OPINIÃO
SP reacende 'febre do surfe' dos anos 1980 e 1990 com Australian Connection
Gustavo Brigatti
Colaboração para Splash, em São Paulo
01/09/2024 13h00
Entre a segunda metade dos anos 1980 e começo dos anos 1990, o Brasil viveu uma (nova) invasão. Mas ao invés de caravelas portuguesas, o que atracou no litoral brasileiro foram bandas australianas. Neste sábado (31), um Vibra São Paulo lotado celebrou os mais de 30 anos dessa incursão durante o Australian Connection Festival.
Essa invasão, é bom ressaltar, não foi gratuita. Na época, o Brasil vivia uma espécie de 'febre do surfe'. Programas de TV e rádio, revistas especializadas e lojas de surfwear levavam para os quatro cantos do país toda uma cultura antes restrita ao litoral. Junto, veio uma conexão quase natural com a Austrália e, por tabela, com o rock produzido por lá.
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Da enorme leva de bandas que aportaram por aqui e tomaram de assalto a programação das rádios, três delas foram pinçadas para o Australian Connection Festival: Hoodoo Gurus, GANGgajang e RSpys — esta, a primeira a subir ao palco.
Com o baixista, vocalista e chef de cozinha Craig Bloxom à frente, o RSpys trouxe o repertório do Spy v Spy em versão reggae. E não é que funcionou? Canções originalmente calcadas no pós-punk, como "One of a Kind", "Hard Times" e "All Over the World", pareciam escritas para uma serem tocadas numa levada dançante e solar.
Mérito de Bloxom, mas também de seus novos parceiros, o guitarrista TK Tarawa e o baterista Young Chrissy Lowe. A dupla não se comporta como simples banda de apoio, imprimindo sua marca durante todo o espetáculo, seja em momentos solos brilhantes, seja segurando a onda enquanto o vocalista dança, corre e conversa com o público.
De tão à vontade que estava, Bloxom foi assistir ao segundo show da noite no meio da plateia. De lá, viu uma performance incendiária do GANGgajang, com seus terninhos pretos e pegada de big band.
Liderada pelo vocalista e guitarrista Mark 'Cal' Callaghan, a banda focou no seu disco de estreia, homônimo, de 1985. Dele, retirou quase todo o repertório, como "Distraction", "Maybe I", "Ambulance Men", "House of Card", "The Bigger They Are" e "Giver of Life" - além dos hits radiofônicos "Gimme Some Lovin" e "Sounds of Then (This is Australia)".
Também muito descontraído, o Cal mudou a letra de "Carioca Girl" para "Paulista Girl" e foi cantar "Shadow of Your Love" no meio da multidão. Fecharam com "Hundreds of Languages", do álbum "Lingo", de 1994.
Última atração da noite, o Hoodoo Gurus subiu ao palco pouco depois da meia-noite e meia. E entraram com pouco papo e muita ação, engatando na sequência "I Want You Back", "Another World", "Waking Up Tired" e "The Right Time", quatro faixas pesadas, mas que foram muito bem recebidas pelo público.
O peso do primeiro bloco contrastou com o bloco seguinte, dedicado a baladas e canções com temas mais sombrios, como "Night Must Fall", "My Girl", "I Don't Mind" e "Death Defying". Foi quando deu para notar que a voz de Dave Faulkner já não tem mais o viço de antes. Ele ainda segura bem as notas, mas sofre com os falsetes — nada que atrapalhe o desempenho de modo geral, no entanto.
Diferentemente de seus companheiros de festival, o Hoodoo Gurus não ficou só na nostalgia e incluiu músicas de seu trabalho mais recente, "Chariot of the Gods", de 2022. Dele, tocaram a faixa-título e "Equinox", considerada por Faulkner uma canção que traz boa sorte.
Para o bis, reservaram três dos seus principais hits, que ainda hoje circulam pela programação das rádios: "Good Times", "1000 Miles Away" e, claro "Come Anytime". Um encerramento digno para uma celebração digna.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL