Sexo com Jesus, sangue: o que tem na ópera alemã que faz público passar mal

Adaptação de ópera de 1921 tem causado incômodo nos espectadores. Com cenas de sexo lésbico explícito, sangue de verdade e freiras nuas andando de skate, a obra, chamada Sancta Susanna, levou 18 pessoas da audiência a procurarem atendimento médico na Alemanha.

O que tem de tão impactante na ópera

Sancta Susanna mescla sexualidade feminina e contexto religioso. Com elenco de mulheres que interpretam ícones católicos, as cenas incluem uma atriz com nanismo vestida de papa sendo levantada e girada por um braço robótico, enquanto outra canta Eminem vestida de Jesus. A história ainda mostra Susanna, uma jovem freira, fazendo sexo com Jesus.

Encenação tem objetivo de "criar uma visão radical da Santa Missa". Segundo a descrição do espetáculo no portal da Ópera Estatal de Stuttgart, local da apresentação da obra, a adaptação de Sancta Susanna "embarca em espetaculares experiências físicas fronteiriças e explora a espiritualidade e a fé individuais, a sexualidade e a dor, a vergonha e a libertação".

Uma das atrizes é ferida ao vivo durante a apresentação. Um crítico do jornal alemão Süddeutsche Zeitung descreveu que, em uma cena que ilustra a Eucaristia, um pedaço de pele de uma das artistas é cortado e grelhado.

Cena de trailer de Sancta Susanna; elenco feminino interpreta ícones católicos
Cena de trailer de Sancta Susanna; elenco feminino interpreta ícones católicos Imagem: Reprodução/YouTube/Staatsoper Stuttgart

Ópera tem censura de 18 anos, além de avisos de conteúdo explícito. Um porta-voz da obra afirmou que as pessoas que se sentiram mal estavam nas fileiras próximas ao palco, e "sabiam no que estavam se metendo". Organizadores disseram que Sancta Susanna continuará em exibição, apesar dos efeitos sentidos por membros da audiência, e insistiram que "náusea e desmaio são normais no teatro".

O foco da noite é a espiritualidade, a sexualidade —mas também a crítica à religião e um olhar crítico sobre a violência religiosa e social. Os atos sexuais acontecem no palco. Sangue real, bem como sangue falso, processos perfurantes e inflição de feridas também podem ser vistos. A performance utiliza efeitos estroboscópicos, volume e incenso. Descrição oficial da versão atual da ópera Sancta Susanna

A obra original e a adaptação

Ópera é adaptação de espetáculo de 1921. A obra é uma adaptação da coreógrafa austríaca Florentina Holzinger da ópera de mesmo nome datada de 1921, do compositor alemão Paul Hindemith.

Continua após a publicidade

Espetáculo original foi suspenso pelo provável escândalo que causaria. Ele deveria estrear na Ópera de Stuttgart, em 1921. No entanto, pouco antes da estreia, a obra foi suspensa por conta do provável escândalo que causaria na sociedade da época. "A ópera de Hindemith mostra o desejo feminino num ambiente hostil ao prazer e ao corpo: a jovem freira Susanna descobre a sua sexualidade e puxa a tanga de Cristo do crucifixo —uma obra escandalosa!", descreve o portal oficial da Ópera Estatal de Stuttgart. Apesar de abordar um tema potencialmente polêmico —religião —, a obra original não levava ao público cenas de nudez, sexo explícito e demais elementos vistos na versão de 2024.

Ópera original acompanha freiras em um convento. A protagonista Susanna se vê curiosa às influências externas ao local, que a alcançam por uma janela. Susanna, contrariando os conselhos e as doutrinas que a ordenam negar seus desejos carnais, cede ao erotismo. Segundo a agência de notícias alemã DW, "ao retratar os últimos momentos da vida de uma freira conflituada, a ópera [original] em um ato aborda a relação entre celibato e luxúria no cristianismo, integrando elementos estilísticos do Expressionismo e do Romantismo Gótico".

Florentina Holzinger complementa a obra de Hindemith. Ainda conforme as informações oficiais, a coreógrafa "complementa a obra [do compositor alemão] com partes da missa católica, textos falados e elementos performativos". Ao se basear na ideia original do alemão, Florentina adiciona elementos explícitos, como perfuração corporal (aplicação de piercing) e violência, ilustrada pelo sangue real utilizado no palco.

"Radical e sensual, poética e selvagem". Mais explícita, performática e ainda mais polêmica do que a versão que lhe serviu de inspiração, Sancta Susanna de 2024 segue causando incômodos, recebendo críticas e sendo aclamada por parte do público entusiasta da arte.

Cena da ópera Sancta Susanna; interação sexual é explícita na obra
Cena da ópera Sancta Susanna; interação sexual é explícita na obra Imagem: Divulgação/Staatsoper Stuttgart

Deixe seu comentário

Só para assinantes