De Tarantino à censura na ditadura: série conta história da Mostra de SP

Estreia na quarta-feira (30) na Max a série documental "Viva o Cinema! Uma História da Mostra de São Paulo", que relembra os 48 anos do evento.

Série é produzida por Marina Person e Gustavo Rosa de Moura. "Surgiu a ideia de falar sobre esse evento que é um marco em São Paulo, na vida cultural da cidade, do país", explica Marina em entrevista a Splash.

Os quatro episódios mostram os perrengues e também os triunfos da Mostra. A série conta como o evento começou no MASP e se tornou um sucesso de público maior que o próprio museu, causando atritos com o diretor Pietro Bardi. Além disso, relembra um visitante ilustre da Mostra: Quentin Tarantino, que gostou tanto do evento que reclamava quando tinha compromissos profissionais, porque estaria perdendo a programação de filmes.

A história da Mostra se mistura à história dos cineastas. No documentário, Marina Person relembra sua primeira Mostra, quando ainda era adolescente e só queria ver "Vidas Sem Rumo" (1983) para testemunhar seu crush famoso: "Não fui para ver nenhum cineasta importante, foi porque eu era louca pelo Matt Dillon! Fui com as minhas amigas e foi muito legal, uma porta de entrada maravilhosa".

Para deixar claro que a história também é pessoal, eles escolheram expor o processo por trás das câmeras. Com inspiração em "Os Palhaços" (1970), de Fellini, as entrevistas e imagens de acervo da Mostra são intercaladas com cenas das reuniões da equipe e das decisões que precisam ser tomadas: "É uma mistura de coisas que estão acontecendo espontaneamente e coisas que foram encenadas para o filme, que é muito sobre fazer cinematográfico", explica Gustavo Rosa de Moura.

O documentário tem depoimentos de Serginho Groisman e Bárbara Paz. Eles, assim como outros convidados, relembram suas histórias pessoais com a Mostra —do ponto de vista do público e também de profissionais do audiovisual brasileiro.

Abordando mais de 40 anos de história da Mostra, a série também conta parte da história do Brasil. A produção explica como o criador do evento, Leon Cakoff, driblou a censura durante a ditadura para exibir filmes que não teriam lugar no país. As técnicas iam desde contratar o mesmo advogado que viabilizava as pornochanchadas até esperar o último momento possível para enviar os títulos para análise dos censores.

Os cineastas precisaram convencer a diretora da Mostra a participar do projeto. Em entrevista a Splash, a diretora Renata de Almeida, também viúva de Leon Cakoff, contou que não queria aparecer: "Primeiro até reagi mal". Marina Person diz que entende o receio dela: "Ela sabe que fazer um documentário quer dizer que vai chegar uma equipe na casa dela e vai abrir todas as caixas, revirar tudo. Por mais que a gente tenha em mente que o resultado vai ser uma coisa legal, é um perrengue para quem está sendo retratado". No fim, Renata topou dar um depoimento: "Ela foi amolecendo ao longo do processo".

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