Betty Faria: 'Tive novela censurada na ditadura, não dá para ser alienada'
Aos 83, Betty Faria diz se orgulhar de fazer "Volta Por Cima", uma novela com o elenco majoritariamente negro e que dá voz a atores idosos e amarelos. "Vi a importância dessa novela nesse momento, já que a extrema direita é contra judeus, contra gays, contra velhos que não servem para o objetivo deles", disse em conversa com a imprensa.
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Política e representatividade
Em bate-papo com Splash, a atriz reforça que aceitou o convite por enxergar que as minorias seriam representadas no folhetim escrito por Claudia Souto e dirigido por André Câmara. Ela acredita ser um recado à sociedade: "Precisa ter igualdade, precisa haver um trabalho de igualdade, respeito humano, tem que acabar esse ódio, tem que ter respeito e diálogo."
A atriz não se furta de comentar sobre política e temas sensíveis para a sociedade. Pelo contrário, questionada se já sentiu medo de receber ataques por falar abertamente de política em momento de polarização social, ela relembrou episódios de censura na ditadura militar, em especial na década de 1970, e disse que, por isso, não poderia ser omissa em relação ao que acontece na sociedade brasileira atualmente, que, segundo ela, tem visto o crescimento da extrema direita conservadora.
Tenho toda uma vivência, um passado político, porque vivemos os anos 1970, a ditadura militar. Tive trabalhos censurados, tive peças de teatro censuradas, filmes e novela censurados. Vivemos isso intensamente. Não dá para ser alienada. Eu não consigo me alienar [sobre] o mundo a volta. Sou participante mesmo. Betty Faria
A novela a qual Betty se refere é a primeira versão de "Roque Santeiro", dirigida por seu então marido, Daniel Filho. Ela viveria a famosa Viúva Porcina na trama que foi censurada no dia de sua estreia, em 27 de agosto de 1975, apesar de ter 30 capítulos gravados e dez prontos para ir ao ar. O apresentador Cid Moreira anunciou o veto ao vivo no Jornal Nacional daquela noite. Segundo a Folha de S. Paulo, foi a primeira vez que a emissora de Roberto Marinho entrava publicamente em embate com o regime militar, anteriormente aliado em diversos episódios políticos.
A história de "Volta Por Cima"
Em "Volta Por Cima", Betty Faria dá vida a Belisa, uma mulher que já foi rica e pertenceu à alta sociedade carioca, ao lado dos irmãos Joyce (Drica Moraes) e Gigi (Rodrigo Fagundes). Perguntada se a personagem está pobre, a atriz brinca. "Ela é ex-rica, mas não se admite falida. Ela se diz economicamente prejudicada".
Diante da penúria, ela conta com o apoio do mordomo Sebastian (Fábio Lago) no dia a dia e da ajuda de Silvia (Lellê) para se tornar influenciadora digital. A personagem, em breve, se encontrará como uma influenciadora de etiqueta nas redes sociais. "Ela procura um caminho para sobreviver e eu acho isso bacana, acho muito interessante."
A novela marca o retorno de Betty às novelas após cinco anos. Seu último folhetim havia sido "A Dona do Pedaço", em 2019. Mas se engana quem acha que a atriz veterana ficou parada. Nesse período, inclusive, ela rodou o filme "Justa", com a diretora portuguesa Teresa Villaverde. O projeto narra a história de incêndios florestais que devastaram uma aldeia na região de Oleiros.
Teve muita coisa [nesses cinco anos]. Teve pandemia, fui para Portugal, fiz série, fiz um filme que está para ser lançado depois de festivais na Europa, o "Justa", da diretora portuguesa Teresa Villaverde, fiz trabalhos fora. Mas eu sempre volto porque gosto de fazer novela. É um grande exercício. A gente sai de uma novela e está em forma, vai fazer teatro, vai fazer cinema porque é um exercício bom mesmo. Gosto da minha profissão. Betty Faria
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