Mãe de Priscila Belfort tem esperança de achá-la: 'Ninguém me deu o corpo'

"Volta Priscila", série sobre o desaparecimento de Priscila Belfort, estreia na próxima quarta-feira (25) no Disney+. O desaparecimento da irmã do lutador de MMA Vitor Belfort completou 20 anos no início deste ano, ainda sem solução.

Justamente por nunca ter tido nenhuma pista contundente, Jovita Belfort, mãe de Priscila e Vitor, mantém a esperança de encontrar a filha. "A esperança de toda mãe é encontrar seu filho com vida. A dona Ivanise (fundadora do Mães da Sé), de 15 em 15 dias está nas escadarias da Igreja da Sé com as fotos de desaparecidos. A foto da Priscila sempre está lá" disse Jovita em conversa com a imprensa a qual Splash participou.

Tem mais de 30 anos que a filha dela desapareceu. Ela tinha 8 ou 9 anos. Ela tem esperança. Todos nós temos esperança, porque até hoje ninguém me deu o corpo da Priscila. Jovita Belfort

A mãe de Priscila diz que adoeceu durante a produção do documentário, que durou 4 anos. "Mas eu acho que [produzir o documentário] valeu a pena. E vendo então, depois, mais ainda, por vocês poderem conhecer a verdadeira Priscila. A irmã, a filha, a sobrinha. Então valeu o sofrimento".

O principal objetivo com a produção era mexer no caso novamente —o que deu certo, já que a investigação foi reaberta. "Ela não foi abduzida. Alguém sabe [o que aconteceu]. Então há uma expectativa de um vizinho, de um amigo, de um parente falar. Eles podem pensar: 'agora eu posso falar, ter mais segurança de falar', porque se passaram 20 anos".

Outro objetivo é discutir os protocolos existentes em relação a desaparecidos. "São 80 mil pessoas que desaparecem por ano no Brasil, sendo que quase a metade é criança e adolescente".

Críticas à investigação e à cobertura da imprensa

Vitor Belfort diz até hoje não entender porque a polícia insistiu em uma única linha de investigação, a de que Priscila fora sequestrada. "Isso é inaceitável, inexplicável. Tiveram muitas falhas, lacunas e omissões na investigação. E ninguém investigou o que estava acontecendo nas duas últimas semanas [antes de Priscila desaparecer]".

O lutador pede que a investigação seja movida da Delegacia Antissequestro para a Delegacia de Descoberta de Paradeiros. "Isso é um direito da minha família. Não só investigar, mas reinvestigar. Existem muitos outros suspeitos no caso. Foi o que falei no documentário: todo mundo é suspeito desde que se prove o contrário".

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Esse caso, na minha opinião, poderia de repente ter sido resolvido em 2004. Vitor Belfort

Jovita também critica a teoria de que Priscila era dependente química. "Na época do Orkut, alguém lá falou que Priscila era 'viciada' e dali surgiu [o boato]. Mas nunca ninguém bateu na minha porta para saber quem era a Priscila".

Eu até queria ir contra o jornal, porque foi absurdamente escroto. Mas não deixaram, porque eu ia sofrer mais. Mas [a mídia precisa] procurar saber quem é aquela pessoa de quem estão falando. Não repete só porque ouviu falar que ela era 'viciada', que subiu o morro. Eu acho que o fato de a imprensa tocar só nessa questão de 'tráfico', 'Priscila viciada', atrapalhou bastante, infelizmente. Jovita Belfort

"A gente escutou muitas histórias ruins, muitas criaram uma Priscila que não existia. E as autoridades, sem nenhuma sensibilidade, seguiram uma linha de raciocínio, que —vocês vão ver no decorrer do documentário— estava totalmente errada e continua totalmente errada", comenta Joana Prado, mulher de Vitor.


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Relembre o caso

Priscila atuava como servidora na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro, sido vista pela última vez em 9 de janeiro de 2004, quando saía do trabalho para almoçar com o namorado. Ela nunca chegou ao local combinado. Desde então, boatos e denúncias deram contornos de mistério para a história ainda sem conclusão judicial.

Após dois dias sem ter notícias de Priscila, a família denunciou o desaparecimento à polícia. Não houve nenhum pedido de resgate. O caso ganhou bastante repercussão midiática devido a Vitor, que, na época, despontava na carreira como lutador e estava recém-casado com Joana Prado, a ex-Feiticeira.

Muito se especulou sobre os motivos que levaram Priscila a não ter sido mais vista: desde confusão mental, pois ela já havia apresentado lapsos de memória, a dívidas por uso de drogas, devido a uma denúncia feita em 2007. Na época, Elaine Paiva da Silva se entregou à polícia afirmando que ela e um grupo de pessoas tiveram envolvimento no assassinato de uma vítima que, supostamente, seria a ex-servidora.

A única pista não levou à conclusão do caso. Elaine disse ter feito parte de um sequestro que virou assassinato, mas a polícia nunca encontrou nenhum corpo. Seis suspeitos chegaram a ser presos na época, mas todos foram soltos, e a família seguiu sem respostas.

Fizeram uma investigação, reviraram a terra e disseram que os ossos encontrados eram de animal. Depois disso, acho que houve uma falha: não continuaram investigando ela [Elaine] e a turma. Jovita Belfort, mãe de Prsicila, em entrevista ao UOL Esporte em 2023

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A família negou que Priscila tivesse envolvimento com drogas e disse não acreditar que ela possa ter se envolvido em dívidas para proteger algum ex-namorado. Na época, o lutador afirmou que a família forneceu à Delegacia Antissequestro do Rio de Janeiro os nomes de todos os ex-namorados da irmã. Belfort disse que teve pouco contato com o namorado de Priscila na época em que ela desapareceu, e afirmou desconhecer qualquer envolvimento dele com drogas.

A polícia trabalhava com a hipótese de homicídio, mas a família não descarta que ela possa estar viva. Após investigações, as suposições foram descartadas e o caso foi arquivado, mas, com o anúncio da série, a investigação foi reaberta pelas autoridades cariocas.

Além do desaparecimento, "Volta Priscila" abordará também como o caso Priscila Belfort ajudou a mudar a maneira como autoridades lidam com pessoas desaparecidas. Um exemplo disso foi a criação de uma delegacia especializada em desaparecimentos no Rio, em 2012. Até então, familiares eram obrigados a lidarem com a delegacia de homicídios.

*Com informações do Estadão

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