OPINIÃO
Muita qualidade é ruim? Como o anime de 'One Piece' se tornou inviável
Fábio Garcia
Colaboração para Splash, em São Paulo
30/10/2024 12h00
No próximo domingo (3) o público vai acompanhar uma "reprise especial" do anime "One Piece". Conforme anunciado pelo estúdio Toei Animation, a série do pirata que estica entrará em hiato até abril e, para ocupar o espaço na grade televisiva, será exibido um compacto do não-tão-aclamado arco da Ilha dos Homens-Peixe.
Mas, afinal, por que o anime de "One Piece" foi interrompido? Bem, ainda que não tenhamos uma posição oficial da empresa, a decisão abre espaço para especular que talvez a Toei não estivesse conseguindo dar conta de animar semanalmente a série.
Talvez o principal ponto de crise do anime de "One Piece" começa pelo fato dele ser um anime com método de exibição antiga em pleno ano de 2024.
O "One Piece" de 2000
O mangá de "One Piece" começou a ser publicado em julho de 1997, e ganhou um anime pouco tempo depois, iniciado em outubro de 1999. Essa era uma prática comum no final dos anos 1990, quando as séries chegavam muito rapidamente à televisão como forma de promover a própria versão em quadrinhos.
Como cada episódio semanal do anime corresponde mais ou menos a 2 ou 3 capítulos semanais do mangá, a conta não fecha. Uma adaptação fiel dos quadrinhos alcançaria o material fonte e causaria um problema na produção. Por isso, "One Piece" sempre se apoiou em duas saídas: contar a história beeeem devagar e às vezes inserir algumas tramas fillers no meio para dar tempo do autor produzir novas histórias.
Em meados dos anos 2000 essa era a "regra" que regia o mundo dos animes, e muitos foram os que acabaram sem uma conclusão porque não havia mais história para adaptar, como foi o caso de "Tutor Hitman Reborn" ou mesmo o antigo "Bleach". Só que "One Piece" continuou sem interrupções.
O "One Piece" pós-"Demon Slayer"
Mas uma chavinha mudou as coisas na produção de animes no Japão. Lá por 2010 foi se tornando cada vez mais popular animes em temporadas, em vez de exibições contínuas na televisão. Animes como "One-Punch Man" e "Attack on Titan" mostraram um novo formato bem aceito pelos fãs.
Quem também ajudou foi "Demon Slayer". A adaptação feita pelo estúdio ufotable de um mangá publicado também na Shonen Jump foi uma comoção mundial. Animes como "Demon Slayer" e "Jujutsu Kaisen", além dos que vieram antes, deram um recado claro aos estúdios: os fãs estão dispostos a acompanhar suas histórias através de temporadas mais espaçadas, e eles apreciam uma animação mais trabalhada.
E "One Piece" tentou embarcar nessa tendência em junho de 2019, quando começou o arco de Wano. Agora, com direção assinada por Tatsuya Nagamine (que teve passagens por "HeartCatch Precure" e "Dragon Ball Super"), o anime apostou em uma linguagem visual mais elaborada, com efeitos visuais mais deslumbrantes e uma evolução no combate.
"One Piece" se tornou um "filme semanal". O nível de animação não devia a qualquer produção cinematográfica de anime, tamanha qualidade. Quando a série chegou na transformação de Luffy em Gear 5th os fãs foram surpreendidos ainda mais com uma animação fluida, ágil, caótica e cheia de homenagens a desenhos animados antigos.
O resultado era impressionante, ainda mais em se tratando de uma série sem intervalos, de exibição ininterrupta.
A conta chegou?
O problema é que aparentemente é inviável conduzir uma animação semanal dessa forma. "Demon Slayer" e "Jujutsu Kaisen" podem fazer cenas extremamente bem animadas por terem um calendário de exibição mais flexível, às vezes ficando um ano inteiro sem exibir episódios inéditos. Já "One Piece" está lá na grade da emissora japonesa toda semana.
Com o mangá de "One Piece" ganhando menos capítulos (afinal, o Eiichiro Oda também precisa descansar), o anime foi ficando cada vez mais lento de narrativa para não correr o risco de alcançar o mangá. Os episódios do anime então eram um paradoxo em si mesmo: embora fossem super corridos e movimentados, pouco se via a história andando.
Dessa forma, a decisão foi interromper o arco atual de Egghead e exibir uma nova versão da Ilha dos Homens-Peixe, reeditada em menos capítulos (foi de 56 para 21) e com um filtro de imagem que deixa o anime antigo com uma aparência mais atual. Também serão inseridos alguns efeitos visuais atualizados nos combates, com mais brilhos, sombras e partículas.
Pelo menos os fãs ganharam um presentão de despedida, pois a Toei animou com muita qualidade o especial "One Piece Fan Letter" para encerrar a transmissão. Neste curta acompanhamos a história de uma garota que é fã da Nami e deseja entregar uma carta a ela.
O retorno de "One Piece" com episódios inéditos se dará só em abril de 2025, mas já foi avisado que o anime terá uma mudança de horário de exibição. A dúvida que fica é se seguiremos com uma exibição semanal, no mesmo esquema da anterior, ou se teremos mudanças e "One Piece" se tornará um anime de exibição em temporadas, dando mais tempo para uma produção daquela magnitude não levar à estafa seus animadores. Teremos resposta apenas em abril de 2025.
Onde assistir?
Os episódios reeditados de "One Piece" devem ser lançados na Crunchyroll e Netflix, que já vinham lançando os episódios semanais do arco Egghead. O já citado especial "One Piece Fan Letter" está disponível também nesses dois streamings.
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