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OPINIÃO

Sepultura prova em SP que está mesmo na hora de se despedir da música

Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, no show de despedida na noite de sexta (6), em São Paulo Imagem: Yuri Murakami/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Rodolfo Vicentini

De Splash, em São Paulo

07/09/2024 11h30

Sepultura é a maior banda de metal da história do Brasil, e no primeiro show da turnê de despedida em São Paulo a tristeza do adeus pairava no ar. A mistura de sentimentos ao ver a banda ao vivo, ainda com lenha pra queimar, indica uma despedida quase que forçada, mas necessária.

Muitas bandas adiam o término e seguem no palco fazendo shows mornos, vivendo o brilho de outrora enquanto rodam o mundo em turnês que mais parecem caça-níqueis. O Sepultura decidiu colocar um ponto final em um bom momento: longe do auge dos anos 90, sim, mas com um quarteto sólido, técnico e que sabe como entregar um show.

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Que os últimos momentos ao vivo sejam exatamente esses: um quarteto em sintonia, uma banda de 40 anos de história com vigor, potência e que deixará saudade não só pelas músicas, mas também pela presença de palco. Tem hora melhor para se "aposentar"?

É inegável que a banda que subiu ao palco do Espaço Unimed na sexta (6), às 21h30, não é mais aquele Sepultura que cravou no metal a mistura da música brasileira, a percussão tribal e os acordes dissonantes pesados. Os irmãos Cavalera — o guitarrista/vocalista Max e o baterista Iggor — fazem muita falta dentro da comemoração de 40 anos do grupo, mas viver do passado, ainda mais depois de tanta rusga, é dramático para uma banda.

Derrick Green, vocalista do Sepultura, no show em São Paulo na sexta (6) Imagem: Rafael Strabelli/Espaço Unimed

O grupo conta com o vocalista Derrick Green desde 1997 e tá cansado de falar sobre o "antigo" Sepultura. Ainda mais agora: por que ficar no passado se o presente já é o fim?

O vocalista americano é estrondoso no palco. Simpático, conversa com o público e fala português com um sotaque carregado, dividindo a atenção com o guitar hero Andreas Kisser e a segurança do baixista Paulo Xisto. Para completar o quarteto, o novato Greyson Nekrutman sua a camisa para seguir o ritmo e as quebras de compasso nas baquetas — com pequenas falhas, mas que não atrapalham o vigor da performance.

O baixista do Sepultura, Paulo Jr., durante show em São Paulo na sexta (6) Imagem: Rafael Strabelli/Espaço Unimed

É bonito de se ver como a banda estava ansiosa para o trio de shows em São Paulo, sendo que o primeiro teve os ingressos esgotados em minutos, assim que anunciaram a turnê "Celebrating Life Through Death". Foi um show especial, gravado para a posteridade, e com a marca Sepultura.

Os hits sempre serão os mais celebrados, evidentemente. As quatro décadas da banda são relembradas com um setlist longo, tentando abraçar as diversas fases — o que é feito com maestria. Estão lá o thrash metal de "Arise", a velocidade de "Schizophrenia" e o groove de "Roots" e "Chaos A.D.", que depois deram lugar a mais nove álbuns.

Andreas Kisser na apresentação do Sepultura em São Paulo, na sexta (6) Imagem: Rafael Strabelli/Espaço Unimed

A porradaria sonora abre com a dobradinha "Refuse/Resist" e "Territory" antes de caminhar por "Propaganda", "Attitude", "Dead Embryonic Cells", "Troops of Doom", "Kaiowas" e mais. O encerramento é "Ratamahatta" emendando "Roots Bloody Roots".

Adeus

O Sepultura convive com as dúvidas há quase 30 anos. É a briga com a saída dos Cavalera, o vocalista que precisa se provar a cada álbum ou turnê, a saída do ex-baterista Eloy Casagrande para o Slipknot semanas antes da turnê de despedida, o peso do sucesso de "Roots" que nunca se repetiu, a falta que faz um segundo guitarrista no grupo...

Sim, o Sepultura não repetiu o impacto de "Roots" desde então, por outro lado, lançou álbuns sólidos nos anos seguinte como "Against", "Machine Messiah" e "Quadra", mantendo presença nos principais festivais do gênero na Europa e Estados Unidos.

E ao vivo a banda se garante, tecnicamente segura e com fãs que sempre estão dispostos a celebrar a aura das canções que revolucionaram o metal. Por isso esse é o momento perfeito para o adeus. Ninguém quer ver uma banda se arrastando no palco, com o vocalista sofrendo para alcançar as notas ou o guitarrista desleixado por não conseguir mais solar como nos velhos tempos.

Greyson Nekrutman, baterista do Sepultura, durante show em São Paulo Imagem: Rafael Styrabelli/Espaço Unimed

Seguindo o cântico ouvido pelas 8.000 vozes que lotaram o primeiro show em São Paulo, devemos sempre respeitar e lembrar: Sepultura é Brasil, porra! E isso nos enche de orgulho, mesmo que seja em tom de despedida.

O Sepultura volta a se apresentar no Espaço Unimed neste sábado (7) e domingo (8). Ainda há ingressos para a última apresentação.

Veja o setlist do show

  • Refuse/Resist
  • Territory
  • Propaganda
  • Phantom Self
  • Dusted
  • Attitude
  • Spit
  • Kairos
  • Means to an End
  • Convicted in Life
  • Guardians of Earth
  • Mind War
  • False
  • Choke
  • Escape to the Void
  • Intermission
  • Kaiowas
  • Dead Embryonic Cells
  • Biotech Is Godzilla
  • Agony of Defeat
  • Orgasmatron (Motörhead cover)
  • Troops of Doom
  • Inner Self
  • Arise
  • Ratamahatta
  • Roots Bloody Roots

Veja mais fotos

Andreas Kisser na despedida do Sepultura em São Paulo, na sexta (6) Imagem: Divulgação 30e

Com ingressos esgotados, Sepultura se apresenta na noite de sexta (6), no Espaço Unimed, em São Paulo Imagem: Divulgação 30e

Greyson Nekrutman, baterista do Sepultura, em ação em São Paulo Imagem: Divulgação 30e

Público lota o Espaço Unimed, em São Paulo, para ver o Sepultura, na sexta (6) Imagem: Divulgação 30e

Derrick Green, vocalista do Sepultura, no show de sexta (6), em São Paulo Imagem: Rafael Strabelli/Espaço Unimed

Paulo Jr, baixista da banda Sepultura, leva a turnê de despedida, 'Celebrating Life Through Death', para os paulistas, na sexta (6) Imagem: Yuri Murakami/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Greyson Nekrutman, baterista da banda Sepultura, durante show de despedida em São Paulo, na sexta (6) Imagem: Yuri Murakami/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Derrick Green, vocalista do Sepultura, que se apresentou na noite de sexta (6), no Espaço Unimed, em São Paulo, com a turnê 'Celebrating Life Through Death' Imagem: Yuri Murakami.Fotoarena/Estadão Conteúdo

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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