OPINIÃO
Álbum 'From Zero' é recomeço de luxo para fãs e para o próprio Linkin Park
Camila Monteiro
Colaboração para Splash, em São Paulo
15/11/2024 05h30
Ninguém esperava que Linkin Park retornasse em 2024, muito menos com uma mulher como vocalista principal e com um disco completo poucos meses depois do anúncio do retorno.
Em meio a surpresas e reações para lá de divididas, o grupo, que se apresenta em São Paulo nesta sexta (15) e no sábado (16), se lançou com maestria em uma nova etapa, do zero, com a ambição de misturar o velho com o novo, como explicou Shinoda em uma série de entrevistas que deu para divulgar essa nova fase.
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Perder um vocalista como Chester Bennington foi devastador, e só o tempo e uma repaginação poderiam testar as águas. Assim nasceu "From Zero", disco lançado nesta sexta-feira (15) e um dos melhores trabalhos de Linkin Park.
As já conhecidas "The Emptiness Machine" e "Heavy Is the Crown" foram acertos enormes como primeiro e segundo singles e dão o tom para essa nova etapa, que consegue misturar sonoridades mais clássicas do grupo com elementos novos, ambos mostrando todas as qualidades da nova vocalista, Emily Armstrong.
Vale lembrar que, antes de ser Linkin Park, o grupo foi Xero, e "From Zero" parece nos colocar de novo nesse início, um reset, ressignificando eras, músicas e direção que o grupo segue.
Com dez faixas, em pouco mais de meia hora o disco reitera a força de Shinoda como produtor e traz a marca registrada do grupo, que é misturar duas vozes distintas em um som pesado, melódico e feito para ser berrado a todos os pulmões em um grande estádio.
Os grandes destaques do disco são "Heavy Is the Crown", "Two Faced" e "IGYEIH". "Two Faced" é Linkin Park no seu melhor, com o icônico "disco riscado" de Joe Hahn. É daquelas músicas que definem muito o som do grupo; ela é muito Linkin Park, lembra por vezes "Faint" e é sem dúvidas a música mais "Hybrid Theory" e "Meteora" do disco. O videoclipe, que saiu recentemente, é igualmente ótimo.
"IGYEIH" (I gave you everything I have) é outra música que mostra a essência do Linkin Park, com Emily provando como é capaz de usar a voz de diferentes formas. E as mudanças entre ela e Shinoda são insanas. Ela repete a frase "from now I don't need you" mais de 15 vezes e funciona como um mantra de ódio e libertação.
É bastante interessante a decisão de colocar a sequência "Over Each Other", "Casualty" e "Overflow", três músicas completamente opostas em suas propostas; aqui percebemos a essência de "From Zero". É esse recomeço onde tentamos mais, somos abertos a experimentos, errando e acertando. Ver um grupo com o legado de Linkin Park traçando essa rota diz muito sobre o projeto.
"Overflow" chama atenção por destoar do resto do disco, parece pertencer ao "A Thousand Suns". Mas existe uma razão de ela estar ali, e essa razão é mostrar como Emily é extremamente competente como vocalista.
"Cut the Bridge" poderia ser engolida, por estar entre "The Emptiness Machine" e "Heavy Is the Crown", mas tem um dos refrões mais marcantes do disco. "Stained" pode não funcionar muito na primeira audição, mas é daquelas músicas que crescem muito conforme escutamos repetidamente. É feita para estourar em rádios.
A última faixa, "Good Things", é provavelmente o melhor fim de álbum do grupo desde "Numb" em "Meteora". O flow de Shinoda é destaque (lembra o trabalho solo dele em "Post Traumatic") e a letra reflexiva, o dueto dele com Emily, tudo funciona e finaliza em alto nível um disco excelente.
Depois de sete anos, receber um disco com a qualidade de "From Zero" é um presente não só para os fãs mas para o rock de forma geral. O Linkin Park sempre teve a maestria de se apropriar do nu metal e deixá-lo popular, e esse álbum é uma celebração junto aos fãs.
Ninguém sabia o que aconteceria com a ausência de Chester, e começar do zero é a forma mais Linkin Park de lidar com a dor que sempre estará lá.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL