'Gay também chora no bar': o queernejo cinco anos após ganhar visibilidade

Gabeu lançou o primeiro single, "Amor Rural", em 2019, e ajudou a colocar o movimento "queernejo" em evidência no Brasil. Cerca de cinco anos depois, no entanto, artistas LGBTQIA+ ainda enfrentam desafios em busca por espaço na música sertaneja.

O músico, que é filho do cantor Solimões, ressalta os desafios de romper com as barreiras de gênero dentro de um contexto rural. Em conversa com Splash, ele destaca o desejo de encontrar um equilíbrio entre as necessidades de mercado e o que realmente faz sentido artisticamente.

Acredito que romper com as barreiras de gênero dentro desse contexto é bastante desafiador. Me sinto fluído de diversas formas, inclusive musicalmente. Me considero um artista sertanejo, mas não apenas, e talvez mais em alguns momentos do que outros. Gabeu

Gabeu ressalta os desafios de romper com as barreiras de gênero
Gabeu ressalta os desafios de romper com as barreiras de gênero Imagem: Divulgação/Gabeu

Mel, da dupla de queernejo Mel & Kaleb, aponta que "o universo sertanejo foi construído sob pilares heteronormativos e de valores conservadores". A cantora também critica a falta de representatividade de negros e da comunidade LGBTQIA+ em eventos importantes do sertanejo.

Preconceito e discriminação são os principais desafios, já que a falta de representatividade não coloca as pessoas em contato com a diversidade. E tem ainda a resistência da própria indústria. Investir num novo nicho, como o queernejo, precisa ser rentável. Precisa ter consumo. Se não tem retorno, não tem investimento. Mel

Kaleb, parceiro de Mel na dupla, enxerga o "queernejo" como uma resposta à tradição "machista" do gênero. O músico acredita que o movimento ajuda no processo de desconstrução de estereótipos.

Mostrar ao país que gay também chora na mesa do bar, que trans também é corna, que lésbica também dá o fora em mulher que não vale a pena, e que bi pode ter o coração dividido entre um homem e uma mulher, contribui para o entendimento de que também somos seres humanos e que nossa sexualidade é tão pulsante quanto qualquer outra. Kaleb

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Falta de apoio e luta contra preconceito

Produção independente e o uso de recursos próprios são algumas das estratégias utilizadas
Produção independente e o uso de recursos próprios são algumas das estratégias utilizadas Imagem: Divulgação/Mel & Kaleb

Os artistas ouvidos pela reportagem seguem em busca por alternativas para levar suas músicas ao público, apesar de todas as dificuldades ainda enfrentadas. A produção independente e o uso de recursos próprios são algumas das estratégias utilizadas para driblar a ausência de apoio da indústria musical.

Precisamos buscar as produções independentes, produtores especializados no contexto LGBTQIA+, precisamos buscar recursos próprios para rentabilizar nos canais, precisamos criar nossos conteúdos sem apoio, direcionamento, planejamento... Não é fácil, mas iremos até o fim, porque sabemos que nossa música é boa e sabemos onde encontrar quem quer ouvi-la. Mel

Gabeu, que foi indicado ao Grammy Latino em 2022 com o álbum "Agropoc", fala da importância da arte como ferramenta para promover debates e, assim, enfrentar o preconceito.

Acredito que a arte num geral pode ser uma maneira de abordar temas e levantar discussões [...] Fico feliz em sentir que meu trabalho provoca coisas (boas ou ruins) nas pessoas. Gabeu

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