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Nunca fui fã dos vídeos religiosos do Porta dos Fundos, diz Antonio Tabet

Antonio Tabet relembra atentado contra sede do Porta dos Fundos Imagem: Divulgação

De Splash, em São Paulo

21/09/2024 05h30

O texto bíblico é tema recorrente em vídeos do Porta dos Fundos. Os esquetes, que colocam figuras como Jesus em situações improváveis, ainda dividem opiniões em um Brasil marcado pela polarização política.

Antonio Tabet, 50, apesar do que muitos podem pensar, diz que nunca foi fã das produções que exploram a temática. O humorista, que estreia a peça "Peçanha - Protocolo de Segurança" neste sábado (21), em São Paulo, é um dos fundadores da produtora.

Normalmente [as reações negativas] vêm por causa dos conteúdos religiosos. Eu, por exemplo, não sou muito fã disso no Porta. O Porta, apesar de ser um coletivo, ele tem um tipo de processo criativo que é muito individual. Eu, por exemplo, nunca fui fã desses vídeos religiosos do Porta —pessoalmente falando. Tabet

Imagem do especial 'A Primeira Tentação de Cristo' Imagem: Reprodução

O especial "A Primeira Tentação de Cristo" (2019) é um dos exemplos mais polêmicos. No roteiro, Jesus Cristo (Gregório Duvivier) está prestes a completar 30 anos, quando é surpreendido com uma festa de aniversário ao voltar do deserto, onde se descobre gay e começa a namorar outro rapaz, Orlando (Fábio Porchat). Além disso, Deus é retratado como mentiroso.

A produção despertou a ira de religiosos e políticos de direita. Além disso, o grupo foi alvo de um atentado em uma antiga sede. À época, o prédio foi atacado por bombas e teve um princípio de incêndio controlado.

Antiga sede da produtora Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, foi alvo de ataque a bomba em 2019 Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Para Tabet, o cenário hoje é um pouco diferente do observado naquele ano. "As diferenças ainda existem, a gente ainda vive em uma sociedade rachada, mas acho que está menos cáustico, menos bélico. Sinto que as pessoas estão um pouco cansadas."

Eventualmente aparece um e outro aventureiro, a gente está vendo o que está acontecendo em São Paulo [com a candidatura de Pablo Marçal à prefeitura], que aposta no caos. E dá certo, mas dá certo por um determinado tempo. Eu prefiro ser otimista. Que, no fim das contas, a gente pode dar certo como sociedade.

Peçanha: um instrumento de reflexão

Antonio Tabet no palco do 'MTV Miaw 2022' Imagem: Reprodução/Twitter @PlutoTVBR

É neste contexto de polaridade que Peçanha aparece como um instrumento de reflexão. Tabet, que está em cartaz com o personagem no Teatro Gazeta, acredita que o policial é um retrato fiel da sociedade brasileira.

O Brasil é um país racista, machista, homofóbico. E o brasileiro acha que não é nada disso. Ele acha que no Brasil não tem racismo. O Brasil tem essa dicotomia. É hiperconservador e hiperliberal. O Peçanha é um pouco isso. Ele expõe e ele também fala que isso é crime.

O humorista utiliza o personagem para abordar a "hipocrisia de um jeito tão absurdo, tão exagerado, que fica nítido", como ele mesmo afirma. Peçanha, apesar de ser um "agente da lei", reproduz sem filtros os preconceitos comuns a uma parcela da população.

Antonio Tabet como Peçanha Imagem: Reprodução/@antoniotabet no Instagram

O personagem funciona como um espelho distorcido, exagerando os traços da realidade para que o público possa enxergar com mais clareza o preconceito. O riso, nesse contexto, não serve para aliviar a consciência, mas para despertar o público para a necessidade de se discutir e combater essas questões.

O humor não só anestesia. O humor não faz só a gente rir. O humor informa. O humor educa. E educa também a partir dessas cores carregadas no exagero. De expor essa nossa hipocrisia de um jeito tão absurdo, tão exagerado, que fica nítido. Não tem como passar batido. As pessoas riem muito. E algumas vezes eu percebo que elas não estão acreditando nas barbaridades que aquela personagem está dizendo.

E é por meio do humor que o personagem consegue um dos feitos mais difíceis do Brasil atual: agradar pessoas da direita e da esquerda. Segundo o seu próprio criador, Peçanha consegue ser popular porque retrata uma figura real, que "todo mundo em algum momento da vida já lidou".

Todo mundo já esteve diante dessa figura com algum tipo de poder e nitidamente não está preparado para exercê-lo. Essa familiaridade acontece com todo mundo [...] Os policiais adoram [o personagem Peçanha]. É muito comum eu encontrar policiais na rua que pedem foto. Falam que parece com o chefe deles. Mostram figurinhas de Whatsapp. A reação é sempre muito boa.

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