Para Ney Matogrossso, atração do 1º Rock in Rio, tempo passa mas não pesa
Em 2024, Ney Matogrossso vem empreendendo a mais ambiciosa turnê de seus 50 e tantos anos de carreira. Seu show no palco Sunset apenas reproduziu o espetáculo que está na estrada há vários anos. Ninguém na Cidade do Rock reclamou. Aos 82 anos, Ney ainda performa em altíssimo nível, escorado num repertório conhecido, mas não óbvio, e em um time de ótimos músicos. Seu rosto gigantesco, ampliado nos telões, não esconde as oito décadas de vida. Mas não se vê velhice ali, e sim dignidade, elegância e assertividade em cada decisão estética.
NADA TRIVIAL
Nas mãos de Ney e dos músicos dirigidos por Sacha Amback, o setlist da tour "Bloco na Rua" subverte expectativas de cara. Começa com o Carnaval tristonho e solene de "Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua", segue pelo rock de "Jardins da Babilônia" e repagina "O Beco", dos Paralamas, com dolência.
DUAS DE ITAMAR
Ney canta duas canções de Itamar Assumpção. "Já Sei" vira samba tingido de reggae. A outra, "Já Que Tem Que", chega com sotaque caribenho reforçado pela metaleira.
INTIMISMO
Para apresentar "A Maçã", de Raul Seixas, o cantor senta-se em uma cadeira no centro do palco, sob o foco de um refletor. A sutil interpretação arranca (de homens e mulheres) berros e juras de amor na plateia. Ney devolve: "Eu também amo vocês".
QUER DANÇAR?
Ney não saracoteia mais como no começo da carreira. Mas arrisca passos contidos, embalado pelo samba/rumba de "Yolanda" e no balanço de "Já Que Tem Que". E também na sacudida versão de "O Último Dia", que exorciza o tom fatalista da composição de Paulinho Moska.
HIT PARADE
Os clássicos vêm no final. "Sangue Latino" (Secos & Molhados), recriada em arranjo rock; "Poema" (Frejat & Cazuza); "Balada do Louco" (original d'Os Mutantes). E, ao resgatar "Pro Dia Nascer Feliz", como fez na edição de 1985, relembra sua ligação com a história do Rock in Rio.
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