Topo

OPINIÃO

Oasis nos torna (de novo) jovens e invencíveis, mas não ingênuos

Imagem de arquivo mostra Liam (direita) e Noel Gallagher, membros do Oasis, durante show Festival Internacional de Benicasim, Castellon, Espanha, em 7 de agosto de 2005 Imagem: Jose Jordan/AFP

Fabiana de Carvalho

Colaboração para Splash, em São Paulo

27/08/2024 19h00

'Ei, se mantenha jovem e invencível, porque sabemos exatamente o que somos. E venha o que vier, somos imparáveis, porque sabemos o que somos'*, diziam eles. O ano era 1997, e o disco, 'Be Here Now', o suposto ponto final do britpop.

Àquela altura, o Oasis era a maior banda do mundo —o Blur até podia ser melhor, mas o Oasis sempre foi muito mais legal, vai— e parecia que não tinha erro: a gente ia, sim, se manter jovem e invencível para sempre. O Liam, o Noel, o Oasis. Meus amigos. Eu.

Relacionadas

Mas aí começaram os discos mais ou menos. As brigas deles começaram a ficar mais sérias e sem graça. O show em São Paulo em 1998 foi ótimo, o do Rock in Rio em 2001 já nem tanto, mesmo tendo um ex-Ride de verdade no baixo.

Admito que passei uns anos sem ligar tanto, existem várias músicas que eu mal conheço ou nem sei direito de que discos são. Me empolguei com o primeiro disco e até fui a um show da banda nova do Noel, mas tudo isso antes de ele virar um senhor patético defensor do Brexit e que fala mal da Escócia.

Já o Liam, esse só melhorava. De babaca mor a melhor respondedor (de entrevistas a desaforos) e dono de discos solo que rejuvenescem mais do que procedimentos cirúrgicos, 'our kid' nos lembrava que ficar mais velho não precisa ser ficar mais chato.

Certas músicas ou certas bandas são trilhas sonoras para acontecimentos, fases ou mesmo sentimentos muito específicos na vida da gente. Oasis nunca foi minha banda favorita. Nunca foi top 5. Mas é quem faz passar aquele 'filminho' na mente. Sempre foi.

Quando eu comecei a prestar atenção de verdade em música, todo moleque (inglês) queria ter uma banda e ser os novos Smiths. O Noel, com uma guitarra que ganhou do próprio Johnny Marr, não. Ele chegou dizendo —e tendo certeza— que não precisava disso porque era melhor. Acima do Oasis? Só os Beatles. E olhe lá também.

Claro que, racionalmente, não é bem assim. Mas, ah, quando você estava na sua pista favorita, quando você colocava para tocar os CDs (antigamente era assim, não tinha streaming) ou quando eles subiam no palco, quando você ouvia bem alto "aquelas" guitarras e "aquele" vocal anasalado e aquelas loooongas sílabas como ninguém mais faz igual... 'quem quer estar sozinho quando a gente pode se sentir vivo em vez disso?'**

Oasis é A banda de quando a gente era jovem. E invencível. E imparável. E tinha a vida toda pela frente. Todas as possibilidades e chances. O mundo inteiro para explorar, um milhão de escolhas e ninguém podia nos deter. 'Quando eu era jovem eu achava que tinha minha própria chave'***, eles cantavam ainda em 1994, lembra?

Lógico que ninguém é ingênuo e é tudo por dinheiro. Mas e daí? Não é pra isso que estamos todos aqui no final das contas?

* "Stay Young" é um b-side de "D'You Know What I Mean", do terceiro disco do Oasis, "Be Here Now", e foi lançada em 1997
** "Acquiesce" é um b-side de "Some Might Say", do segundo disco do Oasis, "What's the Story (Morning Glory)", e foi lançada em 1995
*** "Fade Away" é um b-side de "Cigarettes & Alcohol", do primeiro disco do Oasis, "Definitely Maybe", e foi lançada em 1994

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Oasis nos torna (de novo) jovens e invencíveis, mas não ingênuos - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade