Por que Silvio Santos vendeu Record a Edir Macedo? História tem 3 versões
A compra da Rede Record pelo bispo Edir Macedo é considerada um dos principais acontecimentos da televisão brasileira. Mas há três versões para essa história: a de Silvio Santos, a da família Machado de Carvalho e a do bispo Edir Macedo. Os dois primeiros detinham as ações do grupo de comunicação, que estava afundado em dívidas e foi vendido em 1989 por US$ 45 milhões (R$ 250 milhões na cotação de hoje).
Versão de Silvio Santos
Silvio Santos possuía 50% das ações da Record. O dono do SBT comprou a sua participação em 1973 e queria vendê-la desde 1984. Segundo o livro "A Fantástica História de Silvio Santos" (Editora do Brasil), publicado em 2000, ele fechou negócio com o empresário João Havelange e a rede mexicana Televisa, mas Havelange desistiu.
Dívidas no SBT intensificaram o desejo de vender a Record. Livro aponta que valor dos saldos era três vezes superior ao faturamento mensal da emissora.
"Grupo de pastores" se interessou na compra e fechou negócio rápido. Executivo Luiz Sandoval, que deixou o cargo de presidente do Grupo Silvio Santos em 2010 após 28 anos, diz em trecho do livro que "dois ou três pastores chegaram dizendo que queriam comprar a Record". "Eu, sem menosprezar ninguém, dei o preço e as condições de pagamento. (...) Após alguns dias, voltaram com um cheque de US$ 5 milhões", conta.
Versão da família Machado de Carvalho
Silvio Santos opinava apenas nas finanças da Record. Livro "O Marechal da Vitória" (A Girafa) diz que ele tinha acordo com a família Machado de Carvalho para não influenciar no conteúdo exibido.
Potencial rivalidade teria feito Silvio Santos abandonar negócio com a Televisa. Dono do SBT teria desistido da venda após descobrir o envolvimento da rede mexicana. "Não interessava ao animador vender sua parte das ações a uma empresa tão forte como a Televisa", indica o livro.
Família Machado de Carvalho decidiu pela venda, e não Silvio Santos. Patriarca da família e fundador da Record, Paulo Machado, chamou os filhos e netos para pedir que vendessem a emissora em um "bom negócio".
Empresário foi enviado em sigilo pela Igreja Universal do Reino de Deus para negociar. Alberto Haddad fez uma proposta de US$ 45 milhões, representando "uma nova corporação que preferia se manter em sigilo".
Silvio Santos só aceitou após saber o nome do comprador. Valores das parcelas dadas como sinal divergem nos dois livros: seriam US$ 1 milhão ou US$ 5 milhões (segundo as versões da família Machado de Carvalho e de Silvio Santos, respectivamente). Há relatos de brigas devido à falta de pagamento e o pedido dos novos donos para adiantar o controle das operações da Record, algo que só ocorreria após o fim dos débitos.
Edir Macedo, que se mantinha em anonimato, revelou a identidade neste momento —como mostra o trecho abaixo:
Quando se ensaiava mais um desentendimento entre os negociantes, um baixinho, careca, de óculos, levantou-se da cadeira irritado e jogou o cheque sobre a mesa: 'Meu nome é Edir Macedo. Vamos acabar logo com isso! Aqui estão os cinco milhões'
Livro "O Marechal da Vitória"
Versão de Edir Macedo
Bispo diz que recebeu informações privilegiadas de funcionário de Silvio Santos. Edir Macedo conta no livro "Nada a Perder 2" (Planeta) que Demerval Gonçalves, morto em 2017 e que foi executivo na Record, o informou sobre a crise financeira na emissora. "A empresa faturava US$ 2,5 milhões por ano e acumulava US$ 20 milhões em contas a pagar. No fechamento do balanço do ano de 1989, a Record não sobreviveria", diz a obra.
Edir Macedo afirma que temia preconceito e enviou pastor para fechar o negócio em seu lugar. Laprovita Vieira, eleito deputado federal em 1990, veio a São Paulo como estratégia para não desconfiarem que Macedo estava por trás da negociação.
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Quero receberEu sabia que, se aparecesse logo de imediato, a negociação seria superfaturada ou desfeita possivelmente por preconceito.
Edir Macedo, no livro "Nada a Perder 2"
Líder da Universal revelou a sua identidade em uma reunião onde se disfarçou de motorista. Ele conta que tirou o disfarce após um desentendimento sobre o valor da segunda parcela do sinal. "Eu sou o bispo Macedo. Sou eu quem estou à frente da compra da Record. Vamos resolver de uma vez por todas esta situação."
Macedo diz que Silvio Santos quis desistir da venda. Os dois teriam se encontrado pessoalmente depois, mas o dono do SBT aceitou o acordo, pois não tinha dinheiro para pagar as dívidas da Record.
Dívida da venda foi quitada por "ação de Deus", segundo o bispo. Ele conta que a desvalorização do dólar durante o governo de Fernando Collor o ajudou a pagar as prestações por valores menores e encerrar a dívida antes do final de 1992. "Cada um acredite no que desejar. Eu tenho certeza absoluta que foi a ação de Deus", afirma.
*Com informações de reportagem do UOL de setembro de 2013.
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