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Leticia Isnard, de 'Avenida Brasil', vira cantora de axé em peça teatral

Leticia Isnard interpreta cantora de axé na peça teatral 'Mostra Tua Cara' Imagem: Divulgação

De Splash, no Rio

10/11/2024 05h30

Ivana em "Avenida Brasil", a atriz Leticia Isnard celebra a chegada aos 50 anos em cartaz com a peça "Mostra Tua Cara", até 10 de dezembro, no Rio de Janeiro. Na produção, ela interpreta Rejane, uma cantora de axé sexy e inescrupulosa.

Questões sociais e políticas

"Mostra a Tua Cara" fala sobre o passado recente do Brasil. De quatro locais diferentes, quatro personagens revivem, por meio de diálogos fragmentados, o fim do regime militar no país e o começo da Nova República.

Ao falar dos absurdos ocorridos na esfera política e criminal desse período, nos deparamos com muitas semelhanças de processos recentes. É assustador como a história se repete, como os mecanismos se aprimoraram tecnologicamente, se sofisticaram, mas a violência, a exclusão social, a corrupção, a apropriação dos bens públicos, as mentiras permanecem e sempre com o mesmo objetivo: o continuísmo. Manter o poder e a riqueza nas mãos das mesmas famílias, dos mesmos setores sociais. Leticia Isnard

A história se passa no Rio no dia do assassinato de Paulo César Farias, 23 de junho de 1996. Em quatro bares diferentes, quatro personagens —um michê de sauna (Thadeu Matos), uma dona de casa classe-média (Ângela Rebello), um empresário (Alexandre Galindo) e uma cantora de axé (Letícia Isnard)— revivem os anos Collor e como estes mudaram suas vidas.

A atriz afirma que é uma festa, uma catarse crítica e, ao mesmo tempo, um desafio interpretar uma personagem tão oposta aos seus valores e posturas. "Busquei humanizá-la, diminuir a distância entre mim e ela. E nessa caminhada descobri que a função dela na história não é só representar a visão de mundo erotizada muito presente nos anos 1980 e 1990, mas expor a cultura do abuso que permeava a sociedade de maneira muito mais franca do que hoje em dia, até porque não tínhamos consciência disso, as práticas abusivas eram normalizadas, naturalizadas. Uma loucura."

50 anos de vida

Leticia, que completou 50 anos em outubro, vive um momento de reflexão e redefinições. "Minha filha vai completar 10 anos em dezembro e também entra numa outra fase, menos dependente, o que também reconfigurou a minha maternidade, o lugar que ela ocupa na minha vida atualmente. Volto a ter mais espaço pra dedicar a mim, aos novos projetos".

Ela conta estar reavaliado as escolhas que fez 20 ou 30 anos atrás, bem como as metas e conquistas alcançadas. "Se ainda quero as não alcançadas, quais os novos desejos... Não queria ter 20 anos novamente de jeito nenhum, me gosto muito mais agora, com a carga da jornada vivida. Difícil é lidar com as culturas da hipervalorização da juventude e do etarismo, ainda não sinto muito os seus efeitos, mas sei que na próxima década terei que me defrontar com essas questões. Esse é um desafio coletivo que teremos que encarar seriamente porque, no mundo todo, a longevidade está aumentando muito. E isso é ótimo".

O corpo começa a mudar, comecei a fazer musculação, estou detestando, mas entendo e aceito a necessidade de um fortalecimento específico para essa nova fase de mudança hormonal. Meu pai morreu com 48 anos, então a passagem do tempo adquiriu para mim uma perspectiva de vitória e não de derrota. Claro que as perdas do envelhecimento começam a se fazer mais presentes e isso requer adaptações, mas também acho que tem muitos ganhos. Leticia Isnard

"Avenida Brasil"

É impossível falar da trajetória de Leticia sem citar "Avenida Brasil" (2012). "Foi um marco, um grande encontro entre dramaturgia, elenco, direção e equipe. A mistura de comédia e drama no núcleo principal foi um achado. A experiência em teatro de boa parte do elenco da família Tufão permitiu que o jogo de improviso nas cenas familiares proposto pela diretora Amora Mautner acontecesse de maneira natural e muito divertida. Éramos felizes e sabíamos disso. É um dos trabalhos mais importante da minha carreira na TV e até hoje sou muito reconhecida por ele".

Comparando Rejane com Ivana, sua nova personagem no teatro, ela analisa semelhanças e diferenças: "O fato de serem vítimas de abuso é comum a ambas, mas suas personalidades e maneiras de lidar com isso são completamente opostas. Rejane é tosca, cínica, sonsa, de uma sensualidade grosseira, alpinista social, violenta, racista, mas também tem seu lado humano, frágil, infantil. Ivana também era infantilizada, mas tinha uma ingenuidade irritante, era profundamente bom caráter, mas completamente desamparada e carente".

SERVIÇO - "Mostra Tua Cara"

  • De 4 de novembro a 10 de dezembro, segundas e terças
  • No Teatro Firjan SESI Centro (Avenida Graça Aranha, 01, Cinelândia)
  • Ingresso a partir de R$ 20 (meia-entrada)

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