OpiniãoRock in Rio

Whindersson encarna rapper, joga pantufas e ri de si mesmo no Rock in Rio

Whindersson Nunes distribuiu para a plateia do Rock in Rio uma fartura de calçados e de versos com Auto-Tune na noite desta quinta-feira, 19. Foi a segunda vez seguida de Lil Whind, nome do seu projeto rapper, no Palco Supernova, espaço alternativo do festival. Houve momentos divertidos na música, mas o próprio artista mostrou consciência de que a faceta MC não tem tanta força quando a mais conhecida, de humorista. "Que bom que minha música não faz tanto sucesso, porque a gente faz só um show por ano. Em compensação é no Rock in Rio", ele brincou.

NEPOBABY DE SI MESMO
Em 2022, ele distribuiu tênis importados para o público. Neste ano ele anunciou que faria o mesmo, mas agora com um modelo exclusivo, feito pelo estilista Dario Mittmann -- era uma espécie de pantufa alaranjada e peluda. Bancar presentes para quem for ao show reforça a imagem incômoda de que ele chegou ao palco pelo privilégio fora da música -- uma espécie de "nepobaby" de si mesmo. Mais merecido do que para um herdeiro da MPB, convenhamos. Ele ainda foi humilde quando brincou: "Obrigado a você que passou indo para o banheiro fazendo xixi e parou para ver o show".

GANGORRA DE HUMOR
A voz toda modificada com Auto-Tune segue o padrão do trap, vertente popular do rap que dominou o primeiro dia do festival. Algumas letras de Whindersson são mais sérias do que se espera de um humorista. Ele emula os MCs autocentrados do trap, com os versos "eu contra o mundo" de "Patamar", "Piauí" e "Mídia". As faixas reforçam os discursos recentes de Whindersson sobre depressão e ansiedade.

CLIMA SÉRIO
O momento mais sério do show foi um protesto contra as queimadas no Brasil. Whindersson distribuiu um tamanduá de pelúcia para uma criança no palco e disse: "Talvez os filhos dos seus filhos não vejam esse animal". Mas a seriedade tem limite. Esses versos constataram com a zoeira de "Trap do gago" e a autoironia de "Alok" ("Eu chorei ouvindo Alok").

TRAPISADINHA
No campo engraçado e inspirado se destacou "Popó", que faz piada com adversário no boxe (outra aventura profissional de Whindersson). "Popó soca todo mundo, só quero socar em você", ele canta. A parceria com Matheus Fernandes tem ritmo de "trapisadinha", fusão dos derivados modernos do rap e do forró.

GUITARRISTA
Whindersson ainda pegou a guitarra para fazer dois solos virtuosos, de quem se esforçou. É um momento fofo. O fato de ele seguir neste palco menor após dois anos mostra que Lil Whind está longe de emplacar como na carreira de humorista, e segue como curiosidade na música. A leveza de rir de si mesmo fez o show ficar mais legal.

Opinião

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