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Muito além dos super-heróis: confira 5 dicas de HQs para todas as idades

Jason Lutes, Paola Yuu Tabata e Luckas Iohanathan são os autores indicados da semana Imagem: Divulgação

De Splash, em São Paulo

15/09/2024 05h30

Histórias em quadrinhos muitas vezes são associadas ao público infantil ou aos contos de super-heróis da Marvel e da DC. Neste domingo (15), o colunista Rodrigo Casarin e a repórter Luiza Stevanatto, de Splash, trazem cinco dicas de HQs para todas as idades. Confira:

"Berlim", de Jason Lutes (Veneta, tradução de Alexandre Boide)

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Rodrigo Casarin - Uma capital alemã cheia de ressentimento após a derrota na Primeira Guerra Mundial. A extrema-direita abraçada à polícia que apoia políticos que ascendem enquanto a decepcionante República se desmancha. A descrença com o sistema político.

"Berlim" é o trabalho da vida do norte-americano Jason Lutes, que levou mais de 20 anos para concluir as quase 600 páginas do tijolo sobre a ascensão de Adolf Hitler. É uma HQ preciosa por captar como a deterioração social e moral fez com que parte importante da sociedade alemã bancasse a estupidez nazista.

"Bem-vinda de Volta", de Paola Yuu Tabata (Seguinte)

Luiza Stevanatto - Hikari é uma jovem no processo de descobrir e entender sua própria identidade. Apesar de ter nascido no Brasil, seus avós vieram do Japão e, por isso, ela carrega, além dos traços, hábitos e elementos da cultura japonesa. Ela sente dificuldade, desde a infância, de se encaixar e se sentir pertencente a lugares além de sua comunidade, lugares onde é vista e tratada como uma pessoa diferente.

Todo em preto, branco e amarelo, "Bem-vinda de Volta" traz uma leitura muito gostosa para qualquer um, sem exigir necessariamente identificação com as questões enfrentadas pela autora. Sobretudo, é uma história que trata de ancestralidade, amizade e pluralidade. Sem ser exageradamente didático, também apresenta muitos aspectos interessantes da cultura japonesa ao leitor.

"Como Pedra", de Luckas Iohanathan (Comix Zone)

Rodrigo Casarin - Dos melhores quadrinhos nacionais que li nos últimos tempos, este trabalho de Luckas Iohanathan me fez lembrar de nomes como Graciliano Ramos. Num sertão paupérrimo e desesperançado, um casal busca por algum alento, amparo e respostas para as provações pelas quais precisam passar.

Um suposto caminho aparece travestido de solução mágica. Que entreguem a vida pela qual lutam à vontade de Deus, anuncia o profeta, recebido com uma mistura de esperança e desconfiança que abalará a relação do casal. "Como Pedra" é feito de olhares, expressões bem construídas pelo artista e silêncios rompidos, quando muito, por diálogos truncados. Quem domina a oratória parece ter o poder de decidir pelo rumo da vida que rareia conforme a seca avança e a fome atormenta.

"O abominável Sr. Seabrook" de Joe Ollmann (Quadrinhos na Cia., tradução de Érico Assis)

Luiza Stevanatto - Recém-lançado, "O abominável Sr. Seabrook" é uma verdadeira viagem é uma biografia do jornalista americano William Seabrook em formato de quadrinhos. Seu nome não é muito conhecido no Brasil, mas Seabrook foi o responsável por popularizar os zumbis na figura pop, mas para além disso, ficou conhecido por suas reportagens bizarras sobre, entre outras coisas, canibalismo e ocultismo. O livro, porém, não trata só de seu trabalho e investiga os aspectos mais obscuros da vida de Seabrook, adepto de fetiches, alcoólatra e obcecado por dor e degradação.

"Grama", de Keum Suk Gendry-Kim (Pipoca & Nanquim, tradução de Jae HW)

Rodrigo Casarin - Em 1937 estourou entre a China e o Japão um conflito que cresceria e se arrastaria até o final da Segunda Guerra Mundial. Numa Coreia arrasada pela fome, uma garota é vendida pela família e, depois, acabaria sendo feita de escrava sexual pelo Exército Imperial Japonês.

"Grama" é um sul-coreano quadrinho multipremiado a respeito de violências diversas, especialmente a praticada contra mulheres. Também é uma narrativa sobre busca por justiça e reparação histórica. É um trabalho focado na trajetória de Ok-sun Lee, que, após sobreviver ao pandemônio, precisou ainda enfrentar o preconceito, o descaso e a miséria e, resiliente, se transformou numa ativista na luta para que o Japão reconhecesse e reparasse seus crimes de guerra.

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