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OPINIÃO

Ninguém cantou mais 'Ave-Maria' em casamentos de famosos do que Rayol

Agnaldo Rayol Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Cristina Padiglione

Colaboração para Splash, em São Paulo

04/11/2024 17h00Atualizada em 04/11/2024 17h56

Não havia quem convidasse Agnaldo Rayol para uma cerimônia de casamento esperando dele algum presente convencional. O cantor, também apresentador de sucesso nos áureos tempos da TV Record, nos anos 1960 e 1970, era o mais requisitado em ocasiões solenes religiosas para cantar a "Ave-Maria".

Em geral, ele não se limitava ao clássico de Gounod e engatava outras canções no repertório, sob encomenda dos anfitriões, o que se tornava uma lembrança inestimável e fora do alcance para os demais convidados. Esteve também em muitos casamentos como contratado de fato, sob bom cachê, mas atuou de graça para vários amigos.

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"Todo mundo que casava na Record, lá estava ele cantando a 'Ave-Maria'", lembrou Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, dono da Rádio Jovem Pan. Filho de Paulo Machado de Carvalho, fundador da TV Record, Tuta falou sobre Agnaldo Rayol em diversas edições do programa Dois Diretores em Cena (disponível em podcast), que ele apresentava com Nilton Travesso no início da década passada.

Travesso e Tuta lembram que Agnaldo cantou, inclusive, nos casamentos de suas filhas, Camila e Nina, respectivamente, sem cobrar cachê.

Durante a pandemia, viralizou na internet um vídeo em que Agnaldo Rayol canta a "Ave-Maria" e outras canções da liturgia católica diretamente da janela de seu apartamento, em Santana, na zona norte de São Paulo, onde viveu seus últimos anos e onde Agnaldo sofreu a queda que motivou sua morte, nesta segunda-feira (4).

O drama de contar com Agnaldo Rayol cantando nos casamentos era saber que os convidados desviariam seu foco de atenção dos noivos para o cantor, irrepreensível no tom e na afinação, mesmo com o avançar da idade, fator que inevitavelmente gera desgaste nas cordas vocais.

Travesso lembra que no casamento de sua filha, por exemplo, a igreja toda ficou de costas para os noivos, a admirar o cantor, que acompanhava os músicos no Coro Alto, ao fundo do recinto.

BOM ANFITRIÃO

Astro na extinta TV Tupi e da TV Record da era Machado de Carvalho, foi Agnaldo Rayol quem deu abrigo ao carioca Ronnie Von em seus primeiros meses na capital paulista, como o próprio Ronnie Von lembrou nesta segunda, em vídeo postado em seu perfil no Instagram, lamentando a morte do amigo.

Ronnie morou em uma casa de Agnaldo Rayol na região da Vila Nova Conceição. A pedido do hóspede, Agnaldo encontraria, meses depois, um apartamento para ele na avenida Santo Amaro. Bom anfitrião, gostava de oferecer reuniões e jantares em sua casa.

Com Renato Corte Real, outro ídolo da Record da época, apresentou o programa Corte Rayol Show, palco por onde passaram os maiores nomes da música da época, todos contratados pela mesma Record —a saber: Elis Regina, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléia, Mutantes, Jair Rodrigues, Wilson Simonal, Caçulinha, Lúcio Alves e o próprio Ronnie Von, entre outros.

Foi no Corte Real Show que Hebe Camargo, afastada da TV após ter se casado com Décio Capuano, seu primeiro marido, ressurgiu, como inicialmente convidada, apresentando seu bebê de 30 dias, Marcello Camargo Capuano.

Assim que ela saiu de cena e se dirigiu ao camarim, encontrou lá o dono da casa, Paulo Machado de Carvalho, a sua espera. Ele perguntou se ela não queria voltar para a TV. Ela cedeu ao chamado, o que acelerou o fim do casamento e seu reinado na TV.

Agnaldo Rayol e Ronnie Von Imagem: Revista Intervalo

INSPIROU ROBERTO CARLOS?

Também foi no Corte Real Show que Aguinaldo Rayol criou o hábito de pedir que a mulherada da plateia levasse flores ao programa. "Ele pegava aquela tonelada de flores no palco, dava um beijinho em cada uma e jogava para a plateia. Acho que o Roberto Carlos pegou isso dele", disse Travesso, ainda no Dois Diretores em Cena.

Sempre afável no trato, Agnaldo Rayol era receptivo nas brincadeiras e piadas promovidas por amigos como Hebe e Ronald Golias, que chegava a lhe bater de verdade com guarda-chuva nas costas quando encarnava o lendário Bartolomeu Guimarães, icônico personagem do comediante.

Também atuou em novelas —como a primeira versão de "As Pupilas do Sr. Reitor" (1970), na Record, e colocou a voz em várias outras. Já nos anos 1990, Agnaldo Rayol ressurgiu após um período de ostracismo graças a Benedito Ruy Barbosa. Em "Renascer", cantou "Em Nome do Amor" (César Augusto e Pika), uma pegada mais popular.

Voltaria à trilha sonora do autor no folhetim seguinte, "O Rei do Gado" (1996), com "Mia Gioconda", de Vicente Celestino, gravada com Chrystian e Ralf, e em "Terra Nostra" (2000), com "Tormento d'Amore" (Luiz Schiavon, Marcelo Barbosa e Antonio Scarpellini), em dueto com Charlotte Church na abertura, um sucesso incontestável.

Nascido no Rio de Janeiro, Agnaldo Rayol dizia ser "cidadão paulistano com muita honra, de título recebido" na Câmara de Vereadores. "São Paulo é minha terra, São Paulo me abriu tudo, me abriu janela, me abriu porta", falou, em depoimento à Jovem Pan.

Apesar do grande sucesso reportado pela Record, seu início se deu na TV Tupi, onde se apresentou em outubro de 1957, quando esteve em São Paulo pela primeira vez. Bonito e com aquele vozeirão, foi interpelado já no intervalo comercial pelo próprio Cassiano Gabus Mendes, diretor da emissora de Assis Chateaubriand, para comandar um programa na casa. Nem disco ele havia gravado ainda.

Entre Tupi e Record, passou também a fazer um programa de rádio em Porto Alegre, onde se impressionou com uma cantora até então desconhecida. Seu nome? Elis Regina, com quem, mais tarde, dividiria o microfone em várias interpretações na Record, com programas como O Fino da Bossa, Show do Dia 7 e no seu Corte Rayol Show.

Agnaldo Rayol era figura bem-vinda nas celebrações alheias, sendo assíduo frequentador das disputadas pizzas promovidas pelo apresentador Fausto Silva em sua residência. Onde quer que fosse, não havia quem não se derretesse pela voz, pela gentileza e o sorriso do barítono.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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