Cantando só clássicos, Antunes e Calcanhotto surpreendem no Coala Festival

Eu estava pronta para me decepcionar com o show que juntaria Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes no Coala Festival. Imaginava que eles iriam entregar aquela velha MPB cansada, reunindo os clássicos dos dois artistas — o que, de fato, aconteceu.

Mas a surpresa veio dos novos arranjos que a banda — formada pelos músicos que acompanham Arnaldo, mais o guitarrista Pedro Sá, que toca com Adriana — deu às músicas. Foi aí que eles mudaram o cenário que eu havia construído na minha cabeça e entregaram um show belíssimo.

Na primeira música eu me rendi. E cantei todas do começo ao fim da apresentação. Os dois estavam ensaiadíssimos. Entregaram desde o dueto olho no olho até as clássicas dancinhas robóticas de Arnaldo. Ele fez até Calcanhotto pular junto.

Quando Arnaldo saiu do palco, Adriana se apossou de seu violão e entregou a sofrência rasgada de "Mentiras", "Vambora" e "Esquadros". Quem não se derrete com essas músicas? Talvez só a galera da geração Z, que não viveu o auge das novelas da Globo e suas trilhas sonoras, nem sintonizou a Antena 1, Alpha ou Globo FM.

Adriana Calcanhotto, que se apresentou com Arnaldo Antunes no Coala Festival 2024
Adriana Calcanhotto, que se apresentou com Arnaldo Antunes no Coala Festival 2024 Imagem: Divulgação

Imagina: "Mentiras", tema da personagem Mariana em "Renascer", interpretada por Adriana Esteves, nem entrou no remake da novela em 2024. Mesmo se você viveu os anos 1990, mesmo que ainda fosse criança, com certeza sabe completar: "Que é pra ver se você volta / que é pra ver se você vem?".

Já Arnaldo, quando sozinho com a banda, preenchia todo o palco com seus movimentos e jogo de corpo. Das românticas às suas músicas de poesia concreta, como as clássica "O Pulso" e "Comida", que gravou com os Titãs, empolgou geral.

E se consagra, a cada show, como um músico que sabe adicionar experimentalismo e inventividade ao pop, com poesia, performance, figurino etc. Não à toa, a gente reconhece sua figura de longe, por onde quer que ele passe.

Vestindo o terceiro figurino da noite, Adriana volta ao palco — agora de calça e blazer pretos e uma camiseta de paetês estampando a imagem de Arnaldo e o verso "Fora de si". Foi aí que rolou o ponto alto da noite.

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A banda transformou "Devolva-me" — trilha da sofrida personagem de Regiane Alves em "Laços de Família" — num brega suingado, à la Arnaldo Antunes no "Ao vivo lá em casa". "Fico assim sem você" virou um funkzinho-MPB. E, pasmem, "Velha Infância", dos Tribalistas, ganhou uma versão total reggae excelente.

Arnaldo Antunes, que se apresentou ao lado de Adriana Calcanhotto na noite de estreia do Coala Festival 2024
Arnaldo Antunes, que se apresentou ao lado de Adriana Calcanhotto na noite de estreia do Coala Festival 2024 Imagem: Divulgação

E a banda que fez isso tudo? Curumin na bateria, Betão Aguiar no baixo, André Lima nos teclados, Chico Salém no violão e Pedro Sá na guitarra. Quem acompanha a música independente sabe o peso desses nomes.

O gran finale se deu com "Fora de Si", mais uma música fora da curva no panteão da música popular brasileira, de Arnaldo, que também foi trilha do filme "Bicho de 7 Cabeças", da diretora Laís Bodansky. E é por essas — e outras — que a chamada do Coala para valorizar a música brasileira se justifica. Aliás, a toda a produção nacional aí envolvida, das novelas ao cinema.

Opinião

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