OPINIÃO
Novo 'Moana' revela a dor e a beleza de deixar quem se ama para trás
"Moana 2" chegou aos cinemas e, se no primeiro filme acompanhamos os anseios da protagonista de viver uma aventura para além do oceano seguindo seus ancestrais, agora o desafio é outro. A heroína precisa não apenas quebrar a maldição que envolve seu povo, mas também deixar para trás Simea, sua irmã mais nova por quem tem um grande amor.
Três anos se passaram desde a última jornada e agora a jovem polinésia recebe um chamado de seus ancestrais para voltar às águas da Oceania. Moana precisa se jogar no desconhecido para conseguir libertar seu povo, mas em nenhum momento esquece de sua irmãzinha. O amor das duas, inclusive, a move para seguir e alcançar o objetivo.
Desta maneira, "Moana 2" faz o que poucas animações da Disney fizeram até hoje: deixa de lado a possibilidade de um amor romântico e foca em uma relação orgânica, de duas irmãs que se amam e criam um sentimento de respeito e carinho uma pela outra. (Se você pensou em "Frozen" aqui, lembre-se de Kristoff.) Para sempre se sentir conectada a Simea, a heroína leva consigo uma concha, presente da criança, usado como uma espécie de talismã.
A relação das duas foi inspirada pela conexão entre os filhos do co-diretor David G. Derrick Jr. Ele contou a Splash ter observado sua filha mais velha, também chamada Simea, de 21 anos, sofrendo ao deixar o irmão, Quentin, de 7. A ligação entre os dois emocionou Derrick a ponto de entrar no filme para mostrar que "independentemente de para onde Moana vá, estará conectada com a irmã pelo oceano".
Não é preciso ter uma relação estritamente fraterna para se colocar no lugar de uma das duas, seja de quem vai ou de quem fica. Ver quem amamos estar fisicamente longe não é nada fácil, mas o filme tem o papel de lembrar a quem assiste de que sentimentos vão além, e não é a presença física que quantifica e qualifica o que é o amor.
Em "Moana", o mar é um personagem e exerce o papel de comunicação não apenas entre a heroína e a irmã, mas também entre Moana e seus ancestrais. A ode à ancestralidade é algo bastante importante para as culturas polinésias, as quais inspiraram a narrativa da obra.
Por isso, neste segundo filme, a avó da protagonista volta mais uma vez como a voz da sabedoria, alguém que protege Moana e a guia, mesmo não estando mais viva. Mais uma vez, sua presença é mostrada como algo superior, como se, ao morrer, ela se tornasse ainda mais sábia, ao lado dos grandes anciãos e antepassados —como o lendário Tautai Vasa, o grande navegador que guia a heroína.
O conflito entre o futuro e o passado é demonstrado por meio dos diferentes conselhos e pedidos que Moana recebe. Se por um lado o futuro, representado por Simeá, se vê com medo do desconhecido e da possibilidade de nunca mais ver a irmã, o passado, na figura de sua avó, sabe ser preciso enfrentar desafios e se jogar além do que sabemos para não apenas descobrirmos, mas evoluirmos.
"Moana 2" brilha ao conseguir, por meio de uma animação, transparecer ao público os diferentes sentimentos da protagonista sobre a difícil decisão de ficar ou partir. Moana percebe que sua evolução está não apenas no nível do desafio que enfrentará, mas também está na noção do que pode perder caso falhe.
O filme é maduro o bastante para não fazer promessas que não podem ser cumpridas, então não diz nem ao espectador, nem à própria Moana que o resultado de sua aventura será positivo. Ao contrário, o longa deixa claro que é preciso se aventurar no desconhecido a fim de evoluir, mesmo que isso signifique sacrificarmos aquilo que amamos.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL