Por que a imprensa odiou o último capítulo de 'Alma Gêmea' em 2006?
Clara Ribeiro
Colaboração para Splash, em São Paulo
26/11/2024 12h00
"Alma Gêmea" foi um surpreendente sucesso de audiência em sua exibição original na faixa das seis entre 2005 e 2006, desde sua estreia até o final. O último capítulo da trama de Walcyr Carrasco alcançou 53 pontos, com picos de 56, na Grande São Paulo —índice que só era visto em novela do horário nobre da Globo. Na época, cada ponto correspondia a 52,3 mil domicílios.
Apesar dos excelentes números, com milhares de televisores ligados para ver o destino de Serena (Priscila Fantin), Rafael (Eduardo Moscovis) e Cristina (Flávia Alessandra), o desfecho do folhetim não foi enxergado com bons olhos pela crítica. Sem exageros, boa parte da imprensa de fato odiou o capítulo que encerrou "Alma Gêmea". Jornais do Brasil inteiro dedicaram espaço para avaliar o final da trama de época.
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Antagonista detonada
Um dos pontos destacados pela imprensa, de modo geral, foi o sucesso de Cristina, vilã vivida por Flávia Alessandra. Adorada pelo público, a personagem morre no último capítulo ao ser puxada por um "espírito do mal" para dentro de um espelho em meio a um incêndio. Antes disso, a malévola dispara um tiro contra Serena, mas Rafael entra na frente e é baleado no lugar de seu grande amor. Em seguida, Serena tem um ataque fulminante do coração.
O sucesso da antagonista não foi aplaudido pela imprensa. À época, para Bia Abramo, colunista da Folha de S.Paulo, Cristina foi acolhida pelos telespectadores por uma falha no enredo principal: o desmedido ar romântico.
O fato de a malvadona estar concentrando as atenções pode indicar que a aposta no ultrarromantismo tenha sido excessiva e deslocada Bia Abramo, Folha de S.Paulo, 2006
A própria intérprete de Cristina, Flávia Alessandra, não foi poupada pela jornalista da Folha. Uma vilã tão bem talhada que até deu uma sobrevida à carreira, de resto inexpressiva, de Flávia Alessandra.
Mensagem 'dispensável' e medo de uma continuação
As passagens de tempo ocorridas no último capítulo também foram detonadas pela imprensa. Após as trágicas mortes dos protagonistas, Rafael e Serena, passam-se os anos e os personagens aparecem mais velhos. Em uma das sequências finais, Terê, menino órfão (Davi Lucas) adotado por Serena e Rafael, fica novamente sozinho no mundo. Ele ressurge na pele do ator Ângelo Paes Leme.
Terê se torna escritor e, ao lançar seu primeiro livro, é o responsável por proferir a mensagem final da história criada por Walcyr Carrasco. "É a história de duas almas gêmeas, duas almas que não podem se separar por toda a eternidade. Eu escrevi essa história, mas, na verdade, fui um canal de um mistério maior. Coração, esperança... não morrem? Eu sei que eu, você, todos nós... vamos nos encontrar muitas vidas, aqui, na eternidade", discursa Terê, quebrando a quarta parede.
Tais cenas não passaram batido para alguns críticos, como foi o caso de Dirceu Alves Jr., jornalista da revista Istoé Gente. "Soou exagerado, com um salto de tempo inverossímil e uma mensagem espiritualista dispensável, mas nada que tenha tirado o brilho da trama."
Já Tomas Villena, do Jornal do Brasil, além de criticar a caracterização e a mensagem final, ainda rechaçou a possibilidade de "Alma Gêmea" ganhar uma continuação. Afinal, outra passagem de tempo mostra Rafael e Serena juntos em outras vidas.
Conseguiram enfeiar todo o elenco. Um exagero. A mensagem do autor foi uma tristeza. E chega 2006, com Rafael reencontrando Serena. Será que vai dar mais uma novela? Espero que não! Tomas Villena