Com selo próprio, Rincon Sapiência fortalece cena rap da periferia de SP
O cantor, compositor e produtor musical —vulgo Manicongo— Rincon Sapiência, está cheio de projetos! Além de lançar um novo single, " Eu Não Tenho Mais Tempo", o artista, com mais de 20 anos de carreira, vem investindo e acreditando em novos artistas na cena, como F7França, Bren9ve e Hiro$hi, pelo seu selo musical, o MGoma.
Pra quem não conhece
Nascido e criado na Zona Leste de São Paulo, Danilo Albert Ambrósio ganhou o apelido de Rincon porque, na comunidade, as pessoas o consideravam parecido com o ex -jogador colombiano Rincón. O nome Sapiência veio ao buscar um nome potente e que o representava como MC.
Compositor, músico, artista e também ator, Rincon Sapiência se percebeu compositor ao se identificar com o processo de escrita, ainda criança, quando fez uma paródia da música do Exaltasamba, "Gamei", num trabalho escolar sobre a dengue.
Dentro da sua casa, consumia muita música norte-americana e brasileira por influência do seu irmão e sua mãe. Na sua quebrada, na Cohab I em Itaquera, ele se deparou com um mundo muito mais amplo, com o samba e o rap no seu auge dos anos 1990.
Eu me identifiquei muito com a música rap por conta do meu irmão mais velho, mas na quebrada o que mais tocava era o pagode dos anos 1990. Por conta do futebol, eu fui à rua me conectar não só com pagode mas também com o grafitti e, automaticamente, com a cultura hip hop. Pagode era o ritmo mais popular nas quebradas, como é o funk atualmente, e com certeza influenciou na minha caminhada artística.
Como MC e rapper, Rincon Sapiência começou a ficar conhecido pelas suas participações rimando nas batalhas de freestyle, no centro de São Paulo, e mostrando o seu domínio lírico e de flow dentro do instrumental da música rap. Isso fez com que ele colaborasse com outros artistas paulistanos e também pudesse lançar o disco "SP Gueto BR".
O artista chamou muita atenção, e ele mesmo cita que o momento de virada de chave na sua carreira foi o álbum "Galanga Livre". Com o hit "Ponta de Lança", com mais de 40 milhões de players nas plataformas, Rincon comenta que a viagem que fez para o Senegal e Mauritânia em 2012 foi o seu grande despertar para explorar novas sonoridades e reflexões diferentes, não só sobre música como também sobre o contexto social desses países africanos.
Fiz essa viagem a trabalho para alguns países do continente africano para me apresentar às pessoas. Elas gostaram da originalidade do meu som mesmo sem entender uma palavra que eu tava dizendo. Isso foi o que me impulsionou mais ainda a buscar essa sonoridade fora da curva pro meu rap, mesmo com as críticas e sabendo da dificuldade que teria!
Como ator, o artista fez participações no filme "Jonas", com Criolo e Karol Conká, e atuou na série "A Casa de Vó", lançada pela plataforma Wolo TV. Esses projetos trouxeram uma percepção ainda mais aguçada sobre o processo de composição, não só de suas músicas como também de videoclipes (e o artista não decepciona, trazendo a plenitude da sua arte atuando como diretor).
Quando estudei audiovisual na ONG Sonho Educativa, na Zona Leste, eu me identifiquei ainda mais com o lado lúdico que é colocado no cinema e na atuação. Além de ser filmmaker e produtor musical, eu também dirijo e escrevo roteiros dos meus videoclipes. Isso deixa muito mais aguçado o lado criativo da minha arte.
Single novo
Com instrumental de Gus Beats, o single "Eu Não Tenho Mais Tempo", lançado no início do mês, mostra o artista trazendo reflexões sobre o que devemos priorizar na vida atual, com uma rotina muito agitada por causa principalmente das redes sociais.
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Quero receberEle abre assim espaço para um questionamento e uma reflexão da cena do rap nacional atual, sobre o esvaziamento das composições num contexto geral. Com o selo independente MGoma, o artista diz que lidar com o algoritmo e com as grandes gravadoras dentro do mercado é difícil, mas, ao mesmo tempo, prazeroso.
Ele resume isso no trecho: "ser acima da média e acima da mídia", que, mesmo com todo esse predomínio e investimentos das gravadoras, ainda há espaço para fazer e trabalhar com música de forma autêntica. O selo foi criado e é dirigido por Rincon com objetivo de fortalecer artistas da periferia, valorizando e enriquecendo o cenário da música nacional. Nomes como F7França, Bren9ve e Hiro$hi compõem a ala de artistas do selo.
Eu sei que muita gente que curte meu trabalho gosta desse meu lado MC e, com o instrumental muito gostoso de ouvir, a proposta do single é de literalmente escrever novas linhas, novas formas, outra forma de composição dentro da vertente do trap. Eu eu me divirto fazendo umas rimas nesse som.
Na cena atual, ele destaca as artistas femininas: "Eu tô achando muito interessante o que as mulheres estão fazendo. Artistas como Tasha & Tracie, Duquesa, Julia Costa e MC Luanna trazem elementos do MC que eu gosto, particularmente. Eu estou vendo nelas a subversão, a composição afiada e até o posicionamento importante nas redes que todo MC deve ter".
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