Topo

'Gay também chora no bar': o queernejo cinco anos após ganhar visibilidade

Artistas LGBTQIA+ ainda enfrentam desafios em busca por espaço na música sertaneja Imagem: Divulgação/Gabeu/Mel & Kaleb

De Splash, em São Paulo

19/10/2024 05h30

Gabeu lançou o primeiro single, "Amor Rural", em 2019, e ajudou a colocar o movimento "queernejo" em evidência no Brasil. Cerca de cinco anos depois, no entanto, artistas LGBTQIA+ ainda enfrentam desafios em busca por espaço na música sertaneja.

O músico, que é filho do cantor Solimões, ressalta os desafios de romper com as barreiras de gênero dentro de um contexto rural. Em conversa com Splash, ele destaca o desejo de encontrar um equilíbrio entre as necessidades de mercado e o que realmente faz sentido artisticamente.

Acredito que romper com as barreiras de gênero dentro desse contexto é bastante desafiador. Me sinto fluído de diversas formas, inclusive musicalmente. Me considero um artista sertanejo, mas não apenas, e talvez mais em alguns momentos do que outros. Gabeu

Gabeu ressalta os desafios de romper com as barreiras de gênero Imagem: Divulgação/Gabeu

Mel, da dupla de queernejo Mel & Kaleb, aponta que "o universo sertanejo foi construído sob pilares heteronormativos e de valores conservadores". A cantora também critica a falta de representatividade de negros e da comunidade LGBTQIA+ em eventos importantes do sertanejo.

Preconceito e discriminação são os principais desafios, já que a falta de representatividade não coloca as pessoas em contato com a diversidade. E tem ainda a resistência da própria indústria. Investir num novo nicho, como o queernejo, precisa ser rentável. Precisa ter consumo. Se não tem retorno, não tem investimento. Mel

Kaleb, parceiro de Mel na dupla, enxerga o "queernejo" como uma resposta à tradição "machista" do gênero. O músico acredita que o movimento ajuda no processo de desconstrução de estereótipos.

Mostrar ao país que gay também chora na mesa do bar, que trans também é corna, que lésbica também dá o fora em mulher que não vale a pena, e que bi pode ter o coração dividido entre um homem e uma mulher, contribui para o entendimento de que também somos seres humanos e que nossa sexualidade é tão pulsante quanto qualquer outra. Kaleb

Falta de apoio e luta contra preconceito

Produção independente e o uso de recursos próprios são algumas das estratégias utilizadas Imagem: Divulgação/Mel & Kaleb

Os artistas ouvidos pela reportagem seguem em busca por alternativas para levar suas músicas ao público, apesar de todas as dificuldades ainda enfrentadas. A produção independente e o uso de recursos próprios são algumas das estratégias utilizadas para driblar a ausência de apoio da indústria musical.

Precisamos buscar as produções independentes, produtores especializados no contexto LGBTQIA+, precisamos buscar recursos próprios para rentabilizar nos canais, precisamos criar nossos conteúdos sem apoio, direcionamento, planejamento... Não é fácil, mas iremos até o fim, porque sabemos que nossa música é boa e sabemos onde encontrar quem quer ouvi-la. Mel

Gabeu, que foi indicado ao Grammy Latino em 2022 com o álbum "Agropoc", fala da importância da arte como ferramenta para promover debates e, assim, enfrentar o preconceito.

Acredito que a arte num geral pode ser uma maneira de abordar temas e levantar discussões [...] Fico feliz em sentir que meu trabalho provoca coisas (boas ou ruins) nas pessoas. Gabeu

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

'Gay também chora no bar': o queernejo cinco anos após ganhar visibilidade - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade