No aniversário de Kobra, SP recebe presente: um painel em Santa Cecília

Eduardo Kobra nasceu no Jardim Martinica, periferia de São Paulo, e com 12 anos já fazia grafites nos muros da cidade. O artista plástico se tornou um dos mais renomados muralistas do mundo, com obras em mais de 40 países sobre grandes personalidades, causas humanitárias e preservação do meio ambiente.

No entanto, Kobra segue homenageando em seu trabalho as raízes paulistanas. O artista completou 49 anos na última terça-feira (27) —embora na internet se encontre 1 de janeiro como sua data de nascimento. "É um erro na internet que eu não faço ideia como arrumar", conta Kobra.

Ele conversou com Splash durante um almoço de frango à milanesa e batata frita com o filho Pedro no bar em frente ao novo painel, feito no bairro da Santa Cecília, região central de São Paulo.

Kobra falou sobre a influência da cidade em sua obra, sua relação com as Olimpíadas, além de novos projetos.

Das ruas aos museus

Milhares de pessoas passam nesta rua todos os dias. Esse é o propósito real do meu trabalho: levar arte para as pessoas de uma forma democrática. Kobra.

Os cinco painéis foram criados no Sacolão da região e celebram a agricultura e a colheita, homenageando o traço de artistas como Vincent van Gogh e Jean-François Millet.

Novo painel do artista plástico Kobra terá interatividade com QR code para conhecer mais sobre artistas homenageados.
Novo painel do artista plástico Kobra terá interatividade com QR code para conhecer mais sobre artistas homenageados. Imagem: Alexandre de Melo/Splash

"Eu comecei a fazer esse trabalho na pandemia com o objetivo de trazer obras que estão nos museus e as pessoas não têm acesso e devolver para a cidade", diz.

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Kobra explica que serão colocadas na obra placas com QR codes. Por meio deles, as pessoas vão conseguir saber mais informações sobre os artistas que inspiraram os cinco painéis. "É uma forma de unir esses mundos: a arte de rua e a arte exposta em museus e galerias", conta.

Filho pródigo de SP

Autodidata, Kobra tem influência de nomes como Banksy, Keith Haring (1958-1990) e Diego Rivera (1886-1957) no sentido de mostrar um pouco da história das regiões que recebem seus murais.

Ele conta que o reconhecimento internacional do seu trabalho aconteceu na rua de forma orgânica e espontânea. "Eu tenho orgulho da minha história e de ter vivido pelos movimentos de rua como grafite e pixo", diz. Na adolescência, por causa das pichações, Kobra foi detido algumas vezes.

Painel de Kobra ilustra as paredes de um comércio em Santa Cecília, em São Paulo
Painel de Kobra ilustra as paredes de um comércio em Santa Cecília, em São Paulo Imagem: Alexandre de Melo/Splash

Mas foi em 2007 que o artista começou a ganhar mais notoriedade com o trabalho "Muro das memórias", mostrando fotos antigas de São Paulo pelas ruas da cidade. "O colorido da minha obra tem a ver com o que aprendi com o 'Muro das memórias'. Pegar imagens antigas em preto e branco e sepse e trazer uma nova roupagem, colorir as imagens", explica.

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Mesmo com todo o prestígio fora do Brasil, Kobra segue com trabalhos que valorizam a história e a cultura de São Paulo. Em 2015, o artista e sua equipe organizaram o projeto "São Paulo: Uma Realidade Aumentada". Em dez dias, a equipe destacou problemas sociais por diversas regiões da cidade e contribuíram em campanhas como de doações de alimentos

Recordes e homenagens

Em 2016, o mural "Etnias", localizado no Boulevard Olímpico, no Rio de Janeiro, entrou para o Guinness Book como o maior mural grafitado do mundo, com 2,5 mil metros quadrados. No entanto, em 2017, Kobra bateu o próprio recorde com a obra "Cacau", localizada no quilômetro 35 da Rodovia Castello Branco, na cidade de Itapevi, São Paulo. A obra tem 5.742,11 metros quadrados e é inspirada em uma fotografia de Lailson Santos.

Mas a relação do artista com as Olimpíadas vai além do mural "Etnias". "Eu pintei na região de Paris um mural dedicado à delegação brasileira. Nos Jogos de Tóquio produzi um mural com o Cristo Redentor", conta.

Também durante os jogos de Paris, criei uma prancha de surfe estilizada com a foto do Gabriel Medina saltando uma onda feita pelo fotojornalista francês Jerome Brouillet. Foi uma homenagem aos dois, especialmente para o brasileiro que tem uma conexão de fé parecida com a minha.

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Ao redor do mundo, Kobra eternizou cenas famosas em seus murais, como a famosa foto de um marinheiro e uma enfermeira se beijando na Times Square, Nova York, em 1945, após o término da 2ª Guerra Mundial, além de celebrar personalidades importantes, como Malala, ganhadora do Nobel da Paz em 2014, e o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna. Ele já fez 8 trabalhos com o piloto. "Senna é um herói nacional que marcou minha geração e segue inspirando as gerações seguintes."

Em breve, Kobra vai viajar para a Itália para pintar um novo mural homenageando o tenor Luciano Pavarotti em um prédio na região da Calábria, na Itália. "As escolas de lá estudam a obra dele e me convidaram para a homenagem."

Arte para todos

Para aproximar o público da sua arte, Kobra abriu um de seus ateliês de trabalho para visitação pública. O espaço fica no interior do FAMA Museu, em Itu. A entrada custa R$ 10 e há meia entrada para estudantes, professores e moradores de Itu.

São Paulo é uma das principais cidades do mundo para criação de arte de rua pública por conta da diversidade de estilo e técnicas.Quanto mais arte na rua, melhor. As ruas estão se tornando galerias de arte a céu aberto.

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