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'Nojento' e 'desprezível': mulheres acusam Al-Fayed de abuso sexual

Mohamed Al Fayed morreu em setembro do ano passado; acusações de abuso vieram a público em 2024 Imagem: Bruno Vincent/Getty Images

De Splash, em São Paulo

03/10/2024 05h30

Cerca de um ano após a morte de Mohamed Al-Fayed, empresário e sogro da princesa Diana, dezenas de acusações de abuso sexual e estupro inundaram a imprensa britânica.

Os casos vieram à tona após a exibição do documentário da BBC "Al Fayed: Predator at Harrods" e, desde então, mais de 200 mulheres apresentaram denúncias similares.

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Al-Fayed, que foi dono da Harrods, escolhia as vítimas entre as funcionárias da loja de departamento. Segundo a BBC, Al-Fayed visitava a loja e promovia as funcionárias que considerava atraentes para cargos em seu escritório. Os abusos teriam acontecido nos escritórios da Harrods, nos imóveis de Fayed e em viagens internacionais, inclusive no Hotel Ritz, em Paris, do qual também era dono.

Nós assistíamos umas às outras passarem por aquelas portas pensando: 'Coitadinha, hoje é com você', e nos sentirmos completamente impotentes. Funcionária anônima em relato à BBC

Uma ex-assistente pessoal de Fayed diz que foi estuprada pelo empresário após ser convocada a ir ao apartamento dele. Ele pediu para a mulher sentar na cama e colocou a mão sobre a perna dela. "Eu me lembro de sentir o corpo dele em cima de mim. De ouvi-lo fazer esses barulhos e... de ir para algum outro lugar na minha cabeça."

Outra ex-assistente, que trabalhou com ele de 1988 a 1991, diz que Fayed tentou estuprá-la mais de uma vez e reclama de como o empresário é representado na mídia. Ela não aprova a imagem de homem simpático e excêntrico exibida em produtos como "The Crown". "Ele era nojento. Isso me deixa com raiva, as pessoas não deveriam lembrar dele assim. Ele não era assim."

Eu não podia ir embora. Eu não tinha uma casa de família para a qual voltar, eu precisava pagar aluguel. Eu sabia que precisava passar por isso, mas não queria. Foi horrível, minha cabeça ficou destruída. Ex-assistente de Mohamed Al Fayed

Gemma, outra ex-assistente, diz que Fayed invadiu seu quarto e a estuprou durante uma viagem para Paris. Eles estavam hospedados na Villa Windsor, a casa em Paris que pertenceu ao rei Edward 8º e foi comprada por Fayed. "Eu disse: 'Não, não quero fazer isso.' Ele continuou tentando subir na cama, depois ficou em cima de mim e eu não conseguia me mover. Eu fiquei com o rosto contra o colchão e ele simplesmente pressionou o corpo contra o meu." Depois do abuso, enquanto ela chorava, Fayed teria "agressivamente mandado ela se lavar com desinfetante" para "apagar qualquer traço" do estupro.

Mohamed Al Fayed era um monstro, um predador sexual sem nenhuma bússola moral. [...] Toda a equipe da Harrods era vista como "brinquedinhos". Ex-funcionária de Mohamed Al Fayed

Em 2008, ele teria tentado assediar uma menina que, na época, tinha 15 anos após oferecer um emprego a ela. Fayed teria oferecido pessoalmente um emprego para a jovem e, em uma reunião, agarrou o rosto da menina e tentou enfiar a língua em sua boca. "Eu disse que tinha 15 anos e perguntei 'O que você está fazendo?'. Ele respondeu que eu estava me tornando uma linda mulher e agarrou meu seio", disse ela à BBC. O empresário também teria ficado "irado" e começado a gritar com ela após ser empurrado.

Segundo o biógrafo Tom Bower, uma das vítimas de Fayed seria filha de um diplomata americano. Ela teria sido convidada por Fayed para fazer o design do interior do Ritz e de sua casa em Saint Tropez. Na ilha, ele a convidou para um passeio de iate e lá, teria abusado da jovem. Com medo de represálias, ela não denunciou Fayed.

Fayed também teria abusado de aspirantes a atriz e funcionárias do time de futebol Fulham, do qual foi dono. Ele teria se apresentado como produtor de "Carruagens de Fogo", produzido por Dodi, e abusado de mulheres em quartos de hotel após prometer papéis a elas. Um funcionário do Fulham afirmou ao The Guardian que as acusações não são surpreendentes, e que evitava-se certas situações para proteger as jogadoras e mulheres que trabalhavam no time.

"Cultura de medo" e acusações desprezadas

Funcionários dizem que os abusos de Fayed não eram segredo entre a equipe da Harrods, mas que existia uma "cultura de medo" na empresa. Os telefones eram grampeados, câmeras eram instaladas pela loja, e funcionárias teriam sido intimidadas e ameaçadas pelo diretor de segurança da Harrods. Outras eram demitidas sob acusações falsas de roubo e fraude. Uma mulher diz que pediu demissão após ser estuprada por Fayed, e que a Harrods concordou com sua saída e pagou uma indenização em troca de um acordo de confidencialidade e da destruição de todas as evidências de que ela havia sido abusada.

Al Fayed já foi acusado de abuso sexual antes, mas as denúncias não foram levadas adiante por promotores de Justiça. Revistas, jornais e programas de televisão divulgaram as acusações contra Fayed, mas acabaram processados ou investigados. A polícia confirmou que investigou "várias denúncias e alegações feitas em vários anos" contra Fayed, mas ele nunca foi acusado oficialmente de um crime e nem levado à Justiça. Ele até foi interrogado após uma denúncia da jovem de 15 anos e evidências de abuso teriam sido apresentadas a promotores de Justiça, que decidiram não levar os casos adiante.

A polícia também teria tentado prender Fayed duas vezes, sem sucesso. Segundo a BBC, o empresário estava "mal demais de saúde" para ser levado a um interrogatório, e acabou morrendo antes de ser devidamente investigado.

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