Valeu mesmo pagar uma fortuna para ver um Eric Clapton 'exclusivo' em SP?

Eric Clapton se apresentou em São Paulo neste sábado (28) pela primeira vez desde 2011. Longe da cidade (e do Brasil) por mais de uma década, a expectativa era alta para o retorno de um dos maiores guitarristas da história. O resumo: o show no Vibra foi excelente, com vigor, feeling e a oportunidade de ver de perto aquele que já foi comparado a Deus em pichações na década de 1960.

Porém, um debate que surge é: a que custo? O guitarrista britânico havia marcado duas apresentações na capital paulista, uma "intimista" e a outra no Allianz Parque. O valor dos ingressos no estádio do Palmeiras são caros, de R$ 230 chegando a quase R$ 1.500, mas seguem um padrão para shows internacionais deste calibre.

Já o do Vibra, espaço pequeno para até 4.500 pessoas, as entradas chegavam a R$ 2,4 mil com a absurda taxa de conveniência — leia-se "comprar pela internet". A pista custava R$ 1.700, com mais 20% de taxa, para se ter uma ideia.

A intenção do show em uma casa menor é apresentar uma versão intimista de Clapton, que nas outras datas no Brasil e até mesmo na turnê sul-americana toca em estádios ou arenas para mais de 30 mil pessoas. Como toda exclusividade tem seu preço, não seria diferente com o Slowhand.

A pequena fortuna cobrada para ver Clapton entra no debate sobre os valores dos ingressos em shows internacionais. Há diversos fatores que influenciam, como o valor da taxa do dólar, o artista em destaque, o tamanho da produção que vem até o Brasil, a exclusividade, etc, etc, etc.

Novamente a palavra "exclusividade" entra em jogo, o que se transforma em uma máquina de fazer dinheiro para as produtoras musicais que trazem artistas ao Brasil. Perdemos a mão com os valores das entradas ou simplesmente nos acostumamos? O lado ruim é que essa elitização dos shows e festivais afasta parte do público, curiosamente em um momento "democrático" da música com a força e a facilidade da internet em poder se ouvir de tudo gastando pouco.

Como foi o show

Ver tão de perto Eric Clapton é uma situação rara. Mesmo se você estiver na grade da pista premium como a do Allianz Parque, a chance de ficar mais longe do que os felizardos que viram o guitarrista no Vibra é grande. A experiência intimista, quase um clube de jazz com uma perna no blues norte-americano, cabe como um solo de guitarra para Clapton.

Ele não faz pausas, não brinca com a plateia nem fala muito. Simples "obrigado" e sorrisos já bastam para os fãs. A função de Clapton é entregar o que ele sabe de melhor. Obviamente que estamos falando de um senhor de 79 anos, ou seja, o show não tem a energia da primeira visita dele ao Brasil, em 1990. E mais do que esperado.

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Ainda assim, a força do blues e dos hits estão fincados em Clapton, que versa suas diferentes fases da carreira para montar o setlist. Covers de seus ídolos do blues, o crunch britânico do Cream e a fase mais pop do Derek and the Dominos não são esquecidos, incrementando ainda um trecho acústico sensível sobre mais uma faceta do músico.

Destaque para uma versão longa e elegante de "Got to Get Better in a Little While" e a fúria de "Old Love", com um solo melhor do que a gravação original e que apresenta a qualidade da banda que acompanha Clapton em turnê, de teclados à guitarra base, baixo, bateria e backing vocals.

E aí, valeu a pena?

A resposta para a pergunta vai de cada um. Quem não se importou em pagar tão caro viu um show fantástico e que dificilmente se repetirá em uma futura turnê de Clapton no Brasil — se é que um dia acontecerá novamente. Por outro lado, a elitização da música deve ser lamentada nesta época tão tecnológica na qual vivemos.

Com pouco mais de R$ 20 por mês você consegue acessar a milhões de músicas no seu app favorito, expandindo o conhecimento e a cultura, descobrindo artistas novos, gêneros musicais escondidos e talentos que nas décadas anteriores talvez ficassem escondidos fora das grandes gravadoras e mainstream.

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Em um mundo idílico, as entradas para os shows poderiam seguir esse padrão. Não vamos ser inocentes também de achar que Clapton viria ao Brasil para tocar de graça em um bar na Vila Madalena, mas também é um tanto assustador não ficarmos em choque por pagar mais do que um salário mínimo no Brasil — de R$ 1.412 — para assistir a um show.

Eric Clapton se apresenta no domingo (29) em São Paulo (Allianz Parque).

Setlist do show

  • Sunshine of Your Love
  • Key to the Highway
  • I'm Your Hoochie Coochie Man
  • Badge
  • Kind Hearted Woman Blues
  • Running on Faith
  • Change the World
  • Nobody Knows You When You're Down and Out
  • Lonely Stranger
  • Believe in Life
  • Tears in Heaven
  • Got to Get Better in a Little While
  • Old Love
  • Cross Road Blues
  • Little Queen of Spades
  • Cocaine
  • Before You Accuse Me

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