Música baiana fez São Paulo pular como se fosse fevereiro no Coala Festival
A música baiana esteve presente de diversas formas no último dia do Coala Festival, no domingo (8), em São Paulo. Primeiro, com o carioca Xande de Pilares cantando as músicas de Caetano Veloso no palco principal. Em seguida, a Orkestra Rumpilezz e Luedji Luna se apresentavam no Palco Tim, no Auditório Simón Bolívar, ao mesmo tempo em que o produtor musical e DJ soteropolitano Ubunto comandava o set depois da apresentação da banda 5 a Seco, também no palco principal.
O produtor fez as honras para o encontro inédito que viria em seguida, de duas grandes representantes da música afro-baiana: Timbalada e Afrocidade. A Afrocidade já havia se apresentado no Coala em 2019 e surgiu deles a ideia de convidar a Timbalada para compor o show. Eles já estavam apresentando em Salvador uma homenagem à banda criada por Carlinhos Brown no começo dos anos de 1990, no Candeal, em Salvador. Ou seja, são 20 anos de diferença entre uma e outra.
A sintonia entre Denny, vocalista da Timbalada, e Fernanda e Mazzone, da Afrocidade, surpreendeu quem assistiu ao show. Com muito mais tempo de estrada, claro, Denny dividiu de igual para igual o palco, sem reivindicar protagonismos. O Memorial da América Latina virou uma arena para celebração do ritmo e dos corpos — já que a dança, a roda e o contato físico são intrínsecos à música que fazem.
A Timbalada trouxe para São Paulo as músicas principais que marcam sua história: "Cachaça", "Toque de Timbaleiro", "Tonelada de Desejo", "Água Mineral", dentre outras. O repertório da Afrocidade não contrasta, exatamente, com o da banda veterana, mas adiciona o suingue da batida do pagodão, mais recente na história da música baiana, e traz o elemento da consciência social de maneira enfática.
A banda, que nasceu na cidade de Camaçari, fala da vida do gueto, sua vivência e, infelizmente, foi vítima daquilo que denuncia. Em maio deste ano, 2024, o guitarrista Fal Silva foi assassinado, mais uma vítima da violência que assola o estado da Bahia e atinge, sobremaneira, a juventude negra periférica.
Claro que não faltaram as clássicas rodas, as brincadeiras de colocar o público para correr, junto, de um lado a outro da plateia, e pedidos para pular e sair do chão, num imenso carnaval fora de época — mas sem ser uma micareta.
É importante que um festival de música brasileira como o Coala, que ressalta seu viés de aposta na MPB clássica, como vimos pelos artistas escolhidos para sua programação — Adriana Calcanhotto, Lenine, João Bosco etc. —, entenda a diversidade de ritmos que compõem nosso repertório popular e abra espaço para artistas como a Timbalada, Afrocidade e Joyce Alane.
Isso é fundamental para se deslocar tanto da questão regional, quanto da moralidade que assola classificações como a de "MPB".
O saldo do Coala no domingo (8) foi de lotação máxima, com o público se apertando — mas sem perrengue — do começo ao fim do Memorial para pular como se fosse fevereiro. Aliás, apesar de teoricamente ainda estarmos no inverno, o calor é como se fosse do auge do verão.
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