'Aceito não ser querida': Filme mostra preço que Young pagou por existir

O filme "Fernanda Young - Foge-me ao Controle" faz uma viagem pelo "pensamento labiríntico" da escritora, que morreu em agosto de 2019. O documentário, que é assinado pela diretora Susanna Lira, explora as dores e as alegrias de existir no mundo.

Quando ela fala que a literatura não a levava a sério, ela tinha umas amarguras ali, umas angústias, que ela não ficava vociferando em praça pública, mas, internamente, você percebe que tinha uma dor. Eu acho que essa vulnerabilidade dela era muito maior do que eu imaginava. Susanna, diretora do documentário, em conversa com Splash

A fragilidade é apresentada como um dos principais pontos de conexão entre a apresentadora e o público. É quando a figura punk e forte ganha camadas de humanidade — e fica ainda mais próxima das pessoas. O mesmo aconteceu com a diretora do filme.

Eu acho que tive uma empatia muito maior do que já tinha, porque eu tinha uma admiração. Uma admiração profissional [...] Eu fiquei mais próxima, porque parecia quase algo inalcançável.

Documentário faz uma viagem pelo "pensamento labiríntico" da escritora
Documentário faz uma viagem pelo "pensamento labiríntico" da escritora Imagem: Divulgação

A poesia de Fernanda, mais visceral que contemplativa, acompanha toda a narrativa do documentário. Como um quebra-cabeça, o "pensamento labiríntico" da escritora é organizado de modo em que a mão dela estivesse presente ao longo de todo o processo de produção e pós-produção.

A escolha de povoar, de criar essa paisagem visual para a paisagem escrita que ela deixou, também acho que foi impactada por esse jeito dela de escrever e de falar de coisas que normalmente não são tão poéticas, mas que falava com poesia. A gente foi meio levado para esse lugar junto com ela.

O amor, o tempo e a morte, tríade criativa da artista, ocupa todas as fases relatadas no filme. Do "nascimento" da escritora Fernanda Young ao impacto da morte dela, poesia e realidade caminham lado a lado durante a produção.

Acho que queria tratar a morte da Fernanda de uma forma poética. Falar, contar jornalisticamente o que houve, não me interessava. Aquele poema final, que ela fala, é um alívio. Acho que ela descansa também de um modelo de vida, de um mundo que é dolorido para ela.

Continua após a publicidade

Veja outros trechos da entrevista

Fernanda Young era roteirista, escritora, apresentadora, atriz e diretora
Fernanda Young era roteirista, escritora, apresentadora, atriz e diretora Imagem: Divulgação/Globo

Qual o impacto que a Fernanda teve na sua vida?

Eu entrevistei a Fernanda para um programa que eu estava fazendo no GNT, sobre maternidade, e ela foi de uma visceralidade, uma honestidade sobre amamentação, puerpério, depressão pós-parto, que eu saí com o meu cérebro fritando da casa dela. Eu falei: 'Caramba, cara, que importante isso que ela está dizendo. Ela está abrindo um portal para nós, mulheres, pararmos de sermos hipócritas com essa questão.'

O impacto da coragem dela, desde sempre, de estar num lugar onde ela era sempre diferente, desde o visual até a coragem de falar coisas que normalmente não se falava. Tem uma frase no filme que estou trabalhando na minha terapia até hoje, para você ver o impacto que teve esse filme, que é: 'Eu aceito não ser querida'.

Qual o desafio de organizar o pensamento labiríntico da Fernanda, como ela mesma dizia, em um filme?

Continua após a publicidade

Como trazer esse labirinto de emoções, palavras, pensamentos, desenhos e performances? Porque ela meio que era tudo isso. Ainda assim, isso fazia sentido. Eu acho que foi a parte mais complexa. É um filme de montagem. É um filme que cada frame foi bordado para que a gente refletisse um pouco essa coisa disruptiva de criação dela.

Como a maternidade está presente no documentário? Ela chegou a falar que a maternidade foi um ponto de transformação importante.

Eu trouxe essa pauta para o documentário porque foi uma das coisas que mais me impactou. Nós precisamos deixar de ser hipócritas e falar sobre maternidade de uma forma real. Eu acho que é a única maneira de a gente se libertar desse caos que nos colocam quando a gente engravida. Isso veio para o filme porque também era uma pauta constante para Fernanda.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.