Sexo com Jesus, sangue: o que tem na ópera alemã que faz público passar mal
Adaptação de ópera de 1921 tem causado incômodo nos espectadores. Com cenas de sexo lésbico explícito, sangue de verdade e freiras nuas andando de skate, a obra, chamada Sancta Susanna, levou 18 pessoas da audiência a procurarem atendimento médico na Alemanha.
O que tem de tão impactante na ópera
Sancta Susanna mescla sexualidade feminina e contexto religioso. Com elenco de mulheres que interpretam ícones católicos, as cenas incluem uma atriz com nanismo vestida de papa sendo levantada e girada por um braço robótico, enquanto outra canta Eminem vestida de Jesus. A história ainda mostra Susanna, uma jovem freira, fazendo sexo com Jesus.
Encenação tem objetivo de "criar uma visão radical da Santa Missa". Segundo a descrição do espetáculo no portal da Ópera Estatal de Stuttgart, local da apresentação da obra, a adaptação de Sancta Susanna "embarca em espetaculares experiências físicas fronteiriças e explora a espiritualidade e a fé individuais, a sexualidade e a dor, a vergonha e a libertação".
Uma das atrizes é ferida ao vivo durante a apresentação. Um crítico do jornal alemão Süddeutsche Zeitung descreveu que, em uma cena que ilustra a Eucaristia, um pedaço de pele de uma das artistas é cortado e grelhado.
Ópera tem censura de 18 anos, além de avisos de conteúdo explícito. Um porta-voz da obra afirmou que as pessoas que se sentiram mal estavam nas fileiras próximas ao palco, e "sabiam no que estavam se metendo". Organizadores disseram que Sancta Susanna continuará em exibição, apesar dos efeitos sentidos por membros da audiência, e insistiram que "náusea e desmaio são normais no teatro".
O foco da noite é a espiritualidade, a sexualidade —mas também a crítica à religião e um olhar crítico sobre a violência religiosa e social. Os atos sexuais acontecem no palco. Sangue real, bem como sangue falso, processos perfurantes e inflição de feridas também podem ser vistos. A performance utiliza efeitos estroboscópicos, volume e incenso. Descrição oficial da versão atual da ópera Sancta Susanna
A obra original e a adaptação
Ópera é adaptação de espetáculo de 1921. A obra é uma adaptação da coreógrafa austríaca Florentina Holzinger da ópera de mesmo nome datada de 1921, do compositor alemão Paul Hindemith.
Espetáculo original foi suspenso pelo provável escândalo que causaria. Ele deveria estrear na Ópera de Stuttgart, em 1921. No entanto, pouco antes da estreia, a obra foi suspensa por conta do provável escândalo que causaria na sociedade da época. "A ópera de Hindemith mostra o desejo feminino num ambiente hostil ao prazer e ao corpo: a jovem freira Susanna descobre a sua sexualidade e puxa a tanga de Cristo do crucifixo —uma obra escandalosa!", descreve o portal oficial da Ópera Estatal de Stuttgart. Apesar de abordar um tema potencialmente polêmico —religião —, a obra original não levava ao público cenas de nudez, sexo explícito e demais elementos vistos na versão de 2024.
Ópera original acompanha freiras em um convento. A protagonista Susanna se vê curiosa às influências externas ao local, que a alcançam por uma janela. Susanna, contrariando os conselhos e as doutrinas que a ordenam negar seus desejos carnais, cede ao erotismo. Segundo a agência de notícias alemã DW, "ao retratar os últimos momentos da vida de uma freira conflituada, a ópera [original] em um ato aborda a relação entre celibato e luxúria no cristianismo, integrando elementos estilísticos do Expressionismo e do Romantismo Gótico".
Florentina Holzinger complementa a obra de Hindemith. Ainda conforme as informações oficiais, a coreógrafa "complementa a obra [do compositor alemão] com partes da missa católica, textos falados e elementos performativos". Ao se basear na ideia original do alemão, Florentina adiciona elementos explícitos, como perfuração corporal (aplicação de piercing) e violência, ilustrada pelo sangue real utilizado no palco.
"Radical e sensual, poética e selvagem". Mais explícita, performática e ainda mais polêmica do que a versão que lhe serviu de inspiração, Sancta Susanna de 2024 segue causando incômodos, recebendo críticas e sendo aclamada por parte do público entusiasta da arte.
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