OpiniãoRock in Rio

Carminho usa delicadeza do fado para vencer axé music no Rock in Rio

"Agradeço por este convite inusitado, que criou uma pequena casa de fado no meio do Rock in Rio." Carminho abriu seu show no Global Village com essas palavras. À distância, mas com volume suficiente para atrapalhar a apresentação, os últimos acordes de Ivete Sangalo (láaaaa no Palco Mundo) ainda trovejavam. A portuguesa não se intimidou. Sua voz poderosa e o acompanhamento delicado de um quinteto sem seção rítmica bastaram para levar os cariocas Atlântico afora.

INCONVENIENTE
No início do show, Carminho estava visivelmente incomodada com o axé supersônico de Ivete. Ainda assim, riu por último. "Tira o pé do chão!", pediu, irônica, ao iniciar a canção "Se Vieres".

FADO E MAIS
Ela cantou fados melancólicos como "O Quarto (Fado Pagem)", famosa por ter sido incluída no filme "Pobres Criaturas", e "Escrevi Teu Nome no Vento". Mas também passou pela animada "Marcha de Alcántara de 1969". O clima pesa mesmo na sombria "Meu Amor Marinheiro", com uma guitarra distorcida em primeiro plano.

MPB
Houve ainda um bloco de canções brasileiras, naturalmente bem recebidas. "Chuva no Mar", da parceira e amiga Marisa Monte; "Sabiá" (Chico Buarque/Tom Jobim), em versão de dramaticidade contida; e "Carolina", do mesmo Chico. O encerramento do show é com "O Vira", celebrizada pelos Secos & Molhados.

PROGRESSISTA
A importância de cantar num dia estrelado apenas por mulheres não escapou à fadista. "A história do fado é muito machista. Os artistas atuais têm que descartar essas tradições e deixa-las no passado", discursou Carminho antes de cantar a gaiata "Pedra Solta".

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