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Antonio Cicero escolheu morrer por eutanásia; poeta sofria de Alzheimer

Colaboração para Splash, em São Paulo

23/10/2024 10h58

Antonio Cícero morreu nesta quarta-feira (23). Ele viajou até a Suíça, onde foi submetido a uma eutanásia.

O que aconteceu

O poeta escolheu morrer por eutanásia. O procedimento, cujo nome significa "boa morte", consiste em dar fim à vida, de forma indolor, a pedido do próprio paciente.

Ele viajou até a Suíça para a própria morte. No país, a eutanásia é legalizada, desde que siga algumas regras. Entre elas, o paciente deve ser diagnosticado com alguma doença incurável que cause sofrimento. Marcelo Pies, marido de Antonio Cicero, relata que o poeta vinha planejando a morte assistida há um tempo e mandando documentos para a clínica que realiza a eutanásia, mas "insistiu muito que ninguém soubesse", segundo o O Globo.

Antonio Cicero sofria de Mal de Alzheimer. Em sua carta de despedida, ele contou que "não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia" e disse aos amigos que "hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los".

Leia abaixo a íntegra da carta deixada pelo poeta:

Queridos amigos,

Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia.

O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.

Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.

Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.

Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.

Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.

A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas - senão a coisa - mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.

Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.

Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.

Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!

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