Como personagens gaúchos do Muquiranas lidaram com as chuvas no RS
Maurício Businari
Colaboração para o UOL
31/08/2024 05h30
Laila Otaki e Patrício Campanha, ambos participantes do reality show Muquiranas Brasil, compartilharam como suas práticas de economia extrema, ou "muquiranice", foram postas à prova durante as inundações que devastaram o Rio Grande do Sul.
O que aconteceu
Laila, 36, chef de cozinha e consultora gastronômica, destacou que seu estilo de vida minimalista foi crucial para alimentar centenas de pessoas durante a crise. Patrício acredita que seu aprendizado em sobrevivencialismo foi preponderante quando ele começou a ajudar as vítimas das enchentes.
Quando os restaurantes em que trabalhava foram alagados e perderam todo o estoque, Laila voltou-se para o que tinha em casa. "Eu tinha guardado no freezer cascas, talos e sobras de peixe, feijão. Com esses ingredientes, consegui preparar refeições nutritivas para a minha família e garantir que nada fosse desperdiçado", conta Laila.
A chefe de cozinha se voluntariou em uma operação humanitária em Gravataí, onde ajudou a organizar cozinhas comunitárias e cozinhar para as vítimas das enchentes. Sua experiência em economia de recursos foi fundamental para garantir que o pouco que havia disponível fosse transformado em refeições que alimentaram centenas de pessoas.
Eu sabia que cada grama de alimento poderia fazer a diferença, e minha experiência em economia me permitiu ajudar a alimentar centenas de pessoas que estavam em uma situação desesperadora. Ensinamos as equipes de cozinha a usar cada parte dos alimentos. Fizemos farofa com casca de ovo e chips de casca de banana para garantir que nada fosse desperdiçado. Isso foi crucial, pois em um cenário de escassez, cada pedaço de alimento conta.
Laila Otaki
Além de sua atuação nas cozinhas comunitárias, a chefe organizou campanhas para arrecadar e distribuir água potável, fraldas, remédios e outros itens essenciais. Ela utilizou suas habilidades de organização e logística para coordenar a distribuição desses recursos nas áreas mais afetadas, priorizando famílias com crianças pequenas e idosos.
Laila também abriu as portas de sua casa para alojar conhecidos que ficaram desabrigados, transformando sua residência em um ponto de apoio durante os dias mais críticos. "Reorganizamos os espaços, reaproveitamos móveis e materiais para criar áreas de descanso. Compartilhamos o que tínhamos de comida e água. Foi um esforço coletivo, mas necessário. Ver a gratidão nos olhos dessas pessoas foi algo que me marcou profundamente", disse a chefe.
Abrindo a mão
O gaúcho Patrício Campanha, 36, é adepto do sobrevivencialismo e utilizou seus conhecimentos para prestar auxílio de outra forma. Embora o imóvel onde mora, em Porto Alegre, não tenha sido diretamente afetado pelas inundações, ele foi testemunha do impacto das chuvas nas vidas de outras pessoas. "Vi muitas pessoas despreparadas para lidar com a crise. Eu sabia que, mesmo sendo muquirana, tinha recursos que poderiam salvar vidas. Por isso, decidi abrir mão de parte do que tinha armazenado e ajudar quem mais precisava", explica.
Decisão tomada, Patrício doou alimentos, água e outros suprimentos essenciais para vizinhos e pessoas em sua comunidade que perderam tudo nas enchentes. Além disso, ele utilizou seus conhecimentos de sobrevivência para oferecer orientação a outros moradores sobre como se preparar melhor para futuras crises.
Ensinei a importância de armazenar água potável, como improvisar abrigos e até como usar recursos simples, como sabão neutro, para primeiros socorros em caso de ferimentos. Não foi apenas uma questão de fornecer o que eu tinha, mas também de capacitar as pessoas a se cuidarem em situações extremas.
Patrício Campanha
O muquirana também se engajou emocionalmente, oferecendo suporte psicológico e orientação a quem estava em choque ou desamparado. "Entrei em contato com meus amigos e conhecidos, não só para saber como estavam, mas para oferecer um ombro amigo. Em muitos casos, a ajuda emocional foi tão importante quanto a material. Às vezes, uma palavra de conforto ou um conselho pode ser o que a pessoa precisa para não perder a esperança", afirma.
Ponto para a muquiranice
Para os dois muquiranas gaúchos, a experiência das chuvas foi um momento de reflexão e ação. Laila viu como suas práticas econômicas não só a beneficiaram, mas também ajudaram a comunidade a superar uma das maiores crises já vistas na região.
Minha visão sobre economia não mudou; na verdade, só reforçou sua importância. Quando as águas baixaram, muitas empresas foram destruídas, pessoas perderam seus empregos, e a ajuda financeira demorou a chegar. Sem documentos, sem acesso aos bancos, muitos ficaram desamparados. A necessidade de economizar, investir e ter uma reserva para emergências nunca foi tão clara. Quem não tinha esses recursos está agora vivendo em vilas provisórias. Essa tragédia mostrou como é vital ter um lugar seguro para morar, conhecimento para lidar com crises e evitar o acúmulo de bens desnecessários. Tudo isso veio à tona junto com a água.
Laila Otaki
Patrício, por sua vez, diz estar ainda mais convicto que a preparação e o minimalismo podem ser instrumentos poderosos de solidariedade em tempos de adversidade.
Catástrofes climáticas estão se tornando mais frequentes, e precisamos estar preparados não apenas para esse tipo de crise, mas para qualquer situação adversa. É crucial aprender a ser mais minimalista, menos consumista, e assumir uma postura de sobrevivencialista, sendo mais responsáveis por nossas próprias vidas. O governo, por mais competente que seja, não consegue alcançar todos em todos os momentos. Por isso, cada um de nós deve assumir a responsabilidade por si e por aqueles que protegemos e amamos.
Patrício Campanha