Agnaldo Rayol rejeitou novos caminhos e decidiu envelhecer com seu público
Uma voz impressionante na música brasileira, Agnaldo Rayol foi um cantor que decidiu envelhecer com seu público. Sucesso desde muito jovem pela afinação perfeita e um jeito de galã, ele não procurou novos caminhos quando chegou à maturidade e sua opção por cantar clássicos românticos das décadas de 1940 a 1960 não encontrava repercussão entre os mais jovens. Foi fiel a seu estilo, seguido por fãs maduras.
Ele não gostava que se referissem a ele como Rayol. Preferia "Agnaldo", como era chamado aos berros pelas fãs enlouquecidas que adoravam seu repertório com predominância de canções italianas e muitas de temas religiosos. Cantar "Ave Maria" era tão essencial em seus shows como "(I Can't Get No) Satisfaction" é para os Rolling Stones.
Agnaldo morreu nesta segunda-feira (4), aos 86 anos. De madrugada, sofreu uma queda no banheiro de sua casa, no bairro de Santana, zona norte de São Paulo. Teve num corte profundo na cabeça e, levado ao hospital, não resistiu.
Agnaldo Coniglio Rayol nasceu no Rio de Janeiro, em 1938, e depois se mudou para o Rio Grande do Norte. Lá começou a exibir sua voz de barítono em programas de rádio. Aprendeu canto lírico e sua preocupação inicial era apenas com a excelência da voz. Voltou ao Rio para tentar a carreira, mas acabou contratado pela TV Tupi, em São Paulo, para onde se mudou em 1957.
Queria ser apenas cantor, mas os amigos e colegas o incentivaram a aparecer na TV, por ser "alto e bonito". Logo caiu nas graças de produtores e em pouco tempo já apresentava programas na Record. Chegou a ter uma atração só sua, Agnaldo Rayol Show, mas a maior repercussão foi com Corte Rayol Show, no qual dividia apresentação e atuações com o ator cômico Renato Corte Real, nome do primeiro time na TV da época.
Começou nas novelas em 1964, com o folhetim "Mãe", na TV Excelsior. Desempenhou outros papéis e viu sua popularidade disparar em 1970, quando participou de "As Pupilas do Senhor Reitor", na Record. Depois aceitou poucos convites para teledramaturgia. O público adorou seu trabalho na novela "Os Imigrantes" (1981), na Bandeirantes.
A carreira fonográfica, iniciada em 1958 e depois turbinada pelo sucesso na gravação "Acorrentados", em 1963, começava a mostrar decadência nos anos 1980. Para muitos, Agnaldo precisaria "se reinventar", buscar de alguma maneira uma modernização em seu repertório. E ele fez exatamente o caminho oposto.
A partir de 1983, comandou durante oito anos o programa Festa Baile, um sucesso das noites de sábado na TV Cultura. Ele ajudou a levantar o ibope do programa ao substituir o veterano Francisco Petrônio na apresentação. Agnaldo e Claudia Matarazzo conduziam a atração, gravada no clube Tietê, mostrando canções nostálgicas nas vozes de artistas veteranos acompanhados da orquestra do maestro Sylvio Mazzuca. E, claro, sempre com Agnaldo cantando uma ou duas músicas. Um programa praticamente proibido para menores, porque atendia a um público que voltava no tempo, ouvindo canções guardadas em sua memória afetiva.
A partir da década seguinte, concentrou suas atividades em shows, que sempre tinham alguma ligação com a música italiana ou com a religião católica. Com o perfeito italiano aprendido com a mãe, ele teve dois hits nacionais em canções que fizeram parte de novelas da TV Globo.
"Mia Gioconda" ganhou o Brasil com o sucesso da novela "O Rei do Gado" (Globo), que foi ao ar em 1996. Por causa disso, foi escalado para cantar a música de abertura da novela "Terra Nostra", em 1999. Dessa vez numa parceria Internacional. Ele foi a Londres gravar um dueto com a soprano Charlotte Church.
Sua discografia abrange 60 gravações, entre álbuns, compactos duplos e singles. Nos sebos, sua obra mais procurada é o álbum "Quero Lhe Dizer Cantando", de 1968, que chegou a ter um exemplar vendido a R$ 450 no ano passado.
Sua última participação na TV foi em 2017, num episódio da série "Mister Brau", da Globo, estrelada por Lázaro Ramos e Thaís Araújo. No cinema, atuou em 13 filmes entre 1949 e 1976. O de maior sucesso foi uma produção feita especialmente para aproveitar seu sucesso como cantor-galã, um filme de aventura chamado "Agnaldo, Perigo à Vista", de 1968.
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