OPINIÃO
Antes do Brasil, Eric Clapton faz show intimista e emotivo em Buenos Aires
Sylvia Colombo
Colaboração para Splash, em Buenos Aires
24/09/2024 05h30
Um público essencialmente grisalho se juntou na noite de sexta (20) e praticamente lotou o estádio do clube portenho do Vélez Sarsfield, para ver o show de seu ídolo veterano, Eric Clapton, 79.
Era notória a sintonia harmoniosa entre seus fãs de tantas décadas, e que conheciam suas canções e balançavam a cabeça com os olhos vidrados, e um artista tão experiente, de poucas palavras, mas carismático, que levou adiante um show curto, porém eficiente e bastante emotivo.
Relacionadas
É provável que os shows que ele faz no Brasil a partir desta terça (24) serão com temperaturas mais altas do que o concerto em Buenos Aires. O certo é que Clapton e sua banda apareceram numa ainda fresca noite pré-primaveral usando estilosos ponchos típicos da Argentina e lenços ao estilo "gaucho".
O poncho do cantor ia até a metade da perna. No mais, usava jeans, mocassins e um boné e empunhava uma guitarra com as cores da bandeira da Palestina. Bem mais magro do que no auge de sua carreira, poderia-se dizer que Clapton poderia sair à rua comprar empanadas ou algum presente sem absolutamente ser reconhecido.
Abertura
A noite começou com duas atrações de abertura, o também veterano roqueiro argentino David Lebón, cuja influência bebe diretamente na fonte de Clapton, e o norte-americano Gary Clark Jr., 40, apadrinhado pelo músico e conhecido pela mídia norte-americana especializada como "o futuro do blues texano". Clark acompanha Clapton no Brasil.
'Ele toca muito': leia entrevista com Gary Clark Jr.
Os dois deram conta da primeira hora de espetáculo. Às 21h, Clapton caminhou lentamente e sorridente até o microfone, sendo muito ovacionado.
A banda que acompanhou o músico britânico é composta praticamente por norte-americanos jovens, Natan East (baixo), Doyle Bramhall II (guitarra), Sonny Emori (bateria), Tim Caarmon (órgão), e as backing vocals Sharon White e Katie Kisson. A única cara mais conhecida dos que acompanham o músico é o também veterano Chris Stainton (teclados).
O essencial
Não faltou nada essencial no repertório, num show dividido em três blocos. Com sua voz ainda poderosa, abriu o espetáculo com o hit "Sunshine of Your Love". Ao final, emitiu as únicas palavras diretas com o público: "Buenos Aires, aqui estou outra vez, com meus 79 anos, nesta nova visita à Argentina".
Nesta primeira seção, mesclou canções suas e de outros músicos, como Robert Johnson, Jimmie Cox, e J.J. Cale, que, celebradas por ele por tantas décadas, acabam por se confundir com seu próprio repertório. Terminou essa primeira parte com uma canção de seu mais recente álbum, prestes a ser lançado, "The Call".
A segunda parte do show lembrou um formato mais acústico, com sua voz suave e ele sentado no centro do palco. Vieram "Kind Hearted Woman Blues", "Running On Faith", "Change the World", "Nobody Knows You When You're Down and Out", " Believe in Life " e "Tears in Heaven".
A triste canção que ele compôs ao filho, que morreu aos quatro anos de idade ao cair do apartamento onde vivia, ganhou uma pegada com tons de reggae, como se o compositor quisesse tratar seu luto de modo distinto após mais de 30 anos da tragédia.
No último bloco, os músicos estiveram mais soltos e se apresentaram com mais tempo, sob a benção de Clapton. Depois, ele mesmo começou a esticar suas canções tradicionais, como "Old Love", com solos enormes, expondo seu virtuosismo. Os solos continuaram nas seguintes canções.
Já mais para o fim do concerto, Clapton reservou "Crossroads", "Little Queen Of Spades" e "Cocaine", com um leve toque argentino, ao piano, tocou-se um fragmento do tango "La Cumparsita".
O show é luminoso, e não guarda semelhança, em termos de ambientação musical, a um certo tom mais dark de décadas passadas.
Passada a pandemia, na qual Clapton defendeu a postura anti-vax e foi alvo de cancelamentos, o artista agora parece ter deixado as posturas rígidas. Está mais sarcástico, guarda risos no canto da boca, mostra-se legitimamente feliz com sua jovem banda.
Uma pena é que talvez a idade avançada comece a limitá-lo de fazer mais shows em estádios. Um dos desafios que enfrenta, por exemplo, é o surgimento de uma doença neurológica, que por ora não afeta seus movimentos nem seu poder cognitivo, mas são fatores que inspiram cuidado. Cada vez mais, o bloco intimista de seus shows parece chamar o artista para apresentar-se em teatros.
Eric Clapton no Brasil
- Curitiba
Quando: terça (24), às 19h20
Onde: Ligga Arena (Arena da Baixada)
Quanto: a partir de R$ 450
Classificação: 16 anos; menores de 16 anos apenas acompanhados pais/responsável legal
- Rio de Janeiro
Quando: quinta (26), às 19h20
Onde: Farmasi Arena
Quanto: a partir de R$ 460
Classificação: 16 anos; menores de 16 anos apenas
acompanhados pais/responsável legal
- São Paulo
Quando: sábado, (28), às 20h
Onde: VIBRA São Paulo
Quanto: a partir de R$ 850
Classificação: 16 anos; menores de 16 anos somente acompanhados de pais ou responsável legal
Ingressos para todos os shows à venda pelo site da Livepass.
- São Paulo
Quando: domingo (29), às 18h20
Onde: Allianz Parque
INGRESSOS ESGOTADOS
Classificação: 16 anos; menores de 16 anos apenas acompanhados pais/responsável legal
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL