Travis Scott põe SP pra pular em show incendiário, mas longe de perfeito

Travis Scott fez um show de fogo e muita gente pulando na quarta-feira (11), no Allianz Parque. O rapper trouxe a São Paulo a estrutura completa de sua turnê 'Circus Maximus' e disse que, desde sua primeira passagem no Brasil, era uma missão fazer uma apresentação solo por aqui. Ele entregou um show com altos e baixos, que deve ser um bocado diferente do Rock in Rio — devido à estrutura do festival.

O norte-americano arrastou uma multidão de adolescentes e jovens dos seus 20 e poucos anos para o entorno de seu palco diferentão, que entra pelo público e tem diversas plataformas. Segundo a organização, a noite foi de estádio lotado, com 46 mil pessoas.

Travis Scott despontou no rap e no trap com seu som energético e cheio de psicodelia, que segue reverberando lançamento após lançamento, a ponto de ter os brasileiros em suas mãos no Allianz quando apresentou diversas faixas do recente disco "Utopia", de 2023.

O rapper parece que gosta de vir ao Brasil depois de uma confusão. Em 2022, em sua estreia no país, ele tinha vivido o drama da morte de fãs pisoteados em um show nos EUA.

Agora, o norte-americano retornou a São Paulo um mês após ser detido em Paris, acusado de agredir um segurança. Ele, que também foi marido de Kylie Jenner, do clã Kardashian, deixa toda a vida pessoal para trás quando pega o microfone.

No entanto, ali no palco, nem tudo funciona com a perfeição dos discos. O som no Allianz estava complicado. Da pista se ouvia os graves, a voz e mais nada. Quase não dava pra saber o que estava rolando.

Travis Scott diante do Allianz Parque na noite de quarta (11), em São Paulo
Travis Scott diante do Allianz Parque na noite de quarta (11), em São Paulo Imagem: Reprodução/YouTube Filipe Ret

Travis também tem uma questão com os vocais. Se não se apoia totalmente em gravações, como muitos artistas atuais, seu jeito de cantar descaracteriza muito as canções. É como se o rapper fosse ele próprio uma pessoa ali do seu público mais jovem e simplemente cantasse a plenos pulmões - até em hits que mereciam mais controle e até afinação.

Isso quer dizer que o show foi ruim? Nem sempre. Nas músicas menos conhecidas, o som embolado deixou o público confuso e um tanto estático. Do meio para o fim, com as músicas mais conhecidas, enfim sua energia foi devolvida pelo público. Isso quer dizer: rodas enormes de gente pulando e se empurrando.

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Show de um homem só

Travis é, basicamente, a única atração de seus shows, dividindo espaço com a pirotecnia e um telão enorme que fica de frente para o público.

Nele as imagens são coloridas e lisérgicas, com passagens do show. Essa camada psicodélica do rapper é um de seus fortes — mas pouco aproveitado no ao vivo.

O hip hop destronou o rock na década de 2010 como o gênero mais ouvido nos EUA. E em meio a um mar de estrelas do rap e do trap, nem todos são muito diferentes de seus pares. No caso de Travis Scott, o apelo está em seu som misturando rap e trap com um instrumental "viajandão" — como se colocasse em música as imagens de uma trip lisérgica.

No palco, a pegada foi mais forte e menos viajante, com uma só ordem: pular. Travis trouxe muitas músicas com feats, com vozes famosas surgindo ao fundo, como Beyoncé, em "DELRESTO (ECHOES), e fez covers, como "Praise God", de Ye (Kanye West), e "Aye", de Lil Uzi Vert.

Mas o que mostra a relevância de Travis é a quantidade de músicas de seu disco mais recente e sua recepção. Todo o show é construído em torno de "Utopia", de 2023, começando com a abertura do álbum, "Hyaena", e fechando a apresentação com "Telekinesis", que conta com SZA e Future na gravação original. "I Know?" foi uma das mais bonitas, com o público entoando o refrão para o bairro inteiro ouvir.

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Assista ao momento em que Travis Scott canta 'Mamacita'

O hit de "Utopia" é "FE!N" - curiosamente tocada por The Weeknd no show realizado no Morumbi no último sábado (7). E Travis Scott parece gostar tanto que a toca repetidas vezes, em sequência, levantando o público em todas elas - todas as sete (!) vezes.

Para não dizer que Travis brilha sozinho, ainda teve vez para os sortudos do público. Logo no começo, em "sdp interlude", quatro jovens foram chamados para cantar e pular com o rapper. Um garotinho também subiu para ajudar nos vocais da clássica "goosebumps" e ganhou uma camiseta do ídolo.

No fim, parece que Travis Scott faz um show pra ele mesmo. O importante ali é que ele se divirta. Pular, cantar sem amarras, acender canhões de fogo e, se gostar, repetir sete vezes. De quebra, ele faz 46 mil pessoas se divertirem junto.

Para quem vai ver Travis Scott no Rock in Rio, nesta sexta-feira (13), à meia-noite, a dica é vestir sapatos confortáveis, por que, se em São Paulo o rapper botou todo mundo pra pular, a energia deve ser alta para um festival deste porte, ainda que a estrutura de seu show solo deva ficar diminuída pelos limites do Palco Mundo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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