Meio homem, meio mulher: anime clássico 'Ranma ½' retorna com estilo
Mais conhecida no Brasil pelo sucesso "InuYasha", a autora de mangá Rumiko Takahashi na verdade tem como especialidade as comédias românticas. Assim como "Urusei Yatsura", "Ranma ½" é conhecido por ser um fenômeno no Japão e agora ganhou um novo anime produzido pelo estúdio Mappa (de "Jujutsu Kaisen"), com direito a uma distribuição mundial pela Netflix. Será que mais uma vez os fãs ficarão encantados pela história do lutador que se transforma em mulher?
História maluca
Ranma Saotome é um adolescente praticante de artes marciais. Sua especialidade é o estilo Vale Tudo, uma técnica capaz de transformar qualquer coisa em estratégia de combate (e quando falamos de qualquer coisa, é qualquer coisa mesmo). Mas Ranma não tem direito de escolher sobre seu próprio destino, pois seu pai preparou um casamento arranjado com Akane Tendo, filha do dono de um dojo no Japão.
Até aqui não temos nada de muito diferente de outras séries. Ranma e Akane têm um relacionamento conturbado principalmente porque ele tem dificuldades de assumir seus sentimentos e ela tem uma aversão a homens. Porém, a história de "Ranma ½" tem uma virada que transforma tudo isso em uma loucura.
Ranma e seu pai foram treinar na China e, por pura displicência, acabaram lutando em uma região com lagos amaldiçoados. Diz a lenda que se alguém cair em um lago amaldiçoado se transformará em outra criatura sempre que for banhado com água fria, mas voltará ao normal quando jogarem água quente. Claro que os dois caem em lagos e ganham novas transformações: o patriarca agora vira um panda quando entra em contato com água e o Ranma se transforma em uma garota ruiva.
Esse é apenas o começo do surto que é "Ranma ½". No decorrer dos episódios veremos cada vez mais personagens entrando na história, alguns apaixonados pelo Ranma homem, outros pela Akane e uns encantados pela Ranma mulher. E mais personagens amaldiçoados dando as caras, como o lutador Ryoga (que se transforma em um porquinho quando molhado) e a guerreira chinesa Shampoo (cuja transformação é de gatinha).
Fenômeno no Japão
Rumiko Takahashi já vinha de um mega sucesso no Japão com "Urusei Yatsura", obra que fez o Japão se apaixonar perdidamente pela alienígena Lum. Após a conclusão de seu primeiro mangá e de "Maison Ikoku" (outro clássico), a autora retornou à revista "Shonen Sunday" com a história de "Ranma ½" e novamente conquistou o país. Alguns consideram o fenômeno de Ranma ainda maior que o de "Urusei Yatsura", que recentemente ganhou um bom remake disponível na Netflix.
Em "Ranma ½", a autora apostou um pouco mais em combates, algo que ficou um pouco de fora de "Urusei Yatsura", e investiu ainda mais em personagens excêntricos e amalucados. O sucesso foi certeiro e "Ranma ½" atingiu vendas enormes de seus volumes encadernados, superiores à dos mangás anteriores da autora.
Mas a série se tornou ainda mais popular em 1989 com a estreia do anime produzido pelo estúdio Deen. Com uma livre adaptação da obra da autora (e criando alguns fillers divertidos), "Ranma ½" foi um sucesso de audiência na televisão japonesa e rendeu 143 episódios (sem adaptar toda a história), três filmes para cinema e vários OVAs com histórias extras diretamente para vídeo. Até os atores de voz conseguiram se projetar, e alguns se lançaram em carreira musical após o êxito do anime.
E vale comentar que "Ranma ½" já teve passagem pelo Brasil: o mangá chegou a nós em duas ocasiões diferentes, primeiro nos anos 1990 pela editora Animangá (de forma incompleta) e em meados dos anos 2000, quando houve o lançamento da série toda pela editora JBC. O anime quase foi exibido pela Rede Manchete, mas o plano foi engavetado em meio à crise financeira da emissora. Porém, "Ranma ½" acabou chegando anos depois através dos canais Cartoon Network e PlayTV.
Um remake muito inspirado
Ainda que tenha muitas críticas sobre a gestão de seus profissionais, além das denúncias de horas extras exaustivas, havia um receio de que o estúdio Mappa não conseguiria manter a essência de "Ranma ½". Felizmente, o anime foi por um lado distante das previsões pessimistas de alguns fãs.
Newsletter
SPLASH TV
Nossos colunistas comentam tudo o que acontece na TV. Aberta e fechada, no ar e nos bastidores. Sem moderação e com muita descontração.
Quero receberO remake de "Ranma ½" respeita ao máximo o mangá original, mantendo o timing de humor, o design de personagens próximo ao original e com lutas muito bem desenhadas. Já no primeiro episódio somos surpreendidos na luta de Ranma com seu pai, e depois quando Ranma luta contra Akane. As lutas em "Ranma ½" sempre são muito dinâmicas e imprevisíveis, então é um alívio que o novo anime consiga entregar combates agradáveis de se assistir.
Um ponto que teve mudanças foi a questão da sexualização da série. A versão original dos anos 1980 estava de acordo com o tipo de humor aceito pela sociedade japonesa da época, ou seja, muitas piadas com peitos e a Ranma sempre exibindo sua comissão de frente pelo anime. Como o novo anime também se preocupa com a recepção do público ocidental, mais conservador com essas piadas, o anime deu uma amenizada na quantidade de peitos em cena (mas não extinguiu totalmente). Além disso, há uma preocupação maior sobre a questão do assédio às personagens femininas, algo muito bem recebido nesse ano de 2024.
Num geral, "Ranma ½" é um anime muito recomendado. Além da animação linda, é uma série que diverte com um humor afiado, com personagens carismáticos e com histórias que servem para deixar o público menos tenso. Que o Mappa consiga segurar a peteca pelo resto dos episódios e, quem sabe, dessa vez adaptar a história por completo.
Onde assistir?
"Ranma ½" está sendo lançado semanalmente pela Netflix, com legendas em português ou dublagem.
O elenco de vozes respeita ao máximo a dublagem do anime original, com Márcio Araújo (Yamcha de "Dragon Ball") como Ranma homem, Fátima Noya (Enfermeira Joy de "Pokémon") como Ranma mulher e Tatiane Keplmair (Sakura de "Naruto") como Akane Tendo.
Deixe seu comentário