Black Pantera afirma força revolucionária do ódio e do amor no Rock in Rio
"Muito importante esse palco. Tem muita banda maneira representando o movimento inteiro pra filha da puta não falar que não tem rock no Brasil." A fala do guitarrista Charles Gama, do Black Pantera, referindo-se ao palco Supernova do Rock in Rio, neste domingo (15), não foi bravata. Com uma pressão que varreu como uma tempestade de trovões seu pedaço de chão do festival, a banda confirmou num show de 30 minutos seu lugar na primeira linha do peso produzido no Brasil — algo que já tinham anunciado na Cidade do Rock em 2022. Direta e precisa nas letras e nos riffs, sem dar voltas em seus recados, é soco no estômago de racistas e fascistas de toda ordem. Na homenagem à mãe de Charles e do baixista Chaene, seu irmão, o trio de Uberaba mostrou que domina o amor com a mesma maestria com que domina o ódio — amor e ódio embebidos na condição de negros que carregam na pele e na alma.
MANOS
Uma fala de Mano Brown é ouvida nos primeiros instantes do show. Noutro momento, lembram Djonga antes de cantar "Fogo nos Racistas", canção deles que ecoa o mesmo apelo que o rapper canta em "Olho de Tigre". Assim, marcam sua ligação com o rap -- com quem se irmanam na luta antirracista.
PAPO RETO
Boa parte da força das letras da banda residem no recado direto e contundente. Há versos como "Foda-se seu hype", "A coisa tá linda/ A coisa tá preta", "Sou a revolução e trouxe o bairro todo". Potencializadas pelos riffs-terremoto do baixo e da guitarra e pela bateria enfurecida, o apelo é arrebatador. Os urros e rodas da plateia confirmavam.
GIRL POWER
Um dos momentos altos do show foi quando Charles convocou uma roda "só de minas". Elas atenderam e saindo de todos os cantos da plateia, correram pro meio e se lançaram no mosh.
MÃE
Charles e Chaene se emocionaram ao tocar "Tradução", homenagem à mãe deles. Ela também subiu ao palco chorando. A calma da canção, em vez de contrastar com o peso geral, tornou ainda mais nítida a perspectiva política da banda. Ali, deixaram evidente que a figura materna, ainda mais poderosa e central na vida negra e periférica, é uma afirmação revolucionária em si.
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