. Somente em 1943, o governou soviético permitiu seu retorno ao país.

A música fez parte da trilha sonora do filme "Inocentes em Paris" (1953), escrito pelo russo Anatole de Grunwald. Ele fugiu para o Reino Unido com a família ainda criança na época da Revolução Russa. Na trama, os personagens se encontram em uma boate russa em Paris e a canção é executada.

A canção foi redescoberta nos anos 1960, em plena Guerra Fria, pela cena folk de Nova York. O músico Gene Raskin adaptou a música para o inglês com a mulher Francesca. Ilegalmente, Raskin registrou a faixa como sua, dando o nome de "Those Were the Days" e a apresentando ao vivo em shows. Em 1962, a música foi gravada em estúdio pelo grupo The Limeliters, lançada no álbum "Folk Matinee".

Música ainda passou pelas mãos do ex-Beatle Paul Mccartney. Paul, que era frequentador do club londrino Blue Angel, onde os Raskins chegaram a se apresentar, encantou-se com a sonoridade da canção e adquiriu os direitos da música. Por meio da Apple Records, a ofereceu a Mary Hopkin, que fez a canção estourar na versão em inglês, chegando ao primeiro lugar das mais tocadas na Inglaterra e ao segundo nos Estados Unidos. O sucesso foi tão grande que a música foi regravada em cinco outros idiomas —incluindo o português.

No Brasil, a música passou a se chamar "Aqueles Tempos", na voz de Joelma Giro. A versão da cantora capixaba foi lançada em compacto simples em dezembro de 1968, meses depois da versão de Mary Hopkins, e no LP "Casatschok", em maio de 1969.

"Dorogoi Dlinnoyu" só chegou à TV em 1977, quando Silvio Santos estreou o "Show de Calouros" na antiga TVS. A atração ainda passou pela TV Tupi e permaneceu no ar no SBT até 1996.

A ideia da produção do programa era criar um tema animado e chiclete. A música foi adaptada em versão marchinha pelo maestro Zezinho usando apenas o nome dos jurados na letra e passou a ser cantada em todas as edições do quadro a partir dos anos 1980.

Ele altera completamente e transforma a letra na apresentação dos jurados. A repetição faz muito parte da linguagem do Silvio Santos e todo mundo memorizou. Fernando Morgado, biógrafo de Silvio Santos em entrevista ao Fantástico em agosto de 2024

*Com informações de reportagem publicada em 04/12/2018

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