'Me beijou à força': vítima de bilionário Al-Fayed relata abuso sexual
Uma das várias mulheres que acusam Mohamed Al-Fayed de abuso sexual afirma que o bilionário a beijou à força e propôs ajudá-la na carreira de atriz se ela fosse para cama com ele. O empresário egípcio morreu em 2023, aos 94 anos.
O que aconteceu
A mulher, identificada como Cheska, foi contratada por Al-Fayed quando tinha 19 anos. Na época, a britânica sonhava em ser atriz e, embora não tenha enviado currículo para a empresa do bilionário, a Harrods, foi chamada para trabalhar no local.
Cheska disse acreditar que trabalhar na empresa de Mohamed poderia "ser uma oportunidade legal", por isso aceitou a proposta. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, exibida neste domingo (20), ela explicou que o episódio de abuso ocorreu pouco tempo depois de começar a trabalhar na Harrods, após Al-Fayed sugerir que seu filho mais velho, Dodi Al-Fayed, que namorou a princesa Diana, poderia ajudá-la com a carreira de atriz.
Al-Fayed impôs como condição para a suposta ajuda que Cheska dormisse com ele, relatou a vítima. "No primeiro dia não tinha nada para fazer. No segundo ele me chamou e disse que poderia me ajudar porque o filho mais velho fazia cinema em Hollywood. Acreditei. Uma semana depois ele me chamou para o apartamento dele com a desculpa de fazer um portfólio, mas não tinha mais ninguém lá. Ele me beijou à força e disse: 'Ajudo sua carreira, mas só se você dormir comigo'".
Depois desse episódio, Cheska afirma que foi embora e nunca mais retornou para o emprego na empresa de Al-Fayed. Ela denunciou o bilionário na Justiça britânica e recorda que seu primeiro advogado a aconselhou a desistir da acusação porque ela "não teria chances" contra o magnata.
Em 2017, Cheska aceitou expor o rosto publicamente na TV britânica para denunciar o episódio de abuso praticado por Al-Fayed. Na época, o bilionário prestou depoimento, mas negou as acusações. Ele não chegou a ser condenado.
Novas denúncias de abuso contra Al-Fayed. Os novos casos vieram à tona após a exibição do documentário da BBC "Al Fayed: Predator at Harrods". Após o documentário, dezenas de mulheres apresentaram denúncias similares contra o empresário.
"Cultura de medo" e acusações desprezadas
Al-Fayed, que foi dono da Harrods, escolhia as vítimas entre as funcionárias da loja de departamentos. Segundo a BBC, Al-Fayed visitava a loja e promovia as funcionárias que considerava atraentes para cargos em seu escritório. Os abusos teriam acontecido nos escritórios da Harrods, nos imóveis de Fayed e em viagens internacionais, inclusive no Hotel Ritz, em Paris, do qual também era dono.
Funcionários dizem que os abusos não eram segredo entre a equipe da Harrods, mas que existia uma "cultura de medo" na empresa. Os telefones eram grampeados, câmeras eram instaladas pela loja, e funcionárias teriam sido intimidadas e ameaçadas pelo diretor de segurança da Harrods. Outras eram demitidas sob acusações falsas de roubo e fraude. Uma mulher diz que pediu demissão após ser estuprada por Fayed, e que a Harrods concordou com sua saída e pagou uma indenização em troca de um acordo de confidencialidade e da destruição de todas as evidências de que ela havia sido abusada.
Al Fayed já foi acusado de abuso sexual antes, mas as denúncias não foram levadas adiante por promotores de Justiça. A imprensa divulgou as acusações contra Fayed, mas os veículos acabaram processados ou investigados.
A polícia confirmou que investigou "várias denúncias e alegações feitas em vários anos", mas ele nunca foi acusado oficialmente de um crime e nem levado à Justiça. Ele até foi interrogado após uma denúncia da jovem de 15 anos e evidências de abuso teriam sido apresentadas a promotores de Justiça, que decidiram não levar os casos adiante.
A polícia também teria tentado prender Fayed duas vezes, sem sucesso. Segundo a BBC, o empresário estava "mal demais de saúde" para ser interrogado, e acabou morrendo antes de ser devidamente investigado.
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